Órgão criado pelo
governo militar está por trás dos problemas entre grileiros, colonos e
missionários.
O Brasil voltou a ser notícia no mundo pelo assassinato, em
12 de fevereiro deste ano, da freira norte-americana Dorothy Stang, 73 anos, em
Anapu, Pará. Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi preso, acusado de ser o
mandante. As investigações apontam ainda o fazendeiro Luiz Ungaratti como o
patrocinador. Aparentemente simples de ser solucionado, o crime traz à tona um
conflito de cerca de 40 anos – que data de 1966, quando surgiu a Sudam
(Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia), órgão criado pelo governo militar para financiar latifúndios
agropecuários voltados para a exportação.Como assim? No Pará, duas forças se opõem. De um lado, os migrantes do Nordeste e do Sul, que quintuplicaram a população desde 1950, em busca de um pedaço de chão. De outro, a Sudam: dos seus mais de 1 200 projetos, 30% foram implantados no Pará. O choque foi inevitável. “Os fazendeiros expulsam as antigas famílias de suas terras. Isso revela a lógica da Sudam: promover o desenvolvimento com poucas famílias, empurrando dezenas para as periferias urbanas”, diz Felício Pontes, procurador da República no Pará. Um desses encontrões aconteceu em Anapu, onde a irmã Dorothy lutava pelo assentamento de colonos contra fazendeiros beneficiados pelo órgão.
O mapa do conflito
A briga acontece em
pelo menos três regiões do Pará.1. Santarém
A região de Santarém, Alenquer e Monte Alegre: foco de brigas constantes.
2. Anapu
No centro do Pará, mais conflitos ao longo da Transamazônica e em Anapu.
3. Marabá
Na fronteira com Tocantins, posseiros e grileiros também se desentendem.
Quem é quem
A SudamOferecia o pagamento de 50% das despesas a latifúndios na Amazônia. Só que fazia vista grossa a duas distorções: dava dinheiro a fazendeiros com títulos de terra ilegais e não fiscalizava os financiamentos, muitas vezes desviados.
Os grileiros
São os fazendeiros. Com títulos de propriedade maquiados, quase sempre vindos de outros Estados, conseguiam benefícios da Sudam. “A corrupção começava nos cartórios, que davam documentos falsos”, diz Felício Pontes.
Os colonos
São as maiores vítimas. Vindos do Sul e Nordeste, chegam apoiados por órgãos do governo, como o Incra, ou levados pelo sonho da roça própria. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, o Pará detém 35% das mortes no campo.
Os missionários
Religiosos do mundo todo vão ao Pará para ajudar os oprimidos e pela democratização da terra. São santos para os colonos e o “capeta” para os grileiros. “Dizem para eu me cuidar”, diz frei Henri Des Roziers, ameaçado de morte.
Os índios
Grileiros, madeireiros e garimpeiros querem o mesmo que eles: terra. Disso resulta a redução das áreas demarcadas, caso da Reserva do Baú, no sul do Pará, onde os caiapós abriram mão de 315 mil hectares por um pouco de paz.
Aventuras na História n° 021
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