Tudo indica que por um bom tempo essa viagem vai ficar só na
ficção. Os cientistas até imaginam como teletransportar gente - difícil mesmo é
concretizar a experiência. Aliás, a hipótese concebida pelos físicos não tem
nada a ver com o que acontecia na série Jornada nas Estrelas. Lembra? O capitão
Kirk ficava debaixo de um feixe de luz, sumia da nave Enterprise e se
materializava em outro planeta. Essa idéia foi cientificamente descartada há
dez anos, quando o físico americano Charles Bennett demonstrou que o
teletransporte é possível, mas com uma condição: o que chega ao destino não é o
passageiro, mas um xerox do sujeito. Seu corpo, suas memórias, emoções e tudo o
mais estariam na cópia, só que materializados em átomos diferentes. O que viaja
pelo espaço são as informações sobre o comportamento das partículas que formam
cada átomo do corpo humano, números que seriam "impressos" em outros
átomos na hora de construir a cópia idêntica.
Mas, como essas
partículas que formam os átomos são complexas e delicadas, o único jeito de
transportar corretamente todos os seus dados sem sofrer interferência dos
equipamentos é fazer com que as partículas possam se comunicar de forma
instantânea, mesmo sem ter nenhuma ligação física. Esquisito, não? Mas o
entrelaçamento, nome dessa condição surreal, é a chave para o teletransporte.
"Ele permite montar partículas com propriedades idênticas mesmo que uma
esteja longe da outra", diz o próprio Charles Bennett, criador dessa
teoria de teletransporte. Só para dar um exemplo: em um teletransporte entre
São Paulo e Plutão, se uma partícula fosse alterada por aqui, a outra se modificaria
instantaneamente no distante planeta. O mais incrível é que essa idéia maluca
já funcionou na prática.No final da década de 90, o físico inglês Samuel Braunstein, da Universidade de York, na Inglaterra, usou o entrelaçamento para teletransportar um feixe de raio laser em um laboratório. "Mas os elementos luminosos são muito mais simples que um átomo. Para teletransportar uma pessoa, a quantidade de informações seria trilhões de vezes maior. Resta saber quando lidaremos com isso de forma precisa", diz Braunstein.
Não fazemos qualquer negócio
O físico Samuel Braunstein já teletransportou um raio laser,
mas a ciência está longe de repetir isso com humanos.
1. Antes de ser
teletransportada, uma pessoa precisaria se submeter a duas técnicas para
transmitir as informações dos átomos que a compõem. A primeira delas é uma
espécie de escaneamento. Um aparelho especial leria as informações das
partículas que formam o indivíduo para depois mandá-las para outro lugar. É
como se fosse uma transmissão de fax — a diferença, como veremos adiante, é que
o original é jogado fora!
2. Como o
escaneamento não consegue captar 100% das características atômicas, o
teletransporte exigiria uma segunda técnica, o entrelaçamento, que usa
"bolos de matéria" com átomos tratados em laboratório, capazes de se
comunicarem entre si mesmo a uma grande distância. Nessa curiosa condição, é
como se as informações mais sutis passassem instantaneamente de um átomo aqui
na Terra para outro entrelaçado que esteja em Plutão, por exemplo.
3. Hoje, já existem máquinas que escaneiam e entrelaçam
fótons e raios laser, mas nenhuma consegue fazer isso com um átomo, que dirá
com um indivíduo inteiro. Mas, se o teletransporte humano se tornasse possível,
os cientistas usariam equipamentos com o mesmo princípio para entrelaçar um
monte de átomos. Metade deles ficaria num "bolo de matéria" na
estação de partida do teletransporte e o resto ficaria na estação de chegada.
4. Quando a pessoa
entrasse na cabine de partida, ela seria escaneada e entrelaçada com o
"bolo de matéria" de átomos existentes no local — que por sua vez já
estariam entrelaçados com o "bolo de matéria" do ponto de chegada. A
cena seria surreal: os átomos do sujeito se desintegrariam e o indivíduo
original viraria uma massa disforme e sem vida na estação de partida.
5. O fato de os dois
"bolos de matéria" (no ponto de partida e no de chegada) estarem
entrelaçados não seria suficiente para reconstruir a pessoa no destino final,
pois sozinhos os dados do entrelaçamento não dizem nada sobre as características
do sujeito. Seria preciso passar por uma outra etapa, que seria a transmissão
das informações captadas no escaneamento inicial. Esses dados seriam enviados
para o ponto de chegada por ondas de rádio.
6. As informações
escaneadas ajudariam a traduzir os dados do entrelaçamento na cabine de
chegada. Aí, cada um dos átomos do "bolo de matéria" do destino
poderia ser moldado para formar uma cópia exata do sujeito. O problema é que
precisaríamos fazer isso com todos os átomos do corpo humano. O total é enorme:
nada menos que o número 1 seguido de 29 zeros!
Revista Mundo Estranho Edição 22/ 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário