Roberto Navarro
Travada na segunda metade do século 19, ela foi o mais
sangrento conflito da América Latina independente e o mais importante da
história do Brasil. "A guerra durou cinco anos e mobilizou cerca de 140
mil brasileiros, dos quais morreram uns 50 mil", diz o historiador
Francisco Doratioto, da Universidade Católica de Brasília. Em meados do século
19, o Paraguai se estranhava com o Brasil e a Argentina por causa de disputas
comerciais e fronteiriças. Ao mesmo tempo, o Uruguai se esforçava para manter
sua independência diante dos interesses de brasileiros e argentinos no seu
território. Em 1864 e 1865, Francisco Solano López, ditador paraguaio, lançou
ataques contra o Brasil (no Mato Grosso e no Rio Grande do Sul) e contra a
Argentina para desestimular as interferências dos dois países na política
uruguaia.Em resposta aos ataques, o Brasil, quem diria, uniu-se à Argentina e ao Uruguai, formando a Tríplice Aliança. Em pouco tempo, as tropas aliadas reuniram mais soldados que o Exército de Solano López e não só o fizeram recuar das invasões como deram o troco, entrando no Paraguai. Entre 1865 e 1868, ocorreram inúmeras batalhas sangrentas, causando pesadas baixas de ambos os lados. Mas, em dezembro de 1968, o Exército paraguaio já estava aniquilado e logo as tropas brasileiras ocuparam Assunção. Solano López, porém, só seria morto em março de 1870, quando definitivamente o confronto foi encerrado. O resultado da guerra foi trágico para o Paraguai: sua economia foi destruída, boa parte da população dizimada e o país ainda perdeu uma área equivalente a um terço do seu território atual, terras que foram anexadas ao Brasil e à Argentina.
Batalha decisiva
Ataque paraguaio a acampamento de brasileiros e aliados
causou 17 mil baixas.A maior batalha campal da América do Sul foi travada em 24 de maio de 1866, em Tuiuti, no sul do Paraguai. Numa estreita faixa de terra, cercada de pântanos e matagais, os aliados (Brasil, Argentina e Uruguai) tinham um acampamento que foi atacado por mais de 20 mil paraguaios, num combate que durou quatro horas. Entre mortos e feridos, os paraguaios tiveram 13 mil baixas e os aliados, 4 mil. A derrota enfraqueceria decisivamente o Paraguai.
1. Mosquetes, sabres
e baionetas
Uma das armas mais
usadas na Guerra do Paraguai era o mosquetão. Carregado pela boca, ele podia
ter acoplada ao cano uma baioneta, para as lutas homem a homem. Os oficiais
usavam sabres longos e revólveres ou pistolas. Os paraguaios tinham armas de
fogo inferiores, mas, por outro lado, destacavam-se usando lanças de madeira.
2. Força cavalar
Em Tuiuti, a
cavalaria brasileira era numericamente inferior à paraguaia, mas conseguiu
prevalecer sobre o inimigo. Um dos segredos estava na alimentação dos animais.
Enquanto os cavalos paraguaios pastavam capim, parte dos brasileiros era criada
com milho, o que os deixava mais fortes.
3. Tática inovadora
Nesta batalha,
ocorreram combates corpo-a-corpo, com os soldados se enfrentando a golpes de
baioneta, mas boa parte da Guerra do Paraguai foi travada entre tropas
imobilizadas em trincheiras, tática que seria muito usada na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Atiradores se
especializavam em matar à distância inimigos que se expunham.
4. Defesa espinhosa
Na frente do
acampamento em Tuiuti, os aliados construíram um fosso largo e profundo, com
elevações onde foram posicionados 28 canhões. Essa linha de defesa contava
ainda com fossos camuflados com afiadas estacas de madeira no fundo. Os
paraguaios tinham alguns canhões, mas a superioridade da artilharia aliada era
esmagadora e decidiu a batalha.
5. Acampamento ou
cidade?
As tropas aliadas
ficaram quase dois anos paradas em Tuiuti. Perto do acampamento, comerciantes
ergueram barracas para vender armamentos, bebidas e comidas, para complementar
os suprimentos fornecidos aos militares. Também viviam no local algumas
famílias de soldados, além de muitos fotógrafos civis e prostitutas.
6. Entregues à
própria sorte
Hospitais de campanha
providenciavam os primeiros socorros aos feridos, mas os medicamentos eram
escassos e muitas vezes faltava
anestesia para cirurgias e amputações. Não havia gente suficiente para resgatar
os feridos, que em várias ocasiões foram abandonados onde haviam caído, sendo
mais tarde executados pelos inimigos.
7. Confusão de fardas
Vindos de várias
regiões diferentes, os soldados brasileiros e seus aliados usavam uma enorme
variedade de uniformes, embora predominasse a farda azul. Já os soldados
paraguaios tinham um quepe característico, de couro rígido, além de camisa
vermelha. Quase todos os paraguaios combatiam descalços, incluindo alguns
oficiais.
Revista Mundo Estranho Edição 22/ 2003
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