Roberto Navarro
Era um impressionante conjunto de pavilhões e palácios que
foi o centro de poder do Império Chinês durante mais de meio milênio. Embora
sua construção tenha começado no século 13, as características atuais do lugar
só apareceram mais de 100 anos depois. "Na época, o imperador Yong Le
transferiu a capital de Nanquim para Pequim. Ele decidiu remodelar o complexo
com uma obra que durou de 1407 a 1420 e ocupou mais de 200 mil
trabalhadores", diz o jornalista brasileiro Jayme Martins, que viveu em
Pequim por mais de 20 anos. Essa suntuosa cidade era considerada
"proibida" porque o acesso era limitado a funcionários do governo e a
integrantes da família imperial.No lugar, a arquitetura e a disposição de cada edifício obedecem a tradicionais princípios de numerologia, mitologia e de Feng Shui, a milenar arte chinesa de criar ambientes com harmonia. Para começar, o desenho do complexo representa um diagrama cósmico que simboliza o Universo: todos os prédios principais estão voltados para o sul, em honra ao Sol (como a China fica no hemisfério norte, o sul é onde predomina o Sol). Além disso, a distribuição do espaço representaria o mítico Palácio Celestial, uma construção de 10 mil cômodos onde viveriam os deuses.
De acordo com a tradição, a Cidade Proibida teria um total de 9 999 cômodos e meio, pois a mitologia desaconselhava que os homens tentassem se equiparar à perfeição dos deuses. Apesar da importância da área, suas construções sofreram com a deterioração das estruturas e com incêndios acidentais ao longo dos séculos. Com a revolução que proclamou a república, em 1911, a Cidade Proibida deixou de ser a sede do governo da China, mas a família do último imperador, Aisin-Gioro Pu Yi, continuou vivendo até 1924 no local. Declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987, a área hoje abriga um concorrido museu que recebe até 50 mil visitantes por dia.
Capital ancestral
Conjunto de palácios
e pavilhões foi o centro do poder chinês por mais de 500 anos.
MAPA DA METRÓPOLE
Localizada no coração
de Pequim, a Cidade Proibida abrangia um conjunto de edifícios espalhados por
uma área de 720 mil metros quadrados, protegida por uma muralha com mais de 10
metros de altura e um fosso cheio d’água, com 6 metros de profundidade. A
entrada se dava por quatro portais, um em cada ponto cardeal. Confira no mapa
abaixo e nos desenhos os edifícios mais importantes.
1. PORTAL MERIDIONAL
Erguido em 1420, o
acesso principal da Cidade Proibida tinha cinco arcos de passagem. A abertura
do meio era exclusiva do imperador — as imperatrizes só podiam usá-la uma única
vez, no dia do casamento. Dali, o imperador anunciava o novo calendário no
início de cada ano, assistia ao desfile das tropas e julgava prisioneiros.
2. PAVILHÃO DA PRESERVAÇÃO DA HARMONIA
Até o século 18, esse
aposento era usado principalmente para os banquetes imperiais. Mas a partir de
1789 o salão tornou-se o local onde aconteciam os chamados "exames
palacianos", algo como um concurso público em que vários candidatos
concorriam a altos cargos governamentais e administrativos do Império.
3. PAVILHÃO DA PUREZA
CELESTIAL
Queimado em incêndios
e restaurado três vezes desde a inauguração em 1420, esse edifício serviu até o
século 17 como residência oficial do imperador, que lá cuidava dos assuntos de
rotina do governo instalado em outro de seus tronos. Os terraços abrigavam esculturas
de bronze de tartarugas, simbolizando longevidade, e uma concha para medir
cereais, representando a justiça.
4. PAVILHÃO DA
SUPREMA HARMONIA
O maior e mais alto
salão da Cidade Proibida foi finalizado em 1420 e restaurado várias vezes
depois. Com cerca de 2 400 metros quadrados e 35 metros de altura, esse
pavilhão era o centro da corte. Lá aconteciam as mais importantes cerimônias de
Estado, como o aniversário e o casamento do imperador. O lugar também guardava
o trono principal, de onde o imperador governava.
5. PAVILHÃo DA
HARMONIA CENTRAL
Era uma espécie de
quarto do imperador, onde ele dormia e se vestia antes das cerimônias. Em
outros cômodos, o governante recebia autoridades estrangeiras, examinava
amostras de sementes para as plantações da nova safra e discursava aos seus
filhos, nascidos de várias esposas oficiais e de concubinas.
6. PRAçA E PORTAL DA
SUPREMA HARMONIA
A maior praça do
complexo era onde a nobreza jogava pólo a cavalo e a Guarda de Honra
alinhava-se antes das cerimônias mais importantes. Cinco pontes de mármore
cruzavam o riacho das Águas Douradas, conduzindo ao portal da Suprema Harmonia.
Essa estrutura, por sua vez, levava ao salão da Suprema Harmonia por meio de
três escadas — a central, como sempre, era só para o imperador.
Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004