quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O que era a Cidade Proibida na China?


Roberto Navarro
Era um impressionante conjunto de pavilhões e palácios que foi o centro de poder do Império Chinês durante mais de meio milênio. Embora sua construção tenha começado no século 13, as características atuais do lugar só apareceram mais de 100 anos depois. "Na época, o imperador Yong Le transferiu a capital de Nanquim para Pequim. Ele decidiu remodelar o complexo com uma obra que durou de 1407 a 1420 e ocupou mais de 200 mil trabalhadores", diz o jornalista brasileiro Jayme Martins, que viveu em Pequim por mais de 20 anos. Essa suntuosa cidade era considerada "proibida" porque o acesso era limitado a funcionários do governo e a integrantes  da família imperial.
No lugar, a arquitetura e a disposição de cada edifício obedecem a tradicionais princípios de numerologia, mitologia e de Feng Shui, a milenar arte chinesa de criar ambientes com harmonia. Para começar, o desenho do complexo representa um diagrama cósmico que simboliza o Universo: todos os prédios principais estão voltados para o sul, em honra ao Sol (como a China fica no hemisfério norte, o sul é onde predomina o Sol). Além disso, a distribuição do espaço representaria o mítico Palácio Celestial, uma construção de 10 mil cômodos onde viveriam os deuses.
De acordo com a tradição, a Cidade Proibida teria um total de 9 999 cômodos e meio, pois a mitologia desaconselhava que os homens tentassem se equiparar à perfeição dos deuses. Apesar da importância da área, suas construções sofreram com a deterioração das estruturas e com incêndios acidentais ao longo dos séculos. Com a revolução que proclamou a república, em 1911, a Cidade Proibida deixou de ser a sede do governo da China, mas a família do último imperador, Aisin-Gioro Pu Yi, continuou vivendo até 1924 no local. Declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987, a área hoje abriga um concorrido museu que recebe até 50 mil visitantes por dia.

Capital ancestral
Conjunto de palácios e pavilhões foi o centro do poder chinês por mais de 500 anos.

MAPA DA METRÓPOLE
Localizada no coração de Pequim, a Cidade Proibida abrangia um conjunto de edifícios espalhados por uma área de 720 mil metros quadrados, protegida por uma muralha com mais de 10 metros de altura e um fosso cheio d’água, com 6 metros de profundidade. A entrada se dava por quatro portais, um em cada ponto cardeal. Confira no mapa abaixo e nos desenhos os edifícios mais importantes.

1. PORTAL MERIDIONAL
Erguido em 1420, o acesso principal da Cidade Proibida tinha cinco arcos de passagem. A abertura do meio era exclusiva do imperador — as imperatrizes só podiam usá-la uma única vez, no dia do casamento. Dali, o imperador anunciava o novo calendário no início de cada ano, assistia ao desfile das tropas e julgava prisioneiros.

2. PAVILHÃO DA PRESERVAÇÃO DA HARMONIA
Até o século 18, esse aposento era usado principalmente para os banquetes imperiais. Mas a partir de 1789 o salão tornou-se o local onde aconteciam os chamados "exames palacianos", algo como um concurso público em que vários candidatos concorriam a altos cargos governamentais e administrativos do Império.

3. PAVILHÃO DA PUREZA CELESTIAL
Queimado em incêndios e restaurado três vezes desde a inauguração em 1420, esse edifício serviu até o século 17 como residência oficial do imperador, que lá cuidava dos assuntos de rotina do governo instalado em outro de seus tronos. Os terraços abrigavam esculturas de bronze de tartarugas, simbolizando longevidade, e uma concha para medir cereais, representando a justiça.

4. PAVILHÃO DA SUPREMA HARMONIA
O maior e mais alto salão da Cidade Proibida foi finalizado em 1420 e restaurado várias vezes depois. Com cerca de 2 400 metros quadrados e 35 metros de altura, esse pavilhão era o centro da corte. Lá aconteciam as mais importantes cerimônias de Estado, como o aniversário e o casamento do imperador. O lugar também guardava o trono principal, de onde o imperador governava.

5. PAVILHÃo DA HARMONIA CENTRAL
Era uma espécie de quarto do imperador, onde ele dormia e se vestia antes das cerimônias. Em outros cômodos, o governante recebia autoridades estrangeiras, examinava amostras de sementes para as plantações da nova safra e discursava aos seus filhos, nascidos de várias esposas oficiais e de concubinas.

6. PRAçA E PORTAL DA SUPREMA HARMONIA
A maior praça do complexo era onde a nobreza jogava pólo a cavalo e a Guarda de Honra alinhava-se antes das cerimônias mais importantes. Cinco pontes de mármore cruzavam o riacho das Águas Douradas, conduzindo ao portal da Suprema Harmonia. Essa estrutura, por sua vez, levava ao salão da Suprema Harmonia por meio de três escadas — a central, como sempre, era só para o imperador.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Todos os bichos têm sangue vermelho?


Não, nem todos. Apenas os vertebrados, com algumas exceções, têm sangue com essa coloração - provocada pela presença de células ricas em ferro, chamadas hemoglobina, que possuem o tom avermelhado. Os vertebrados, vale lembrar, dividem-se em cinco grandes grupos de animais: mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis. Já entre os seres invertebrados a coloração do sangue varia muito. Os crustáceos (caranguejos, siris, lagostas etc.) têm sangue com cor mais azulada, graças à presença de um pigmento chamado hemocianina.
Os insetos, por sua vez, possuem um tipo de sangue (chamado de hemolinfa) que pode ser amarelado, azulado ou esverdeado - em certas espécies de formigas ele pode até ser incolor. "Outra particularidade sobre o sangue dos insetos é que ele não corre dentro de um sistema de vasos pressurizados, como acontece  com nós, humanos, mas percorre amplos espaços e banha os vários órgãos, que são delimitados por membranas bem finas", afirma o entomologista (especialista em insetos) Sérgio Vanin, do Instituto de Biociências da USP. Como toda regra tem sua exceção, também entre os invertebrados existem espécies com sangue vermelho, como as minhocas e algumas larvas aquáticas de certos mosquitos.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Que seres vivem na areia da praia?


Yuri Vasconcelos
Muita gente nem imagina, mas nas praias arenosas vivem escondidas várias espécies marinhas. São animais difíceis de ver porque são muito pequenos - alguns até invisíveis ao olho nu - e porque vivem enterrados e camuflados. "Boa parte dos bichos tem coloração parecida com a da areia. Para identificar a presença deles, é mais fácil ficar atento aos pequenos furinhos no chão e aos rastros deixados", afirma o biólogo Álvaro Migotto, do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP). Quase todos os grandes grupos de animais marinhos, como crustáceos, moluscos e anelídeos, estão presentes nesse ecossistema. As milhares de espécies que vivem à beira-mar podem habitar três diferentes segmentos da areia: a faixa superior, mais longe da água, que só é coberta pelas ondas em marés altas bem fortes; a faixa mediana, atingida pela maré duas vezes ao dia; e a faixa inferior, quase sempre submersa.
Os animais também estão classificados dentro de três categorias, conforme o seu tamanho: macrofauna (bichos com mais de 1 milímetro), meio fauna (de 0,1 milímetro a 1 milímetro) e microfauna (abaixo de 0,1 milímetro). "Apesar de invisíveis para nós, os animais da meio fauna e da microfauna são extremamente numerosos e muito importantes em termos ecológicos e zoológicos. Eles vivem nos espaços entre os grãos de areia", afirma Migotto. Os bichos mais conhecidos por quem frequenta a praia, no entanto, pertencem à macrofauna e medem de 2 a 20 centímetros. Entre eles, há a tatuíra, o vôngole, o caranguejo guaruçá, a bolacha-da-praia, os gastrópodes e o corrupto. Além desses moradores fixos, o ecossistema à beira mar também recebe muitos visitantes, como as gaivotas e os maçaricos, aves que exploram a areia em busca de alimento nas marés baixas. Nas marés altas é a vez de peixes e crustáceos saírem do fundo do mar para procurar comida na praia submersa.

Fauna camuflada
A gente quase não vê, mas muitos bichos podem ser encontrados à beira-mar.

AMEAÇA AÉREA
Os seres que vivem na beira da praia estão constantemente na mira de algumas aves marinhas. Com seus bicos finos e longos, os maçaricos procuram os pequenos crustáceos e moluscos que vivem enterrados na areia. As gaivotas, por sua vez, se alimentam de peixes ou de restos de outros organismos.

VIDA NOTURNA
Por ter uma cor branco-amarelada e ter o costume de só sair da toca à noite, o guaruçá (Ocypode quadrata) também é chamado de caranguejo-fantasma. Outro de seus apelidos é maria-farinha. Ele cava galerias na areia, onde passa o dia escondido do sol. Para evitar a água do mar, as galerias ficam no limite extremo da areia, perto da vegetação litorânea.

RÁPIDO NA FUGA
O tatuíra (Hipa sp.) é um crustáceo muito popular em toda a costa brasileira e recebe diferentes nomes, como tatuí, pulga-do-mar e tatuzinho-de-praia. Ele mede cerca de 4 centímetros e vive em buracos cavados na areia. Veloz, o tatuíra se enterra rapidamente quando a água da onda volta para o mar, deixando-o desprotegido.

MOLUSCO APETITOSO
O vôngole (Tivella mactroides) é um dos muitos molucos bivalves — com concha formada por duas peças simétricas — que habitam as praias. Ao contrário do mexilhão, que fica grudado nas pedras, o vôngole prefere viver na areia de praias quase lodosas e sem arrebentação muito forte. O animalzinho é muito apreciado na culinária litorânea.

CORRUPTOS ANÔNIMOS
Vivendo em tocas profundas  na areia e raramente vistos, os corruptos são um tipo de crustáceo que se subdivide em mais de 90 espécies. Algumas delas medem poucos milímetros, mas existem aquelas que chegam a cerca de 30 centímetros! Os corruptos se alimentam de restos orgânicos e pequenos animais que entram nas suas galerias.

CONCHA OCUPADA
Os gastrópodes formam o mais numeroso grupo de moluscos. Os caracóis, os búzios e aslebres-do-mar são os tipos mais conhecidos de gastrópodes marinhos. A maioria deles apresenta concha em forma de espiral, dentro da qual se aloja o corpo do animal. É com essas conchas que, quando abandonadas, as pessoas acreditam poder ouvir o som do mar.

ESTRELA SEM PONTAS
A bolacha-da-praia (Encope emarginata) pertence ao filo dos equinodermos, que reúne animais como os ouriços-do-mar e as estrelas-do-mar. Ela possui um esqueleto calcário interno que se mantém normalmente inteiro após a morte do animal e que pode ser encontrado jogado na praia, entre conchas vazias e outros restos de animais e vegetais.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Quais são as espécies mais ameaçadas de extinção?


Existem milhares de espécies animais ameaçadas de extinção no mundo, mas é impossível fazer um ranking indicando quais desses bichos correm mais risco de desaparecer. Segundo a organização ambientalista The World Conservation Union (IUCN), que elabora a mais confiável lista sobre o tema, todas as espécies enquadradas como "criticamente ameaçadas" correm igualmente o mesmo risco de sumir do planeta. Pelas contas da entidade, só no Brasil existem 282 animais com chance de desaparecer, o que nos coloca em quarto lugar no ranking de países com bichos mais ameaçados - os Estados Unidos, com 859, vêm em primeiro. Ao longo dos anos, alguns animais acabaram se tornando símbolo da luta pela preservação para chamar a atenção da população para a questão. O urso-panda-gigante e o mico-leão-dourado são bons exemplos. Essas duas espécies, de fato, correm sério risco de ser exterminadas, mas a situação de outros animais, como o rinoceronte- negro, a baleia- franca e o tigre, é igualmente delicada.
Segundo os ambientalistas, as principais causas do problema são a destruição de hábitats naturais, a poluição no local onde vivem os animais, a caça, o comércio ilegal e a introdução de espécies exóticas num ecossistema, o que altera o equilíbrio ecológico. A melhor forma de proteger esses bichos é combater as ameaças acima, além de criar parques ou reservas naturais.

Últimos sobreviventes
População de tigres é um dos tristes exemplos: caiu de 60 mil para menos de 6 mil indivíduos.
BALEIA-FRANCA (Eubalaena glacialis e Eubalaena japonica)
As duas espécies mais ameaçadas são a baleia-franca do Atlântico (Eubalaena glacialis) e a franca do Pacífico (Eubalaena japonica). Em 2001, restavam entre 300 e 350 indivíduos da primeira espécie e menos de mil da segunda. A caça desenfreada é o principal problema.

CROCODILO CHINÊS (Alligator sinensis)
Estima-se em menos de 200 o número de indivíduos dessa espécie, a mais ameaçada entre todos os crocodilos. O maior perigo vem da destruição de seu hábitat e da matança por parte dos agricultores chineses, inconformados com a presença do animal perto de plantações.

URSO-PANDA-GIGANTE (Ailuropoda melanoleuca)
É o símbolo mundial da luta contra a extinção das espécies. Restam menos de mil indivíduos em seu hábitat natural. Para reverter o declínio da população, existem hoje 33 reservas naturais nas florestas chinesas.

RINOCERONTE-NEGRO (Diceros bicornis)
Existem menos de 3 mil desses rinocerontes no sul e no leste da África. Eles são caçados principalmente por causa do alto valor de seus chifres, embora esse comércio tenha sido declarado ilegal há mais de 20 anos.

MICO-LEÃO-DOURADO (Leontopithecus rosalia)
No início dos anos 70, só existiam cerca de 200 desses macaquinhos soltos na Mata Atlântica. Graças aos esforços de entidades conservacionistas, hoje eles são mais de mil. Entretanto, para garantir a sobrevivência da espécie, esse número ainda precisa dobrar.

TIGRE (Panthera tigris)
Menos de 6 mil tigres vivem no Sudeste Asiático ou no extremo leste da Rússia, o equivalente a 10% da população original. A caça indiscriminada é a maior ameaça, já que os ossos e outras partes do animal são usados para produzir remédios populares no Oriente.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Como agir em caso de cãimbra, torção e outras contusões típicas do futebol?


Giba Stam
Na maioria das contusões, a primeira coisa a fazer é deixar a pessoa numa posição confortável, para não forçar o membro atingido, e aplicar gelo por dez a 15 minutos. O gelo é útil em diversas contusões porque alivia a dor, evita que a região machucada inflame, diminui o inchaço no local e ainda acelera a recuperação. A água gelada e o spray gelado - usado por médicos e massagistas no atendimento aos jogadores profissionais - também têm o mesmo efeito. Depois dos primeiros socorros, o negócio é procurar um médico para ele avaliar o problema, principalmente no caso de torções e lesões musculares. Mas essas são medidas pós-estrago. O melhor mesmo é evitar que as contusões se tornem frequentes e aí a dica mais importante é manter um bom preparo físico. "Além do futebol, o ideal é praticar alguma atividade que exercite a musculatura usada no jogo, como o cooper, no mínimo duas vezes por semana", diz o fisiologista Cláudio Pavanelli, que trabalha no Santos Futebol Clube.
Fazer natação, por exemplo, pode ser bom para aumentar o fôlego, mas não prepara seus músculos para o bate-bola. Outro cuidado indispensável é um aquecimento progressivo antes do jogo e uma boa sessão de alongamentos antes e depois da partida. Ainda é fundamental dosar o ritmo na pelada. Afinal, os jogadores profissionais treinam todos os dias para ter o corpo preparado para correr 90 minutos. Em uma partida decisiva, um craque contundido acaba atuando no sacrifício. Já no jogo amador isso não vale a pena, pois forçar a contusão pode piorar muito a situação. Por último, para o corpo render mais e quebrar menos também é importante estar sempre com o "combustível" em dia. Ou seja, manter-se bem hidratado e fazer refeições leves e balanceadas, que forneçam vitaminas e sais minerais indispensáveis para todos os esportistas. Sejam eles peladeiros ou não.

Entrando numa fria
Gelo é a melhor opção de primeiros socorros na maioria das situações.
Lesão Muscular - Dor congelada
O problema: são três tipos de lesão muscular: o estiramento (ou distensão) é a mais grave, pois as fibras musculares se rompem. A fisgada é a mais leve e a contratura é intermediária.
O que fazer: aplicar gelo e diminuir ao máximo a movimentação do músculo lesionado. Se necessário, podem ser usadas muletas ou outro apoio para a pessoa andar.

Torção - Solução na faixa
O problema: no futebol, as torções mais comuns são nos tornozelos e nos joelhos.
O que fazer: colocar a perna em posição confortável e aplicar gelo por dez minutos. Na torção no tornozelo, enfaixar o local, sem apertar muito, cruzando a gaze entre o peito do pé e o tendão de Aquiles. Para o joelho é bom ter à mão uma joelheira de imobilização.

Bolada - O jeito é relaxar
O problema: no saco a dor é grande, mas, em geral, uma bolada não é perigosa.
O que fazer: dê espaço para a pessoa respirar com calma. Para a temida bolada no saco, uma solução é fazer seguidos movimentos esticando e dobrando as pernas da "vítima" em direção ao quadril. Isso relaxa a musculatura, embora não alivie muito a dor.

Cãimbra - Alongue o jogo
O problema: a cãibra é uma contração muscular involuntária, em geral, provocada pelo desgaste físico excessivo.
O que fazer: a pessoa deve deitar no chão e alongar o músculo que está com cãibra até as contrações pararem. Um companheiro pode ajudar no alongamento. A cãibra pode voltar e piorar. Por isso o ideal é parar de jogar.

Pancada - Pomada pós-pelada
O problema: uma pancada, como um chute na canela, geralmente não impede a volta ao jogo após aquela dor aguda inicial.
O que fazer: o gelo ajuda a diminuir o inchaço e alivia a dor. Após a partida uma outra boa opção é aplicar no local da pancada uma pomada anti inflamatória, tipo Gelol, que tem ação mais prolongada.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Como funcionam os sites de busca na internet?


Na essência, todos os sites de busca funcionam do mesmo jeito: montam um banco de dados com o texto de milhões de páginas e mostram aquelas que têm a ver com a palavra que você digitou na tela de procura. A diferença está nos detalhes. Tipo: que página deve aparecer primeiro? Se você digita algo como "São Paulo", o site de buscas não sabe se você está atrás de informações sobre a maior cidade do país ou sobre o santo. Mas ele tem que dar um jeito de "saber o que você está pensando". Cada site usa fórmulas específicas para ordenar os resultados de uma pesquisa. O jeito mais comum, hoje, é colocar no topo da lista as páginas que recebem mais links de outros sites.
Mas o endereço de busca mais popular na rede, o Google (www.google.com.br), inventou um jeito de ir mais longe: o link de uma página respeitada vale mais que um link qualquer. Os gênios por trás da tecnologia de busca do site são dois engenheiros da computação: Sergey Brin e Larry Page, que apresentaram o Google num artigo de divulgação científica de 1998. Na época, o site era só um projeto de faculdade, para a Universidade de Stanford, na Califórnia. Hoje, vale pelo menos 20 bilhões de dólares!

Oráculo da rede
Google usa até texto de links para ordenar páginas.

1. Todo site de busca tem um gigantesco banco de dados que serve de base para as pesquisas na rede. Isso é feito por programas chamados "robôs" ou "aranhas". Eles varrem a internet e gravam o texto de todos os sites que encontram, num ritmo de algumas centenas de páginas por segundo.
2. O programa de busca guarda informações como a posição de cada palavra nos sites varridos e o tamanho em que ela aparece. Por exemplo: se você digitar "beatles" no campo de busca e essa palavra estiver no título de uma página, com letras grandes, esse site tende a aparecer bem ranqueado, ou seja, entre os primeiros resultados da pesquisa.

3. Mas o fator que mais influi para o ranqueamento é outro: a quantidade de links que apontam para o site. O Google atribui mais valor aos links de páginas que, por sua vez, também são apontadas por muitas outras. Então vale mais um link que esteja indicado no site da Universidade de Harvard, por exemplo, do que num blog qualquer.
4. Também conta se o link que leva à página der uma informação extra. Imagine que você tenha um site sobre os Beatles e alguém digite "letras dos beatles" no Google. Se outras páginas tiverem um link escrito "letras dos beatles" que leve ao seu site, ele ganha mais valor.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

O que acontece no corpo quando desmaiamos?


Em geral, o desmaio é resultado de uma queda na pressão sanguínea. Como a cabeça fica no alto do corpo, ela é a primeira parte a sentir a diminuição da circulação, o que leva à falta de oxigênio no cérebro e à perda de consciência. Antes do desmaio, a baixa no nível de oxigênio no sangue faz as células da retina não funcionarem direito, deixando a visão escura ou com pontos pretos, enquanto os sons vão ficando cada vez mais distantes. Normalmente, quando a pessoa cai no chão e a cabeça fica no mesmo nível do resto do corpo, a circulação volta ao normal. Quando chega aquela sensação de tontura e perda de visão, o melhor é prevenir a queda, sentar e abaixar a cabeça.
Mas uma pessoa também pode desmaiar por falta de glicose no sangue. "Isso é comum entre os adolescentes, quando eles não tomam café da manhã. Como gastam muita energia, no final da manhã a glicemia está muito baixa, causando o desmaio. Nesse caso, deve-se dar logo um copo de água com açúcar", diz o neurofisiologista Paulo Henrique Bertolucci, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Também conhecido como síncope, o desmaio pode ainda acontecer por causa de doenças, como arritmia cardíaca, que prejudicam a circulação sanguínea.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Qual a diferença entre a bomba atômica e a de hidrogênio?


Na verdade, as duas são bombas atômicas. A diferença é que cada uma delas realiza um processo diferente com os átomos para obter energia. A bomba nuclear mais simples, que costuma ser chamada só de "atômica", arrebenta núcleos de urânio, transformando-os em átomos mais leves. Mas romper núcleos atômicos não é o mesmo que quebrar uma pedra, por exemplo. Se você martelar uma rocha, juntar os cacos e botar numa balança, vai ver que o peso de todos os fragmentos somados é igual ao da pedrona original. Já na "martelada" que a bomba dá nos átomos de urânio, o peso somado dos "cacos" vai ser um pouco menor que o original, porque o urânio perde um pouco de sua massa. Onde ela vai parar? Quem mata a charada é o físico Albert Einstein: em sua teoria da relatividade, ele ensina que qualquer tiquinho de matéria é formado por uma quantidade mastodôntica de energia. Ou seja, o urânio que some se transforma em energia pura, liberando uma força brutal.
Para dar uma idéia, a quebra de menos de 1 quilo de matéria foi o suficiente para arrasar a cidade japonesa de Hiroshima no final da Segunda Guerra Mundial, com uma força equivalente a 15 mil toneladas de dinamite. Achou muito? Pois saiba que as chamadas bombas H, de hidrogênio, são milhares de vezes mais poderosas que isso. O segredo é que, em vez de quebrar átomos, elas fundem os núcleos, juntando dois átomos de hidrogênio para formar um de hélio. Nesse processo, um pouco da massa do hidrogênio se perde e, de novo, se transforma em energia. A diferença é que a fusão arranca mais energia do bolo de átomos. Só para dar uma noção do drama, basta lembrar que a explosão recorde entre as bombas de hidrogênio foi simplesmente 5 mil vezes maior que a de Hiroshima.
Os ambientalistas não se cansam de alertar que esses explosivos podem transformar a Terra em um projeto de asteróide. "Vimos que a pequena guerra nuclear de 1945, que destruiu duas cidades, foi o suficiente. Mas o problema continua", diz o físico Philip Morrison, um dos cientistas que criou a bomba de Hiroshima e hoje trabalha no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

Escolha nuclear
Armas arrebentam ou unem átomos para gerar energia.
BOMBA ATÔMICA
1. A bomba atômica que você vê ao lado é a Little Boy ("Garotinho"), que arrasou a cidade de Hiroshima, em 1945. O funcionamento da arma começa quando uma carga de explosivo convencional, como dinamite, é acionada à distância e explode.
2. O choque da explosão impulsiona uma bala de urânio-235 sobre uma esfera feita do mesmo material. Esse impacto dá origem às reações de fissão, a quebra dos núcleos dos átomos que vão liberar energia.
3. Com a trombada, os instáveis e pesados átomos de urânio-235 arrebentam, liberando energia e nêutrons que dão continuidade à reação. Cada átomo que se rompe solta novos nêutrons que quebram mais núcleos, num efeito em cadeia que desprende cada vez mais energia.

BOMBA DE HIDROGÊNIO
1. Na bomba de hidrogênio, a espoleta utilizada não é um explosivo convencional, mas uma bomba atômica como a de Hiroshima. Novamente, o momento do estouro dessa carga é determinado por meio de um controle remoto.
2. Essa explosão atinge um compartimento cheio de composto de lítio, transformando essa substância em deutério e trítio. Os átomos desses elementos são isótopos, ou seja, "parentes diretos" do hidrogênio — daí vem o nome da bomba. Todos possuem apenas um próton, mas com quantidades diferentes de nêutrons.
3. Por serem bem leves e estarem submetidos a altíssima temperatura, os átomos de deutério e trítio tendem a se unir, criando um átomo de hélio mais leve que os dois anteriores somados. A massa que sobra dá origem à energia da bomba.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

Por que as pessoas descascam depois de tomar muito sol?


Porque os  raios ultravioleta (UV) do sol estimulam a divisão das células da pele, enquanto o calor faz com que elas ressequem e morram. Assim, forma-se uma camada mais grossa de células mortas que acaba descascando. "O sol apenas acelera o processo natural da pele. Estamos sempre descamando aos poucos e, mesmo sem que a gente perceba, a pele se renova, em média, a cada 15 dias", diz o dermatologista Guilherme de Almeida, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O efeito do sol dura uma semana, por isso demora alguns dias para a pessoa descascar depois de pegar um bronze. A proliferação mais rápida das células também explica por que o maior perigo do sol é mesmo o câncer de pele. "As pessoas mais jovens conseguem se proteger contra mutações no DNA, mas com o tempo as mutações podem acontecer, provocando o câncer", diz Guilherme.
Para evitar o "efeito cobra" da descamação, o jeito é tomar cuidado com a exposição solar, preferindo curtir praia e piscina, por exemplo, antes das 10 da manhã e depois das 4 da tarde, quando os raios UV estão mais fracos. Passar um filtro solar antes do banho de sol e um creme hidratante  depois também ajuda a evitar que a pele descasque tanto.

Efeito cobra
Raios UV aceleram a formação da camada de pele morta
1. A pele humana é formada por três camadas principais. As reações que levam à descamação ocorrem na faixa mais superficial, a chamada epiderme.
2. A epiderme tem várias células. As chamadas células basais, estão sempre se dividindo para formar as células espinhosas, que são naturalmente empurradas para cima, transformando-se em células granulosas, mais achatadas. Estas, por sua vez, vão morrendo aos poucos e dando origem a uma camada externa que protege a pele.
3. Os raios  ultravioleta do sol que atingem a pele penetram em todas as células da epiderme e atingem a parte do DNA que controla a divisão celular delas. Isso estimula a multiplicação desenfreada das células, aumentando o número delas na epiderme.
4. Paralelamente à multiplicação, muitas células morrem de desidratação por causa da exposição aos raios solares. Assim, é acelerado o processo natural de formação da camada de células mortas, deixando-a mais grossa. E é essa camada que descasca, abrindo espaço para novas células.

Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Gladiadores gordinhos


Ingrid Tavares
Estudo mostra que os lutadores eram vegetarianos e não tinham músculos.

Baixinho, gordinho e nada musculoso. Esqueça aquela imagem do cinema: era exatamente esse o porte físico dos gladiadores romanos. A descoberta foi feita por uma equipe do Instituto Arqueológico Austríaco, que analisou ossadas encontradas em um cemitério de gladiadores em Éfeso, na Turquia.
A partir de uma minuciosa análise forense em 67 esqueletos, os cientistas verificaram que os lutadores não tinham nada de extraordinário: eram jovens comuns, entre 20 e 30 anos, com cerca de 1,68 m (a estatura média da população de 2 a.C), pouco músculo e umas gordurinhas extras.
Na análise, foram utilizadas sondas para examinar a estrutura microscópica dos ossos e determinar a composição química absorvida por eles durante a vida. Assim, descobriu-se a proporção de carne, legumes e frutas que faziam parte da dieta dos gladiadores. E o estudo mostrou que os lutadores eram vegetarianos: sua dieta era rica em cevada, feijão e frutas secas. Uma dieta equilibrada registra índices de zinco e estrôncio em proporções iguais nos ossos. A ossada dos lutadores mostrou altos índices de estrôncio e pouco zinco.
“A densidade de estrôncio encontrada nos ossos era maior que o normal, até mesmo para os atletas de hoje em dia”, afirma Fabian Kanz, responsável pelo estudo.
A dieta rica em carboidratos conferia peso extra, massa e força – requisitos ideais para as brigas que eram assistidas por até 25 mil pessoas (tamanho da arena de Éfeso, metade do Coliseu). A gordura era uma grande aliada durante os combates, pois funcionava como um escudo para os golpes feitos com lanças. Segundo Kanz, é provável que os gladiadores tentassem ganhar peso antes das lutas para se proteger. “Mas isso não significa que não se esforçavam para emagrecer assim que colocavam o pé fora da arena”, diz.
O mesmo estudo revelou ainda que a selvageria não podia existir nas arenas como os filmes mostram. A ausência de múltiplas lesões e de mutilações indica que as lutas tinham regras estritas. Cada lutador tinha armas e oponentes específicos. E mais: eles lutavam descalços.

Aventuras na História n° 040

Líbano: Que país é este?


Isabelle Somma
História do Líbano é marcada pela cobiça dos vizinhos.
Pequeno, dividido e cobiçado. Esse é o retrato do Líbano, pedaço de terra no leste do Mediterrâneo por onde já passaram egípcios, gregos, romanos, turcos e franceses – e que voltou ao noticiário recentemente por conta de um conflito com Israel. Aliás, discórdias fazem parte da história do país, que muito antes de se tornar uma nação foi berço da civilização fenícia.
Com apenas 10400 km2, pouco maior que o dobro do Distrito Federal, o Líbano tem seu contorno atual devido a uma decisão da França. Depois da Primeira Guerra Mundial, o país europeu tomou posse da Grande Síria, que pertencia ao Império Turco-Otomano. Em 1920, Paris dividiu-a em dois: de um lado, Beirute, Sidon, Trípoli e o Monte Líbano; do outro, o que passou a ser chamado de Síria.
Seus menos de 4 milhões de habitantes se dividem em um verdadeiro mosaico. São cristãos maronitas, ortodoxos gregos e armênios, muçulmanos xiitas, sunitas e drusos – além de palestinos refugiados. Essa tensa divisão provocou duas guerras civis só no século 20.
Na mais sangrenta delas, que teve início em 1975, facções cristãs e muçulmanas destruíram o que era conhecido como a Suíça do Oriente Médio, um sólido centro financeiro. Durante os longos 15 anos de guerra, os países vizinhos aproveitaram para invadir o Líbano. No início da conflagração, o presidente libanês pediu intervenção da Síria – e as tropas sírias saíram do Líbano apenas em abril deste ano. Em 1978, foi a vez de Israel. Uma nova incursão ocorreu em 1982. A intenção era, segundo o invasor, eliminar alvos palestinos. A permanência israelense se estendeu até 2000. Em 2006, uma nova invasão: Israel voltou ao Líbano acusando membros da milícia – e partido político – Hezbollah de seqüestrar dois soldados e de lançar mísseis em seu território. Os libaneses desconfiam que a água de seus rios, escassa em Israel, seja o principal interesse do vizinho.

Por dentro do Líbano
Nome oficial: República Libanesa
Área: 10400 km2
Capital: Beirute
População: 3,6 milhões
Idiomas: árabe (oficial), francês, curdo e armênio
Sistema de governo: república parlamentarista

Aventuras na História n° 040

Jesus antes de Cristo


Rodrigo Cavalcante
Numa incrível viagem à Palestina do século 1, historiadores e arqueólogos reconstituem com era a vida do homem comum que se tornou o filho de Deus para os mais de 2 bilhões de cristãos.

Cristo está em toda parte: nas obras mais importantes da história da arte, nos roteiros de Hollywood, nos letreiros luminosos de novas igrejas, nas canções evangélicas em rádios gospel, nos best-sellers de auto- ajuda, nos canais de televisão a cabo, nos adesivos de carro, nos presépios de Natal. Onde você estiver, do interior da floresta amazônica às montanhas geladas do Tibete, sempre será possível deparar com o símbolo de uma cruz, pena de morte comum no Império Romano à qual um homem foi condenado há quase 2 mil anos. Para mais de 2 bilhões de pessoas esse homem era o próprio messias (“Cristo”, do grego, o ungido) que ressuscitara para redimir a humanidade.
Embora o mundo inteiro (inclusive os não- cristãos) esteja familiarizado com a imagem de Cristo, até há bem pouco tempo os pesquisadores eram céticos quanto à possibilidade de descobrir detalhes sobre a vida do judeu Yesua (Jesus, em hebraico), o homem de carne e osso que inspirou o cristianismo. “Isso está começando a mudar”, diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos especialistas no Brasil sobre o “Jesus histórico” – o estudo da figura de Jesus na história sem os constrangimentos da teologia ou da fé no relato dos evangelhos. Embora tragam detalhes do que teria sido a vida de Jesus, os evangelhos são considerados uma obra de reverência e não um documento histórico. Chevitarese e outros pesquisadores acreditam que, apesar de não existirem indícios materiais diretos sobre o homem Jesus, arqueólogos e historiadores podem ao menos reconstituir um quadro surpreendente sobre o que teria sido a vida de um líder religioso judeu naquele tempo, respondendo questões intrigantes sobre o ambiente e o cotidiano na Palestina onde ele vivera por volta do século I.

Nazaré, entre 6 e 4 a.C.
Uma aldeia agrícola com menos de 500 habitantes, cuja paisagem é pontuada por casas pobres de chão de terra batida, teto de estrados de madeira cobertos com palha, muros de pedras coladas com uma argamassa de barro, lama ou até de uma mistura de esterco para proteger os moradores da variação da temperatura no local. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré na época em que Jesus nasceu, provavelmente entre os anos 6 e 4 a.C., no fim do reinado de Herodes. Isso mesmo: segundo os historiadores, Jesus deve ter nascido alguns anos antes do ano 1 do calendário cristão. “As pessoas naquele tempo não contavam a passagem do tempo como hoje, por meio da indicação do ano”, explica o historiador da Unicamp Pedro Paulo Funari. “O cabeçalho dos documentos oficiais da época trazia apenas como indicação do tempo o nome do regente do período, o que leva os pesquisadores a crer que Jesus  teria nascido anos antes do que foi convencionado.”
Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré – e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas –, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu. Ou seja: a alcunha “Jesus de Nazaré” ou “nazareno” não teria derivado apenas do fato de sua família ser oriunda de lá, como costuma ser justificado.
Mesmo que os historiadores estejam certos ao afirmarem que o nascimento em Belém seja apenas uma alegoria bíblica, o entorno de uma casa pobre na cidade de Nazaré daquele tempo não deve ter sido muito diferente do de um estábulo improvisado como manjedoura. Como a residência de qualquer camponês pobre da região, as moradias eram ladeadas por animais usados na agricultura ou para a alimentação de subsistência. A dieta de um morador local era frugal: além do pão de cada dia (no formato conhecido no Brasil hoje como pão árabe), era possível contar com azeitonas (e seu óleo, o azeite, usado também para iluminar as casas), lentilhas, feijão e alguns incrementos como nozes, frutas, queijo e iogurte. De acordo com os arqueólogos, o consumo de carne vermelha era raro, reservado apenas para datas especiais. O peixe era o animal consumido com mais frequência pela população, seco sob o sol, para durar. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas. Essa parca alimentação é coerente com relatos como o da multiplicação dos pães, no Evangelho de Mateus, no qual os discípulos, preocupados com a fome de uma multidão que seguia Jesus, mostram ao mestre cinco pães e dois peixes, todo o alimento de que dispunham.
Se alguém presenciasse o nascimento de Jesus, provavelmente iria deparar com um bebê de feições bem diferentes da criança de pele clara que costuma aparecer nas representações dos presépios. Baseados no estudo de crânios de judeus da época, pesquisadores dizem que a aparência de Jesus seria mais próxima da de um árabe (de cabelos negros e pele morena) que da dos modelos louros dos quadros renascentistas. Seu nome, Jesus, uma abreviação do nome do herói bíblico Josué, era bastante comum em sua época. Ainda na infância, deve ter brincado com pequenos animais de madeira entalhada ou se divertido com rudimentares jogos de tabuleiro incrustados em pedras. Quanto à família de Jesus, os pesquisadores não acreditam que ele tenha sido filho único. Afinal, era comum que famílias de camponeses tivessem mais de um filho para ajudarem na subsistência da família. Isso poderia explicar o fato de os próprios evangelhos falarem em irmãos de Jesus, como Tiago, José, Simão e Judas. “As igrejas Ortodoxa e Católica preferiram entender que o termo grego adelphos, que significa irmão, queria dizer algo próximo de discípulo, primo”, diz Chevitarese.
Assim como outros jovens da Galiléia, é provável que ele não tenha tido uma educação formal ou mesmo a chance de aprender a ler e escrever, privilégio de poucos nobres. Ainda assim, nada o impediria de conhecer profundamente os textos religiosos de sua época transmitidos oralmente por gerações.

Política, religião e sexo
Desde aquele tempo, a região em que Jesus vivia já era, digamos, um tanto explosiva. O confronto não se dava, é claro, entre judeus e muçulmanos (o profeta Maomé só iria receber sua revelação mais de cinco séculos depois). A disputa envolvia grupos judaicos e os interesses de Roma, cujo império era o equivalente, na época, ao que os Estados Unidos são hoje. E, assim como grupos religiosos do Oriente Médio resistem atualmente à ocidentalização dos seus costumes, diversos grupos judaicos da época se opunham à influência romana sobre suas tradições. Na verdade, fazia séculos que os judeus lutavam contra o domínio de povos estrangeiros. Antes de os romanos chegarem, no ano 63 a.C., eles haviam sido subjugados por assírios, babilônios, persas, macedônios, selêucidas e ptolomeus. Os judeus sonhavam com a ascensão de um monarca forte como fora o rei Davi, que por volta do século 10 a.C. inaugurara um tempo de relativa estabilidade. Não à toa, Davi ficaria lembrado como o messias (ungido por Javé) e, assim como ele, outros messias eram aguardados para libertar o povo judeu.
A resistência aos romanos se dava de maneiras variadas. A primeira delas, e mais feroz, era identificada como simples banditismo. Nessa categoria estavam bandos de criminosos formados por camponeses miseráveis que atacavam comerciantes, membros da elite romana ou qualquer desavisado que viajasse levando uma carga valiosa.
Além do banditismo, havia a resistência inspirada pela religião, principalmente a dos chamados movimentos apocalípticos. De acordo com os seguidores desses movimentos, Israel estava prestes a ser libertado por uma intervenção  direta de Deus que traria prosperidade, justiça e paz à região. A questão era saber como se preparar para esse dia.
Alguns grupos, como os zelotes, acreditavam que o melhor a fazer era se armar e partir para a guerra contra os romanos na crença de que Deus apareceria para lutar ao lado dos hebreus. Para outros grupos, como os essênios, a violência era desnecessária e o melhor mesmo a fazer era se retirar para viver em comunidades monásticas distantes das impurezas dos grandes centros. E Jesus, de que lado estava?
É quase certo que Jesus tenha tido contato com ao menos um líder apocalíptico de sua época, que preparava seus seguidores por meio de um ritual de imersão nas águas do rio Jordão. Se você apostou em João Batista, acertou.
O curioso é que, para a maioria dos pesquisadores, incluindo aí o padre católico John P. Meier, autor da série sobre o Jesus histórico  chamada Um Judeu Marginal, o movimento apocalíptico de João Batista deve ter sido mais popular, em seu tempo, do que a própria pregação de Jesus. Os historiadores acreditam que é bem provável que Jesus, de fato, tenha sido batizado por João Batista nas margens do rio Jordão, e que o encontro deve ter moldado sua missão religiosa dali em diante.
Apesar de não haver nenhuma restrição para que um líder religioso judeu tivesse relações com mulheres em seu tempo, ninguém sabe ainda se entre as práticas espirituais de Jesus estaria o celibato. Da mesma forma, afirmar que ele teve relações com Maria Madalena, como no enredo de livros como O Código Da Vinci, também não passaria de uma grande especulação.

Uma morte marginal
O pesquisador Richard Horsley, professor de Ciências da Religião da Universidade de Massachusetts, em Boston, é categórico: a morte de Jesus na cruz em seu tempo foi muito menos perturbadora para o Império Romano do que se costuma imaginar. Horsley e outros pesquisadores desapontam os cristãos que imaginam a crucificação como um evento que causara, em seu tempo, uma comoção generalizada, como naquela cena do filme O Manto Sagrado em que nuvens negras escurecem Jerusalém e o mundo parece prestes a acabar. Apesar de ter sido uma tragédia para seus seguidores e familiares, a morte do judeu Yesua deve ter passado praticamente despercebida para quem vivia, por exemplo, no Império Romano. Ou seja: se existisse uma rede de televisão como a CNN, naquele tempo, é bem possível que a morte de Jesus sequer fosse noticiada. E, caso fosse, dificilmente algum estrangeiro entenderia bem qual a diferença da mensagem dele em meio a tantas correntes do judaísmo do período – assim como poucas pessoas no Ocidente compreendem as diferenças entre as diversas correntes dentro do Islã ou do budismo.
Os pesquisadores sabem, no entanto, que Jesus não deve ter escolhido por acaso uma festa como a Páscoa para fazer sua pregação em Jerusalém. A data costumava reunir milhares de pessoas para a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. No período que antecedia a festa, o ar tornava-se carregado de uma forte energia política. Era quando os judeus pobres sonhavam com o dia em que conseguiriam ser libertados dos romanos.
Para a elite judaica que vivia em Jerusalém, contudo, as manifestações anti-Roma não eram nada bem-vindas. Afinal, como ela se beneficiava da arrecadação de impostos da população de baixa renda, boa parte dela tinha mais a perder que a ganhar com revoltas populares que desafiassem os dirigentes romanos, cujos estilos de vida eram copiados por meio da construção de suntuosas vilas (espécie de chácaras luxuosas) nas cercanias de Jerusalém.
A própria opulência do Templo do Monte de Jerusalém, reconstruído por Herodes, o Grande, parecia uma evidência de que a aliança entre os romanos e os judeus seria eterna. A construção era impressionante até mesmo para os padrões romanos, o que fazia de Jerusalém um importante centro regional em sua época.
Em meio às festas religiosas, o comércio da cidade florescia cada vez mais. Vendia-se de tudo por lá, incluindo animais para serem sacrificados no templo. Os mais ricos podiam comprar um cordeiro para ser sacrificado e quem tivesse menos dinheiro conseguia comprar uma pomba no mercado logo em frente. A cura de todos os problemas do corpo e da alma (na época, as doenças eram relacionadas à impureza do espírito) passava pela mediação dos rituais dos sacerdotes do templo.
Não é difícil imaginar a afronta que devia ser para esses líderes religiosos ouvir que um judeu rude da Galiléia curava e livrava as pessoas de seus pecados com um simples toque, sem a necessidade dos sacerdotes. A maioria dos pesquisadores concorda que atos subversivos como esses seriam suficientes para levar alguém à crucificação.
Quase tudo o que os pesquisadores conhecem sobre a crucificação deve-se à descoberta, em 1968, do único esqueleto encontrado de um homem crucificado em Giv’at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém. Após uma análise dos ossos, eles concluíram que os calcanhares do condenado foram pregados na base vertical da cruz, enquanto os braços haviam sido apenas amarrados na travessa. A raridade da descoberta deve-se a um motivo perturbador: a pena da crucificação previa a extinção do cadáver do condenado, já que o corpo do crucificado deveria ser exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. A idéia era evitar que o túmulo do condenado pudesse servir de ponto de peregrinação de manifestantes. De qualquer forma, a descoberta desse único esqueleto preservado prova que, em alguns casos, o corpo poderia ser reivindicado pelos parentes do morto, o que talvez tenha acontecido com Jesus.
O que aconteceu após sua morte? Para os pesquisadores, a vida do Jesus histórico encerra-se com a crucificação. “A ressurreição é uma questão de fé, não de história”, diz Richard Horsley.
Tudo o que os historiadores sabem é que, apesar de pequeno, o grupo de seguidores de Jesus logo conseguiria atrair adeptos de diversas partes do mundo. E foi um dos novos convertidos, um ex- soldado que havia perseguido cristãos e ganhara o nome de Paulo, que se tornaria uma das pedras fundamentais para a transformação de Jesus em um símbolo de fé para todo o mundo. Com sua formação cosmopolita, Paulo lutou para que os seguidores de Jesus trilhassem um caminho independente do judaísmo, sem necessidade de obrigar os convertidos a seguirem regras alimentares rígidas ou, no caso dos homens, ser obrigados a fazer a circuncisão. A influência de Paulo na nova fé é tão grande que há quem diga que a mensagem de Jesus jamais chegaria aonde chegou caso ele não houvesse trabalhado com tanto afinco para sua difusão.
Mesmo para quem não acredita em milagres, não há como negar que Paulo e os outros seguidores de Jesus conseguiram uma proeza e tanto: apenas três séculos após sua morte, transformaram a crença de uns poucos judeus da Palestina do século I na religião oficial do Império Romano. Por essa época, a vida do judeu Yesua já havia sido encoberta pela poderosa simbologia do Cristo: assim como os judeus sacrificavam cordeiros para Javé, o Cristo se tornaria símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar os pecados do mundo. Desde então, a história de boa parte do mundo está dividida entre antes e depois de sua existência.

Escavando Jesus
Dois mil anos embaixo da terra.
Objetos de cozinha, brinquedos, ferramentas de trabalho e documentos: escavações na Palestina, Iraque, Roma e Turquia revelam como era a vida no tempo de Jesus.

Diversão infantil
Conhecidos desde o século 7 a.C., bonecos de barro com formas de animais eram brinquedos comuns na Galiléia, no tempo de Jesus.

Iluminação
A luz interna das casas era feita por lamparinas a óleo – como esta, encontrada ao norte do atual Israel.

Passatempo
Encontrado em Hazor, cidade bíblica no norte da Palestina, o jogo tinha tabuleiro de pedra e peões e dados feitos de ossos.

Antes do plástico
Potes de cerâmica serviam para quase tudo. Estes, menores e com alças, achados em Megido, tinham vestígios de vinho.

À mesa
A decantadeira de cerâmica – achada em 1905, no atual Israel – era usada para servir vinho, cerveja ou azeite.

Oliveira
Moinhos como esse, em Cafarnaum, na Galiléia, movidos por tração humana ou animal, eram usados para obter azeite.

Despensa
Jarros maiores de cerâmica serviam para guardar comida, principalmente grãos como a cevada e o trigo.

Âncoras de pedra
Feitas no século 1 e achadas no mar da Galiléia, estas foram usadas por pescadores e comerciantes.

Barco
Achado no mar da Galiléia e datado do século 1, esse era o modelo mais comum entre os pescadores.

Manuscritos
A escrita era para poucos. E a maioria dos textos eram  religiosos. Como o “Fragmento Trever”, parte dos Manuscritos do Mar Morto.

Sandálias
Como pistas, achadas em Massada (Israel), tinham solado e palmilhas de couro e cadarços de tecido.

Tinteiro
De cerâmica, feito no século 1, encontrado numa das cavernas de Qumram.

Fé e poder
Jerusalém era o centro religioso e político dos judeus. Lá foi encontrado o mais antigo desenho da menorá, do século o 1 a.C.

Graal
Feitos (adivinhem!) de cerâmica, estes eram os copos usados no século 1.

Dinheiro
Moeda de bronze do reino de Herodes, o Grande, do século 1 a.C.

Crucificação
Parte de osso do calcanhar perfurado por prego de ferro, datado do século 1.

Ver o peso
Caneca de pedra usada como medida no mercado de Jerusalém.

Nossa Senhora de Ísis
De onde pode ter se originado uma das mais belas imagens cristãs.
Se você acha que conhece a imagem ao lado, é bom dar uma olhada com um pouco mais de atenção. À primeira vista, ela parece, de fato, representar a Nossa Senhora embalando o menino Jesus. Mas não é. A imagem da estátua é uma representação da deusa egípcia Ísis oferecendo o peito a seu filho Hórus. Apesar de não haver como provar que as imagens de Nossa Senhora tenham sido inspiradas diretamente em representações como essa, os pesquisadores sabem que o cristianismo sofreu, em seus primórdios, a influência de diversos cultos que faziam parte dos mundos egípcio e greco-romano. “Desde seu início, o cristianismo tinha uma diversidade assombrosa”, diz o professor de Teologia Gabriele Cornelli, da Universidade de Brasília. Na região do Egito, por exemplo, prevalecera o chamado cristianismo gnóstico, cujos textos revelam um Jesus bem mais parecido com um monge oriental. Alguns historiadores acreditam até que alguns cristãos gnósticos possam ter sido influenciados por missionários budistas vindos da Índia.

O luxo que vem de Roma
Diferentemente de Jesus, nobres judeus viviam muito bem, obrigado.
Para a elite judaica que vivia na Palestina do século I, levar uma vida com requinte e elegância era sinônimo de viver como os romanos. Escavações arqueológicas em Jerusalém e outras cidades indicam uma clara influência da arquitetura e da decoração de Roma no interior das mansões. Para criar uma atmosfera palaciana, era comum, no interior das casas, a reprodução de afrescos e desenhos decorativos com motivos florais e geométricos. Em ambientes maiores, as colunas no estilo romano eram indispensáveis, assim como o uso de mármore para o acabamento dos detalhes – quem não podia pagar pelo mármore usava uma tinta de cor parecida para manter a aura palaciana. Fontes, vasos vitrificados e pisos de mosaico colorido também faziam parte do sonho de consumo dos novos ricos de Jerusalém, que costumavam receber os amigos influentes recostados confortavelmente no triclinium, espécie de divã usado na hora das refeições. Resquícios da importação de vinhos e outros ingredientes nobres da cozinha mediterrânea, como o garum, um molho especial de peixe típico da cidade de Pompéia, também foram encontrados no interior das mansões. Algumas delas deviam ter uma vista privilegiada para o Templo de Jerusalém, de onde os nobres podiam assistir confortavelmente à movimentação dos peregrinos ou mesmo à condenação à morte de rebeldes judeus.

Os outros messias
Os líderes religiosos judeus que não emplacaram na história.
Na época de Jesus, a figura do messias esperado para libertar o povo judeu era muito diferente da nossa atual concepção do messias cristão. Para início de conversa, o messias do povo hebreu não precisava ser nenhum santo. Podia ter várias mulheres (como tivera o rei Davi) e devia empregar a violência, caso fosse necessário, para garantir a autonomia do povo hebreu frente a seus inimigos. Não é à toa que, décadas antes e depois da morte de Jesus, diversos outros homens identificados como messias lideraram movimentos religiosos na região. Por volta do ano 4 a.C., por exemplo, um homem conhecido como Judas, filho de Ezequias, liderou uma revolta contra Herodes na cidade de Séforis, na Galiléia. Judas e seus seguidores chegaram a invadir um palacete na cidade para roubar armas para seu exército de oposição aos romanos. No mesmo ano, outras revoltas foram desencadeadas pelos líderes messiânicos Simão e Astronges. O principal objetivo desses movimentos era derrubar a dominação romana e restaurar os ideais tradicionais do povo hebreu. Na década de 60 do século I, o líder Simão Bar Giora organizou um exército de camponeses que chegou a assumir o controle de diversas regiões da Palestina daquele século. De acordo com os historiadores, o último e mais famoso líder messiânico a comandar uma revolta contra os romanos na região foi o judeu Bar Kokeba. Entre os anos 132 e 135, Kokeba teria liderado uma batalha sem precedentes contra os romanos, conquistando territórios por meio de uma tática de guerrilha que incluía esconderijos em cavernas e construção de fortalezas em montanhas. A rebelião somente foi aniquilada depois que o poderoso Exército romano mobilizou uma força maciça para pôr fim à guerra que se arrastava pelo terceiro ano. Não deixa de ser emblemático o fato de que o pacífico Jesus de Nazaré tenha ficado para a história como o “verdadeiro messias” – logo ele, que nunca liderara um exército.

Aventuras na História n° 040

Por que a sede do cristianismo está em Roma e não em Jerusalém?


Juliana Parente
Soberania do Vaticano foi reconhecida pela Itália apenas em 1929.
Após a morte de Jesus, o cristianismo ainda não havia se separado do judaísmo em Jerusalém. Era visto como mais uma das correntes seguidas pelos judeus na região – e que exigia práticas como circuncisão e restrições alimentares. É então que entram em cena Pedro e Paulo, que libertam a necessidade dos novos cristãos de seguirem essas regras e conseguem levar a nova fé para Roma, sede do maior império da época – lá, eles foram assassinados e se tornaram os primeiros mártires da Igreja.
Enquanto o cristianismo conquistava adeptos em Roma, Jerusalém era desfigurada após uma série de guerras. “A cidade foi destruída duas vezes, o que dificultou a formação de um centro organizado, capaz de agregar os novos fiéis”, diz Liz Carmichael, professora de Teologia na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ela se refere aos episódios de 70 e 135, quando a região foi destruída e queimada pelos romanos. Depois da segunda devastação, as ruínas deram lugar a uma cidade pagã, batizada de Aelia Capitolina. Após o imperador romano Constantino se converter ao cristianismo, no século 4, a sede do império se tornou também a sede da nova fé. Para os cristãos do Ocidente, Roma passou a ser considerada a cidade-referência.
“Essa decisão foi tomada unindo aspectos políticos e religiosos”, afirma o teólogo Richard McBrien, autor da Enciclopédia do Catolicismo. A fundação do Vaticano demarcou não só uma área sagrada como também o fim de uma rixa entre o Estado italiano e a Igreja Católica Apostólica Romana. No Tratado de Latrão, de 1929, o ditador Benito Mussolini reconheceu a soberania do Vaticano. A Igreja (então liderada pelo papa Pio XI), por sua vez, aceitou devolver as possessões adquiridas durante as Cruzadas e assentiu que, a partir de então, Roma seria capital do Estado. “Não houve uma decisão formal no sentido de substituir Jerusalém pelo Vaticano como sede do cristianismo”, diz McBrien. “Foi uma transformação política. Jerusalém foi perdendo importância em comparação a Roma.”

Aventuras na História n° 040

Passado Submerso: os maiores náufragos e seus tesouros


Maria Carolina Cristianini
Dos barcos leves da Antiguidade aos transatlânticos, o homem convive com o perigo dos naufrágios. Hoje, cada embarcação que repousa no fundo do mar conta uma parte da história das navegações.
Titanic, de 1998, é o filme mais visto de todos os tempos (só no Brasil, atraiu mais de 16 milhões de espectadores). Ele conta a trágica saga do transatlântico que, em 1912, bateu no gelo e afundou no Atlântico Norte. Bem ao gosto de Hollywood, a história tem aventura, suspense e drama – mas não é assim tão original. Desde o começo das navegações pelo oceano, por volta de 4000 a.C., os homens têm que encarar a ameaça dos naufrágios.
É provável que os primeiros a explorar o mar longe da costa tenham sido moradores das ilhas do Pacífico, viajando em pequenas embarcações em busca de novos locais de pesca. Na Antiguidade, algumas civilizações se tornaram verdadeiros impérios navais, como a dos fenícios. Naquela época, as navegações costumavam ser costeiras, e o perigo maior estava em ser jogado pelas ondas contra os rochedos.
Durante a Idade Média, as nações mais poderosas da Europa deixaram as águas e seus perigos um pouco de lado. “O mar era secundário porque o poder estava nas mãos de quem tinha terras, nos feudos”, diz Leandro Domingues Duran, pesquisador de História Marítima da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O fim do período medieval, no século 15, foi marcado pela chegada das grandes navegações. Portugal e Espanha saíram na frente, colocando a América nos mapas e nas rotas marítimas.
Mesmo com incêndios, tempestades e a ameaça de ataques de militares inimigos e piratas, navegar era preciso. Até o século 20, os navios seguiram como protagonistas das relações entre os países. A maré começou a mudar em junho de 1919, quando os ingleses Arthur Whitten Brown e John Alcock se tornaram os primeiros a cruzar o Atlântico pelo ar sem escalas, saindo do Canadá e pousando na Irlanda. O glamour dos transatlânticos foi ofuscado pela agilidade do avião – que, além de transportar pessoas e carga em tempos de paz, mostrou-se mortal em tempos de guerra. Hoje, para estudar os milênios em que os navios dominaram o mundo, os arqueólogos têm que olhar para o fundo do mar. Veja, a seguir, oito casos que contam um pouco da história das navegações.

Mistério mediterrâneo
Muita coisa mudou nos últimos 3 mil anos – mas o inverno na costa mediterrânea da Turquia continua hostil aos marinheiros. Provavelmente foram as chuvas e os ventos fortes dessa estação que fizeram o Uluburun naufragar, por volta de 1300 a.C. Ele foi achado em 1983, quando um pescador de esponjas notou algo estranho no fundo de um precipício marinho. Com suas 24 âncoras de pedra, o barco foi batizado com o nome da região em que foi encontrado, perto da cidade turca de Kas.
Mais antigo naufrágio já estudado, o Uluburum ainda é um enigma para a arqueologia marinha. “O mais provável é que ele estivesse em missão diplomática e comercial em direção a Micenas, na Grécia”, diz Julio Gralha, professor de História Antiga da Unicamp. Acredita-se que o barco levasse presentes de um soberano sírio para um dirigente grego.
As pesquisas no Uluburun começaram ainda em 1983, lideradas pelo arqueólogo americano George F. Bass. No barco foram achadas 10 toneladas de cobre e estanho, provenientes do Chipre – provavelmente uma das escalas da viagem. Também foram resgatados objetos de vidro característicos da Síria e da Palestina. Entre os artigos de luxo encontrados havia um escaravelho dourado com o nome da egípcia Nefertiti, que reinou no Egito na segunda metade do século 14 a.C.

Mestres dos mares
Nem o nome adiantou. Batizado em homenagem ao deus fenício protetor dos navegadores, o Melkarth foi a pique em meados do século 5 a.C., provavelmente numa tempestade que o jogou contra os rochedos no Mediterrâneo. Esse era um risco constante mesmo para os fenícios, exímios navegadores. Por viver numa faixa estreita entre a montanha e o mar (que hoje fica no Líbano e na Síria), eles não tinham terras boas para a agricultura. Mas, a partir de 1400 a.C., construíram uma grande rede de comércio marítimo no Mediterrâneo, comprando matérias-primas baratas e vendendo produtos manufaturados.
O Melkarth foi descoberto em 1998, pela equipe da Odyssey Marine Exploration, empresa americana especializada na busca de embarcações naufragadas. Ele estava rodeado por cerca de 200 ânforas. De acordo com o mergulhador americano Greg Stemm, diretor de operações da Odyssey, esses jarros de cerâmica, usados para transportar produtos como mel e vinho, eram típicos da antiga colônia fenícia de Cartago, no norte da África.

Caravela pioneira
A invasão da cidade de Constantinopla pelos turcos-otomanos, em 1453, criou um grande problema para o Ocidente. O porto daquela cidade ligava o Mediterrâneo ao Mar Negro e servia como porta de entrada para a Ásia. Com essa passagem bloqueada, o Atlântico virou o principal caminho para encontrar novas rotas até as riquezas do Oriente. Portugal, então, despontou como potência marítima.
O trunfo dos lusitanos eram as ágeis caravelas, das quais o Ria de Aveiro A foi uma versão pioneira, construída em carvalho. De acordo com a análise dos destroços, a caravela afundou entre 1424 e 1469, vítima de um incêndio. A tripulação, que não devia passar de cinco homens, não deve ter tido chances de sobrevivência: apenas um em cada dez marinheiros portugueses da época sabia nadar.
O barco ganhou esse nome porque foi achado na Ria de Aveiro, uma laguna próxima à cidade de Aveiro – a façanha coube a um pescador, em 1992. A cerâmica presente na embarcação virou referência para os estudiosos, já que em sítios arqueológicos terrestres, que ficam expostos, é quase impossível encontrar muitas peças de uma mesma época juntas e inteiras.

Morte na armada
Em julho de 1588, sob as ordens do rei Filipe II, zarparam da Espanha 130 barcos, com cerca de 25 mil homens. Seu objetivo, após dois anos de preparativos, era mais do que ambicioso: invadir a Inglaterra. Mas, na noite de 27 de julho, a Armada Espanhola, chamada de “invencível”, foi apanhada de surpresa pelos britânicos e derrotada. Os navios espanhóis que sobraram bateram em retirada rumo à terra natal. Entre eles, a galera Girona.
Com 531 tripulantes, o navio não resistiu aos ventos fortes de uma tempestade e teve o leme quebrado. Para fazer os reparos, a tripulação seguiu rumo à Escócia. No caminho, socorreu os marinheiros de outros dois barcos da frota, o que resultou numa superpopulação a bordo, beirando 1300 pessoas. Em 28 de outubro, uma nova tempestade jogou a galera contra um rochedo. O Girona partiu-se ao meio. Acredita-se que menos de dez tripulantes tenham sobrevivido.
Em 1965, o mergulhador belga Robert Sténuit começou a procurar o Girona. Conversando com os moradores do norte da costa irlandesa, que conheciam histórias sobre o naufrágio, ele chegou à baía de Port Na Spaniagh, na região de Antrim. Lá, em 1967, achou o navio. Entre os mais de 12 mil objetos recuperados, estavam dois canhões de bronze e uma pequena fortuna em jóias e pedras preciosas.

Tesouro das Américas
A derrota para os ingleses freou a expansão do Império Espanhol, mas não o impediu de continuar explorando suas colônias na América. Galeões voltavam para a Espanha cheios de prata, ouro, pedras preciosas e produtos agrícolas. Normalmente, viajavam em comboio por questão de segurança. Em 4 de setembro de 1622, junto a outros 27 barcos, o Nossa Senhora de Atocha zarpou de Havana (hoje capital de Cuba) com a missão de proteger a retaguarda da frota.
Após a partida, o clima começou a piorar. O mar ficou revolto e, no dia seguinte, o Atocha e outras quatro embarcações entraram numa grande tempestade. Era um furacão. Com as velas danificadas e os mastros partidos, o galeão já não podia manobrar. Em 6 de setembro, foi lançado contra recifes e afundou rapidamente. Das 265 pessoas a bordo, apenas cinco se salvaram.
A carga submersa ficou conhecida como o Tesouro das Américas: incluía 24 toneladas de prata e 125 barras de ouro. Os esforços para encontrar o Atocha só cessaram em 1985, quando a equipe da Treasure Salvours, empresa americana especializada em buscas submarinas, o localizou no sul da Flórida, recuperando parte do tesouro.

Armas inúteis
“O desejo de Deus será cumprido.” Foi o que o capitão inglês John Wordsworth disse ao saber que o seu Earl of Abergavenny afundaria em minutos. O navio era um dos maiores da Companhia Inglesa das Índias Orientais – organização comercial fundada em 1599 que, após dois séculos de disputa contra holandeses, conseguira dominar as rotas que levavam à Índia e à China. A embarcação tinha zarpado de Portsmouth, na Inglaterra, em 1º de fevereiro de 1805, rumo à China. Levava uma fortuna em moedas de prata e mercadorias.
No século 19, mesmo os navios mercantes ingleses eram fortemente armados com canhões – o Earl of Abergavenny tinha 30. Naquela época, por causa dos ataques de piratas, essa precaução era necessária (entre 1805 e 1815, nada menos que 5314 embarcações britânicas foram capturadas por corsários). Mas isso nada adiantou contra as forças da natureza. Após quatro dias de mau tempo, ventos danificaram os mastros e o comandante decidiu voltar. Na noite do dia 5 de fevereiro, a embarcação chocou-se contra rochedos no cabo de Portland, ao sul da Inglaterra. Os porões se encheram de água e, às 23h, o navio afundou. Das 402 pessoas a bordo, pelo menos 260 morreram.
No final de 1805, após tentativas fracassadas de resgatar as mercadorias, entrou em cena o inglês John Braithwaite. Para descer até o Earl of Abergavenny, ele usou um sino de mergulho – uma espécie de escafandro primitivo, com uma mangueira de ar ligada à superfície. Com a engenhoca, ele recuperou boa parte da carga.

O fim do mito
No início do século 20, cerca de 1 milhão de imigrantes chegavam anualmente aos Estados Unidos. Muitos eram europeus que queriam fazer negócios ou procurar trabalho. Na luta pela liderança no transporte de passageiros no Atlântico Norte, a empresa inglesa White Star Line construiu três navios: o Olympic, o Titanic e o Britannic. O segundo ficaria muito famoso, mas não pelos motivos desejados.
Com 46 mil toneladas, o Titanic era considerado insubmergível. Ele partiu para sua viagem inaugural em 10 de abril de 1912, de Southampton, na Inglaterra, rumo a Nova York. No dia 14, o capitão Edward J. Smith recebeu seis avisos de outros navios sobre a existência de icebergs na região, mas não achou que gelo flutuante pudesse ameaçar o Titanic. Sua confiança iria por água abaixo. Às 23h40, o sino dos vigias tocou três vezes, indicando algo estranho no caminho. Era um enorme iceberg. A ordem foi dar marcha à ré a toda potência. De nada adiantou. A massa de gelo bateu contra o casco, fazendo cortes e buracos em seis compartimentos da proa, logo invadidos pela água.
Às 2h20 do dia 15, o Titanic submergiu, matando 1522 das 2227 pessoas a bordo. Mais de 70 anos se passaram até que, em setembro de 1985, o explorador americano Robert Ballard conseguiu localizar os destroços da tragédia, a 3,5 quilômetros de profundidade. Uma sonda fotografou partes do Titanic, como caldeiras e chapas de aço. As imagens confirmaram que, conforme relatos da época, o navio se partiu em dois antes de afundar.

A gota d’água
Quando a companhia White Star Line encomendou o Titanic, um dos objetivos era superar o Lusitânia, orgulho da rival Cunard Line. Esse luxuoso transatlântico de 1906 fazia uma vez por mês o trajeto entre Liverpool, na Inglaterra, e Nova York, nos Estados Unidos. Ele conseguiu sobreviver aos icebergs do Atlântico Norte, mas não escapou de um destino trágico.
Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914, submarinos alemães saíram à caça de barcos britânicos. Mesmo sabendo do perigo, no dia 1º de maio do ano seguinte, 1962 pessoas embarcaram no Lusitânia e saíram dos Estados Unidos rumo à Inglaterra. Nos seis primeiros dias da viagem, 23 navios mercantes foram atacados no Atlântico Norte. O Lusitânia quase escapou, mas, perto da Irlanda, foi atingido por um torpedo alemão. Em 18 minutos, foi a pique.
Foram resgatados 764 sobreviventes. Entre os mortos, estavam 128 cidadãos americanos. O naufrágio acabou sendo um dos argumentos para que, em 1917, os Estados Unidos decidissem entrar na Primeira Guerra – ao lado dos ingleses e contra os alemães. O primeiro a explorar os destroços foi o mergulhador americano John Light, em 1960.

Melkarth
Origem: Fenícia

Carga: ânforas (vasos de cerâmica) com produtos variados
Comprimento: 15 metros

Data do naufrágio: meados do século 5 a.C.
Localização: região oeste do Mar Mediterrâneo (encontrado em 1998)

Uluburun
Origem: Síria
Carga: lingotes de cobre e estanho, vidro, jóias e frascos de perfume
Comprimento: 16 metros
Data do naufrágio: cerca de 1300 a.C.
Localização: costa da Turquia, próximo à cidade de Kas, (encontrado em 1983)
Nossa Senhora de Atocha
Origem: Espanha
Carga: prata, ouro, moedas e jóias
Mortos: 260 pessoas
Comprimento: 33,5 metros
Peso: 550 toneladas
Data do naufrágio: 6 de setembro de 1622
Localização: sul da Flórida, nos Estados Unidos (encontrado em 1985)
Girona
Origem: Espanha
Carga: 50 canhões, chumbo e cerâmica
Mortos: cerca de 1290 pessoas
Comprimento: 45 metros
Peso: 800 toneladas
Data do naufrágio: 28 de outubro de 1588
Localização: região de Antrim, ao norte da Irlanda (encontrado em 1967)
Ria de Aveiro A
Origem: Portugal
Carga: cerâmica
Mortos: três a cinco pessoas
Comprimento: 18 metros
Data do naufrágio: entre 1424 e 1469
Localização: Ria de Aveiro, Portugal (encontrado em 1992)
Titanic
Origem: Inglaterra
Carga: passageiros
Mortos: 1522 pessoas
Comprimento: 270 metros
Peso: 46329 toneladas
Data do naufrágio: 15 de abril de 1912
Localização: Atlântico Norte (encontrado em 1985)
Earl of Abergavenny
Origem: Inglaterra
Carga: metais (como prata, cobre e estanho), porcelana, bebidas e vidro
Mortos: cerca de 260 pessoas
Comprimento: 176 metros
Peso: 1400 toneladas
Data do naufrágio: 5 de fevereiro de 1805
Localização: sul da Inglaterra
Lusitânia
Origem: Inglaterra
Carga: passageiros e munição
Mortos: 1198 pessoas
Comprimento: 240 metros
Peso: 31550 toneladas
Data do naufrágio: 7 de maio de 1915
Localização: litoral sul da Irlanda

Aventuras na História n° 040

Fatos históricos no mês de dezembro


Maria Carolina Cristianini
1530- Liderada pelo navegador Martim Afonso de Sousa, uma frota com cinco embarcações e mais de 400 pessoas parte de Lisboa rumo ao Brasil com algumas missões. Combater os navios franceses que cobiçavam o território, encontrar uma rota aberta anos antes por terra em direção ao rio da Prata e estabelecer núcleos de povoamento no litoral brasileiro eram as principais metas. Começava, de fato, a colonização. Em três anos, Martim Afonso lutou contra piratas franceses, enviou um aliado para explorar o litoral do Maranhão, chegou à baía de Guanabara, mandou 100 homens para encontrar a rota por terra para o rio da Prata (e eles foram mortos por índios carijós), sobreviveu a um naufrágio, fundou a cidade de São Vicente (em 1532) e, no planalto, a vila de Piratininga – no local em que depois se ergueria São Paulo.

37- Sob o nome de Lucius Domitius Ahenobarbus, nasce o futuro imperador romano Nero. Filho adotivo do imperador Cláudio, assumiu o controle do Império em 54, iniciando um governo tirano. Nero ordenou assassinatos como o de sua mãe biológica e de seu meio-irmão e acusou os cristãos do incêndio de 64 em Roma. Quatro anos depois, foi deposto pelo Senado e suicidou-se.

Dia 15, na Itália

406- Após cruzarem sem dificuldades o rio Danúbio rumo ao Império Romano, os vândalos derrotam os francos, cruzam o rio Reno e partem para invadir a Gália, uma província romana localizada no atual território francês.
Dia 31, ao norte da Gália

1788- Alguns dos principais líderes da Inconfidência Mineira se reúnem na casa do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade. Esse foi o último encontro conspiratório que definiu a revolta contra a Coroa, que pretendia cobrar um imposto extra, a derrama, a partir de fevereiro.
Dia 26, em Minas Gerais

1823- James Monroe, então presidente dos Estados Unidos, cria a Doutrina Monroe, princípios contra a intervenção européia no continente americano que se tornaram a base das relações daquele país com o mundo na época.
Dia 2, nos Estados Unidos

Eu me lembro
"(...) Os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia. (...) Não poderíamos considerar senão como manifestação de sentimentos hostis contra os Estados Unidos qualquer intervenção de alguma potência européia com o propósito de oprimi-los ou de contrariar, de qualquer modo, os seus destinos."

Trecho da mensagem de James Monroe dirigida ao Congresso
1865- Depois da Guerra Civil americana, seis veteranos sulistas organizam a Ku Klux Klan na cidade de Pulaski, estado do Tennessee. A sociedade se tornaria um dos maiores expoentes de intolerância racial do país.

Dia 24, nos Estados Unidos
Eu me lembro

"Eu tinha 19 anos e, da queda, só me lembro do barulho e da neve entrando no avião. Mesmo machucados e vendo nossos amigos morrerem, conseguimos sobreviver a todos aqueles dias até que duas pessoas, percebendo que o resgate não viria, decidiram buscar ajuda andando no meio dos Andes. Eles encontraram um homem, que foi procurar auxílio. Helicópteros vieram nos buscar. Naquele momento, a sensação foi de vitória. Nós fizemos tudo para viver e o resto foi Deus. O melhor momento do resgate foi reencontrar meus pais e minha namorada."
Álvaro Mangino, uruguaio, sobrevivente do acidente

1972- Após caminharem por dez dias pelas montanhas, sobreviventes do avião uruguaio Fairchild-F227, que havia caído 72 dias antes na Cordilheira dos Andes, são resgatados. Além de suportarem baixas temperaturas, as 16 pessoas que resistiram tiveram que se alimentar de carne humana. Estavam a bordo 40 passageiros, entre estudantes e jogadores de rúgbi, e cinco tripulantes.
Dia 22, na Cordilheira dos Andes

1983- A taça Jules Rimet é roubada da sede da Confederação Brasileira de Futebol. O troféu estava definitivamente aqui desde o tricampeonato mundial, em 1970.
Dia 19, no Rio de Janeiro

1988- Faltando poucos minutos para a virada do ano, o Bateau Mouche IV naufraga na entrada da baía da Guanabara. Das 150 pessoas que estavam a bordo, 55 morreram – entre elas, a atriz Yara Amaral.
Dia 31, no Rio de Janeiro

Eu me lembro
"Na noite anterior houve uma ressaca e, mesmo com medo do mar, Yara foi para o Bateau Mouche. A dona da casa de uma festa onde estavam meus filhos me falou sobre o acidente. Dei a notícia às crianças e preparei-as para o pior. Veio a confirmação da morte e só a reconheci por uma cicatriz no pulso, depois de ver corpos inchados. Foi uma noite terrível, um dos piores momentos de toda minha vida."

Luiz Fernando Goulart, diretor e produtor de cinema, ex-marido de Yara Amaral

Aventuras na História n° 040