quarta-feira, 25 de abril de 2012

Paulística


Tâmis Parron
Paulística etc. (Companhia das Letras) é uma reunião de ensaios que Paulo Prado lançou em 1925 e ampliou em 1934. Na República do café com leite, os estudos sobre as origens de São Paulo estavam em ebulição, e os heróicos bandeirantes habitavam todos os livros de história. O livro, que não escapou à tendência, herdou as marcas de sua época: enquanto reconstitui os tempos coloniais da antiga capitania, revela muito do começo do século 20, quando os conceitos de nação, raça e regionalismo conquistavam os corações (e as mentes) dos intelectuais.
“O Caminho do Mar”, primeiro ensaio do livro, é um bom exemplo dessa dualidade. Paulo Prado defende que São Paulo foi o berço de uma nova raça. Enfurnados na Serra do Mar e distantes de outras pessoas, europeus e indígenas teriam se cruzado até criarem um homem original: o mameluco. Inspirando-se em Euclides da Cunha, que descrevia seu sertanejo como “antes de tudo um forte”, Paulo Prado aplica o modelo à política: seu mameluco é antes de tudo um defensor da liberdade, que repudia as leis de ferro da metrópole. Para provar essa e outras hipóteses, o autor enfileira citações de documentos coloniais. Elas são, sem dúvida, os pontos altos do livro.
Mas Paulo Prado quase nunca dava as fontes que citava. Isso exigiu que o organizador da atual edição, Carlos Calil, enfrentasse a hercúlea tarefa de localizar livros, autores e trechos para reconstituir as centenas de citações segundo as normas. Calil também incorporou à edição outros ensaios de Paulo Prado, além das repercussões de Paulística etc. entre os intelectuais. Quem ganha é o leitor: entre os inéditos, há uma carta de Mário e outra de Oswald de Andrade. Dá-lhe, São Paulo!

Aventuras na História n° 018

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