Père Lachaise: criado seguindo
o ideal de igualdade da revolução francesa.
Após a Revolução Francesa, em 1789, os novos líderes da
França tiveram a idéia de construir um cemitério diferente em Paris. Não dava
mais para seguir enterrando ricos atrás das igrejas e pobres em seu destino
mais comum, as valas sem identificação. Foi assim que surgiu, em 1804, por
ordem de Napoleão Bonaparte, o Père Lachaise, primeiro cemitério laico e
primeiro jardim público da cidade, no qual qualquer pessoa poderia entrar.O nome veio do jesuíta Père François de La Chaize, com quem Luís XIV, o Rei Sol, costumava se confessar. O terreno era propriedade dos jesuítas até 1762 – nesse ano, eles foram expulsos da França e o lugar ficou sem proprietário. Mas o cemitério demorou a cair no gosto dos parisienses. Ficou vazio até 1817, quando a administração da cidade resolveu passar para lá os restos mortais dos escritores Molière e La Fontaine. Deu certo. O espaço passou a ser disputado entre os burgueses e enterrar gente famosa ali virou moda.
Hoje, o Père Lachaise é um museu a céu aberto sobre a história da França e da cultura ocidental. Recebe 2 milhões de turistas por ano. Tem 690 mil monumentos funerários, que abrigam filósofos como Auguste Comte, pintores como Modigliani, figuras da música que vão de Chopin a Jim Morrison. Também há cantoras, como Maria Callas, alas para heróis militares e políticos, além do túmulo do célebre casal medieval Aberlardo e Heloísa.
Museu de túmulos
Dois milhões de turistas visitam o cemitério todos os anos.
1. Abelardo (1079-1142) e Heloísa (1101-1164)
Protagonista do caso de amor mais trágico da Idade Média, o
filósofo francês Abelardo, que enfatizava a razão sobre a fé, foi condenado por
heresia em 1140. Apaixonado por sua aluna Heloísa, casou com ela em segredo.
Quando a família dela descobriu, Abelardo foi castrado e nunca mais a viu.
Viveu monasticamente por mais dois anos até sua morte, aos 63. Antes de morrer,
Heloísa pediu que fosse enterrada ao lado do amado. Seu último desejo foi
atendido.
2. Jim Morrison (1949-1971)
Esta é a relíquia que mais dá dor de cabeça à administração
do cemitério – a ponto de ter vigilância o dia todo. Tudo porque, em 1991, no
20o aniversário da morte do líder da banda The Doors, uma multidão de fãs
alucinados foi visitar o túmulo – a polícia teve de usar bombas de gás. Jim
Morrison morreu em julho de 1971, na banheira de sua casa, vítima, segundo os
médicos, de coma alcoólico.
3. Frédéric Chopin (1810-1849)
Contrariado com as revoluções populares na França, onde
morava, o compositor polonês Chopin abandonou os recitais parisienses em 1848,
partindo para a Inglaterra e Escócia. Lá, difundiu ainda mais sua fama. Cada
vez pior por causa da tuberculose, voltou a Paris em novembro, morrendo no ano
seguinte. Seu túmulo, a principal atração de uma viela de compositores do
cemitério, é o mais visitado pela comunidade polonesa.
4. Auguste Comte (1798-1857)
Considerado o pai da sociologia, Comte sofria de depressão
profunda, tentou o suicídio diversas vezes e morreu sozinho, de gripe. Depois
da morte da mulher, Clotilde, passou a divulgar sua corrente filosófica, o
positivismo, como religião. Seu cortejo foi acompanhado, além dos amigos, por
quatro mulheres – entre elas, a escritora luso-brasileira Nísia Floresta.
5. Édit Piaf (1915-1963)
A cantora francesa jaz no mesmo túmulo ocupado por quatro
familiares. Filha de um acrobata alcoólatra, Édit cantou na rua dos 16 aos 20
anos, até ser descoberta, cantar em cabarés e virar amiga de poetas e escritores
franceses. Morreu de câncer no fígado. Seu enterro causou o primeiro grande
congestionamento em Paris desde a Segunda Guerra Mundial.
6. Oscar Wilde (1854-1900)
Autor do livro O Retrato de Dorian Gray, o escritor irlandês
ficou dois anos na cadeia por causa de seu homossexualismo – saiu de lá em
1897. Morreu em Paris, miserável, de meningite, três anos depois (ele também
tinha sífilis). Seu túmulo tem um anjo com um grande pênis – o membro já foi
roubado diversas vezes. A escultura também recebe vários beijos com batom dos
visitantes.
7. Sarah Bernhardt (1844-1923)
Amiga de Oscar Wilde e uma das primeiras celebridades
mundiais, a atriz francesa, a predileta do imperador Napoleão III, causou
polêmica na virada do século 20 por usar calças, interpretar homens e ter
amantes mulheres. Representante do imperialismo cultural francês da época,
Sarah veio três vezes ao Brasil. Durante uma peça de teatro no Rio de Janeiro,
em 1905, levou um tombo no palco que abalaria sua saúde para sempre. Depois de
ter a perna amputada em 1915, morreu de problemas renais.
8. Marcel Proust (1871-1922)
A proximidade da morte foi corriqueira na vida do autor de
Em Busca do Tempo Perdido. Em 1905, após receber uma fortuna de herança de sua mãe e cada vez mais
doente e alquebrado, recolheu-se a sua casa, em Champs Elysées, em Paris, e
escreveu os sete volumes de sua obra-prima (Proust considerou a obra acabada
várias vezes, para depois voltar a dar retoques nela). Viveu meio enclausurado
até sua morte, de bronquite.
9. Allan Kardec (1804-1869)
Fundador do espiritismo – cujo túmulo é o mais visitado
pelos brasileiros –, Kardec, ou Hyppolyte Leon Denizard Rivail, foi um cético
professor de física, química, linguística e astronomia. Em 1854 deparou com
fenômenos estranhos, como mesas que se
mexiam sozinhas. Estudou os fatos e escreveu O Livro dos Espíritos. Kardec
morreu do coração.
10. Honoré de Balzac (1799-1850)
O grande novelista da vida social francesa, autor de A
Comédia Humana, escreveu uma das cenas do livro O Pai Goriot no próprio
cemitério onde hoje está enterrado. Viciado em café e em escrever, Honoré de
Balzac trabalhava normalmente durante 15 horas por dia. Em 1849, ele decidiu
largar o trabalho e ir para a Polônia, em busca da dama polonesa Eveline
Hanska. Morreu três meses depois de se casarem. Jaz em um túmulo adornado por
um busto feito pelo escultor Auguste Rodin.
Aventuras na História n° 031
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