As raras e tímidas tentativas de acordo entre palestinos e judeus fracassaram. E um novo aperto de mãos ainda está longe da Terra Santa.
Em 13 de setembro de 1993, o mundo parou para ver um aperto de mãos. A cena, que se desenrolava no gramado da Casa Branca, era inacreditável. De um lado, Yitzakh Rabin, primeiro-ministro israelense e veterano da Guerra dos Seis Dias, detestado pelos palestinos. Do outro, Yasser Arafat, líder da OLP, tachado de terrorista por Israel. Os dois inimigos estenderam os braços – Arafat, sorridente; Rabin, visivelmente contrariado – e realizaram o gesto universal da amizade, diante de um satisfeito Bill Clinton e dezenas de repórteres embasbacados.O histórico aperto de mãos foi resultado de exaustivas negociações secretas, ocorridas principalmente na cidade norueguesa de Oslo. Ambos estavam vencidos pelo cansaço. Os dois povos saíam de décadas manchadas com muito sangue, e nos territórios ocupados as coisas iam de mal a pior. Em 1988, a população de Gaza ergueu-se em um levante maciço, a Intifada, que logo se espalhou como fogo pela Cisjordânia e chegou a Jerusalém. Jovens e crianças enfrentavam um dos exércitos mais poderosos do mundo com pedras e bombas de petróleo. A reação foi brutal. Entre outras coisas, o então ministro da defesa Rabin ordenou que palestinos prisioneiros tivessem pernas e braços quebrados para servir de exemplo. Não por acaso, ganhou o apelido de "Quebra-Ossos".
Frágil acordo
Os acordos de Oslo criaram a Autoridade Palestina, órgão que permitia aos árabes em territórios ocupados ter um mínimo de autogoverno. Israel comprometia-se a discutir, dentro de alguns anos, a possibilidade – e apenas a possibilidade – de retirar suas tropas. Em troca, a OLP e os grupos palestinos deviam cessar os ataques. Arafat entrou em Gaza em 1º de julho de 1994, com honras de chefes de estado. Os palestinos foram à loucura. Mas a euforia durou pouco.
Os radicais de ambos os lados não tardaram a mostrar as garras. Ataques de grupos palestinos continuaram. Em Israel, a extrema direita queria a cabeça de Rabin: para eles, qualquer concessão aos palestinos era traição. Em novembro de 1995, Rabin levou três tiros no estômago e no peito, enquanto participava de uma passeata pela paz, cercado por 100 mil manifestantes. Dessa vez, o gatilho não fora puxado por um árabe, mas por um judeu extremista, Yigal Amir. Nos territórios ocupados, o processo de paz desandou. A ocupação israelense continuou e, ao longo dos anos 90, os assentamentos ilegais foram expandidos. Em 2000, novas tentativas de paz, dessa vez encabeçadas pelo primeiro-ministro trabalhista, Ehud Barak – e novo fracasso.
Nova intifada
Estourou a Segunda Intifada. Perto dela, a primeira rebelião pareceu brincadeira de criança. Grupos insurgentes já não empunhavam paus e pedras, mas fuzis, metralhadoras e RPGs. Até agora, a Intifada de Al-Aqsa, como ficou conhecida, já vitimou mais de mil israelenses, incluindo cerca de 100 crianças, e 3 900 palestinos, com outras 600 crianças mortas.
A retirada de milhares de colonos e soldados da Faixa de Gaza, em 2005, um gesto unilateral do antes irascível Ariel Sharon, também não ajudou a acalmar os ânimos. Gaza, uma estreita faixa de terra entre as áreas mais densamente povoadas e miseráveis do mundo, mergulhou no caos, com facções rivais palestinas digladiando-se nas ruas e militantes radicais disparando foguetes caseiros contra as fronteiras de Israel. Enquanto isso, a FDI bombardeava bairros residenciais, automóveis, ruas movimentadas. Teoricamente, mirando em militantes – mas ceifando uma quantidade assustadora de civis.
O fracasso do "processo de paz" determina o peso do legado que 60 anos de conflitos entre árabes e judeus lança sobre os ombros do mundo. As consequências econômicas, por exemplo, são funestas: sempre que um novo surto de violência explode na região, as bolsas de valores ao redor do planeta se eriçam – afinal de contas, é de lá que vem a maior parte do petróleo mundial, sangue e vida da civilização contemporânea.
Olhando em retrospectiva para aquele aperto de mãos de 1994, a falta de entusiasmo no rosto de Rabin já não parece destoar tanto. Ele era gato escaldado. Por mais otimista que fosse, devia imaginar que ainda terão de rolar muitas águas pelas barrancas do Rio Jordão até que a paz finalmente chegue aos povos Oriente Médio.
Terrorismo e crimes de guerra
Algumas datas e números mais infames do conflito árabe-israelense:
3 de novembro de 1956.
O exército de Israel ataca o campo de refugiados de Khan Younis, em Gaza. De acordo com a ONU, 257 civis árabes são executados.
5 de setembro de 1972.
A organização terrorista Setembro Negro massacra 11 atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique, na Alemanha.
Década de 90.
Grupos fundamentalistas como o Hamas e a Jihad Islâmica dão início a uma série de ataques suicidas. Mais de 400 israelenses, entre soldados e civis, morrem em dez ano. O exército de Israel comete o massacre de Qana, no Líbano, em que um campo de refugiados é bombardeado, matando 106 civis.
De 2000 a 2006.
Choques entre palestinos e israelenses multiplicam-se. O mais recente terminou com a nova invasão do Líbano, em agosto passado. Saldo: 1 300 libaneses e 157 israelenses, incluindo civis.
Revista Aventuras na História n° 014
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