Rodrigo Ratier
Sandy e Junior, essa questão, que serve de pano de fundo
para o filme Acquaria, estrelado por vocês dois, promete ser uma das principais
encrencas deste século. Para dar uma idéia do rolo, a Organização das Nações
Unidas (ONU) calcula que hoje já existam 1,1 bilhão de pessoas sem acesso à
água potável. À primeira vista, o problema é a escassez do líquido - afinal,
apenas 2,5% da água do planeta é doce. Como a maior parte dessa reserva está no
gelo dos pólos e das montanhas, sobra menos de 0,1% nos rios, lagos e lençóis
subterrâneos para a gente usar. A cobiça pelo "ouro azul" é tanta
que, nos últimos 50 anos, mais de 500 conflitos tiveram a água como motivo
principal. "Mesmo assim, a questão fundamental não é a quantidade de água:
por enquanto, consumimos apenas 12% do líquido disponível. O problema é o mau
uso desse recurso. Isso, sim, pode agravar ainda mais a crise de
abastecimento", diz o geólogo Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo
(USP).Para diminuir a gastança, a solução é combater o desperdício e reutilizar a água potável. De nossa parte, a chave é mudar hábitos para economizar. Portanto, Sandy, evite tomar banhos longos - pelas contas dos especialistas, 37% da água usada para o consumo humano vai para o ralo nas chuveiradas intermináveis. E, Junior, nada de fazer a barba com a torneira aberta - em apenas cinco minutos, o desperdício chega a 80 litros! De resto, é aplicar a lição que todo mundo já conhece, fechando bem as torneiras, regulando as descargas e evitando esbanjar água lavando a rua.
Por uma gota
Desperdício e maus
hábitos podem secar bilhões de torneiras ainda neste século.
PLANTAÇÕES AFOGADAS
De toda a água usada
no mundo, cerca de 70% vão para a agricultura, 22% ficam nas indústrias e só 8%
seguem para o consumo humano. Nas plantações, mais de 60% do líquido utilizado
na irrigação é desperdiçado em vazamentos, na evaporação ou na infiltração no
subsolo. Com técnicas mais eficientes, a perda poderia ser reduzida em até 70%.
ESCASSEZ CRESCENTE
Para satisfazer suas
necessidades diárias, cada ser humano precisa de 20 a 50 litros de água. Mas,
pelas contas da ONU, 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a água de boa
qualidade. Mesmo no Brasil, considerado o país mais rico do mundo em água doce
(13% das reservas mundiais estão por aqui), a situação é grave: cerca de um
quinto da população não recebe água encanada em casa.
FONTE CONDENADA
A cada dia, 2 milhões
de toneladas de sujeira são despejadas nos rios do mundo. No Brasil, 80% do
esgoto coletado vai parar em cursos d’água sem receber nenhum tratamento. Para
reverter o problema, a ação básica é a despoluição, que, além de recuperar os
rios para o abastecimento, reduz a ocorrência de doenças transmitidas pela água
contaminada.
ENGENHARIA ANTIQUADA
Sistemas sanitários
antigos são outro buraco de desperdício. No Brasil, ainda há poucas torneiras
de pressão, ralos estreitos ou privadas modernas (modelos fabricados antes de
2000 gastam o triplo de líquido em uma descarga), que induzem uma economia forçada
de água. O investimento na troca de equipamentos compensa, pois pode gerar uma
economia de até 70% na conta.
CANO FURADO
No mundo todo, pouco
mais da metade da água captada em rios e lagos chega de fato à torneira. Em uma
cidade como São Paulo, 20% se perdem em vazamentos e outros 20% em ligações
clandestinas. Deter esse sumiço é um trabalho demorado, que demanda análise
cuidadosa de cada metro da tubulação.
USO IMPRÓPRIO
O Brasil é um dos
poucos países que esbanjam água potável para atividades que não exigem um
líquido tão puro, como a lavagem de ruas ou de carros. No primeiro mundo, a
maioria dos países conta com algum programa de reuso da água. Em Israel, país
afetado pela escassez, 70% da água suja é tratada para ser reaproveitada depois.
Revista Mundo Estranho Edição 22/ 2003
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