É clássica a crença de que alguns animais cometem suicídio.
Muitas pessoas pensam que os escorpiões, quando encurralados pelo fogo, picam a
si mesmos para abreviar o sofrimento e acabar com a própria vida. Outros acham
que os lemingues se lançam ao mar num cinematográfico suicídio para abrir
espaço para outras populações. "Essas crenças não têm nenhum fundamento. A
evolução costuma selecionar organismos que tenham mecanismo de sobrevivência
individual, não mecanismos de interrupção da vida", afirma o etólogo
(estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo
(USP).
Dessa forma, o
suicídio enquanto morte intencional não faz sentido dentro de uma perspectiva
biológica entre os animais irracionais. "Podemos dizer que o suicídio é
uma prerrogativa do ser humano. A capacidade simbólica de que dispomos nos
torna capazes de prever e de precipitar nossa morte", diz Ades. O
especialista, no entanto, faz uma ressalva: "É verdade que os animais
podem expor sua vida - e mesmo perdê-la - em função de uma defesa da própria
existência da espécie". É o que ocorre com certos tipos de aves que,
quando o ninho onde criam seus filhotes é ameaçado, se arrastam no chão, bem à
vista do predador em potencial, simulando uma asa quebrada. Ou ainda o que
ocorre com algumas espécies de aranhas encontradas na Austrália e na região do
Mediterrâneo, na Europa, que se deixam ser devoradas pelos filhotes numa
bizarra estratégia de perpetuação da espécie.
Parece, mas não é
Engana-se quem pensa
que lemingues e escorpiões se matam .
Picada por engano
Quando o escorpião é
acuado num círculo de fogo, parece lançar o ferrão sobre o corpo, num aparente
suicídio. Mas não é exatamente isso que ocorre. Nessas situações, o aracnídeo
fica agitado com a alta temperatura ao seu redor e perde o controle de sua cauda,
dando a impressão de que está tentando se picar. Mas o bicho morre mesmo é de
desidratação por causa do calor.
Caindo no precipício
Os lemingues são
pequenos roedores que habitam os penhascos da Escandinávia. Não passa de mito a
história de que eles saltam no precipício quando há explosões populacionais,
num movimento planejado para perpetuar a espécie. O que ocorre é que ao se
deslocarem desordenadamente em bandos muitos indivíduos caem empurrados pelos
que vêm atrás.
Revista Mundo Estranho Edição 22/ 2003
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