Yuri Vasconcelos
Muita gente nem imagina, mas nas praias arenosas vivem
escondidas várias espécies marinhas. São animais difíceis de ver porque são
muito pequenos - alguns até invisíveis ao olho nu - e porque vivem enterrados e
camuflados. "Boa parte dos bichos tem coloração parecida com a da areia.
Para identificar a presença deles, é mais fácil ficar atento aos pequenos
furinhos no chão e aos rastros deixados", afirma o biólogo Álvaro Migotto,
do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP). Quase
todos os grandes grupos de animais marinhos, como crustáceos, moluscos e
anelídeos, estão presentes nesse ecossistema. As milhares de espécies que vivem
à beira-mar podem habitar três diferentes segmentos da areia: a faixa superior,
mais longe da água, que só é coberta pelas ondas em marés altas bem fortes; a
faixa mediana, atingida pela maré duas vezes ao dia; e a faixa inferior, quase
sempre submersa.Os animais também estão classificados dentro de três categorias, conforme o seu tamanho: macrofauna (bichos com mais de 1 milímetro), meio fauna (de 0,1 milímetro a 1 milímetro) e microfauna (abaixo de 0,1 milímetro). "Apesar de invisíveis para nós, os animais da meio fauna e da microfauna são extremamente numerosos e muito importantes em termos ecológicos e zoológicos. Eles vivem nos espaços entre os grãos de areia", afirma Migotto. Os bichos mais conhecidos por quem frequenta a praia, no entanto, pertencem à macrofauna e medem de 2 a 20 centímetros. Entre eles, há a tatuíra, o vôngole, o caranguejo guaruçá, a bolacha-da-praia, os gastrópodes e o corrupto. Além desses moradores fixos, o ecossistema à beira mar também recebe muitos visitantes, como as gaivotas e os maçaricos, aves que exploram a areia em busca de alimento nas marés baixas. Nas marés altas é a vez de peixes e crustáceos saírem do fundo do mar para procurar comida na praia submersa.
Fauna camuflada
A gente quase não vê, mas muitos bichos podem ser
encontrados à beira-mar.
AMEAÇA AÉREA
Os seres que vivem na
beira da praia estão constantemente na mira de algumas aves marinhas. Com seus
bicos finos e longos, os maçaricos procuram os pequenos crustáceos e moluscos
que vivem enterrados na areia. As gaivotas, por sua vez, se alimentam de peixes
ou de restos de outros organismos.
VIDA NOTURNA
Por ter uma cor
branco-amarelada e ter o costume de só sair da toca à noite, o guaruçá (Ocypode
quadrata) também é chamado de caranguejo-fantasma. Outro de seus apelidos é
maria-farinha. Ele cava galerias na areia, onde passa o dia escondido do sol.
Para evitar a água do mar, as galerias ficam no limite extremo da areia, perto
da vegetação litorânea.
RÁPIDO NA FUGA
O tatuíra (Hipa sp.) é um crustáceo muito popular em toda a
costa brasileira e recebe diferentes nomes, como tatuí, pulga-do-mar e
tatuzinho-de-praia. Ele mede cerca de 4 centímetros e vive em buracos cavados
na areia. Veloz, o tatuíra se enterra rapidamente quando a água da onda volta
para o mar, deixando-o desprotegido.
MOLUSCO APETITOSO
O vôngole (Tivella
mactroides) é um dos muitos molucos bivalves — com concha formada por duas
peças simétricas — que habitam as praias. Ao contrário do mexilhão, que fica
grudado nas pedras, o vôngole prefere viver na areia de praias quase lodosas e
sem arrebentação muito forte. O animalzinho é muito apreciado na culinária
litorânea.
CORRUPTOS ANÔNIMOS
Vivendo em tocas
profundas na areia e raramente vistos,
os corruptos são um tipo de crustáceo que se subdivide em mais de 90 espécies.
Algumas delas medem poucos milímetros, mas existem aquelas que chegam a cerca
de 30 centímetros! Os corruptos se alimentam de restos orgânicos e pequenos
animais que entram nas suas galerias.
CONCHA OCUPADA
Os gastrópodes formam
o mais numeroso grupo de moluscos. Os caracóis, os búzios e aslebres-do-mar são
os tipos mais conhecidos de gastrópodes marinhos. A maioria deles apresenta
concha em forma de espiral, dentro da qual se aloja o corpo do animal. É com
essas conchas que, quando abandonadas, as pessoas acreditam poder ouvir o som
do mar.
ESTRELA SEM PONTAS
A bolacha-da-praia
(Encope emarginata) pertence ao filo dos equinodermos, que reúne animais como
os ouriços-do-mar e as estrelas-do-mar. Ela possui um esqueleto calcário
interno que se mantém normalmente inteiro após a morte do animal e que pode ser
encontrado jogado na praia, entre conchas vazias e outros restos de animais e
vegetais.
Revista Mundo Estranho Edição 23/ 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário