Alessandro Greco
Lembra que os supermercados usavam.
Supermercados precisam estocar milhares de produtos de
marcas e tamanhos diferentes. Manter a contabilidade de quanto se tem de cada
um deles é uma tarefa ingrata, mas absolutamente necessária para a
sobrevivência da empresa. Durante a maior parte do século 20, a única forma de
saber o que havia dentro de um supermercado era literalmente fechar as portas
do local por um ou dois dias e contar um a um os produtos que estavam lá
dentro. O procedimento, caro e cansativo, era feito usualmente mais de uma vez
ao mês e servia de base para os gerentes das lojas fazerem a estimativa de
quanto deveriam comprar ou não de um certo produto.Durante os balanços, os funcionários faziam a contagem manual dos produtos, item por item. Cada mercadoria era contada duas vezes, por duas pessoas diferentes. Se houvesse discrepância entre os números, a conta era refeita por uma terceira pessoa. Mesmo assim, sempre havia erros, muito erros nas contas e nunca o que estava no papel correspondia ao que havia dentro do supermercado. Resultado: pesadelo diário para os gerentes e um prejuízo que chegava a 2,5% do estoque. Sem falar no trabalhão que chegava a tomar um fim de semana inteiro de trabalho.
O famoso “fechado para balanço” só começou a desaparecer dos supermercados na metade da década de 90. Até então, cada setor da empresa tinha um código interno usado para fazer a contabilidade. Muitas vezes havia código de barras no produto que vinha da indústria, mas aquelas barras esquisitas eram ignoradas no caixa: o operador registrava de cara o preço do produto. E o único jeito de saber se um produto estava vendendo bem era examinando se as prateleiras estavam vazias.
Nos tempos de inflação alta, o problema piorava. Como os preços mudavam às vezes diariamente, havia um exército de funcionários destinados apenas a etiquetar os preços em cada pacote de biscoito, cada garrafa de refrigerante, cada pacote de papel higiênico.
A solução para evitar tanta recontagem e etiquetagem seria inventar algo capaz de contabilizar automaticamente quanto de cada mercadoria entra e sai da loja. Era justamente isso que o presidente de uma cadeia de supermercados pedia ao diretor do Instituto de Tecnologia Drexel na Filadélfia, Estados Unidos. A conversa de corredor foi ouvida pelo estudante de graduação Bernard Silver, que contou tudo ao amigo Norman Joseph Woodland sobre o caso. Woodland ficou fascinado pela idéia. Largou o instituto e foi morar com seu avô na Flórida, para se dedicar integralmente a criar o tal sistema. Após alguns meses de trabalho, Woodland teve a idéia de fazer um código de barras semelhante ao que é utilizado hoje e a apresentou a Silver. Os dois começaram a trabalhar em uma patente e no dia 20 de outubro de 1949 fizeram o pedido de patenteamento. As barras eram linhas circulares concêntricas que ficaram conhecidas como bull’s eyes (“olhos de touro”).
Três anos depois, Silver e Woodland construíram o primeiro leitor de código de barras. Ele tinha o tamanho de uma cadeira e precisava ser enrolado em um pano preto para evitar que a luz do ambiente estragasse a brincadeira. Na época. Woodland trabalhava na IBM e a empresa se ofereceu várias vezes para comprar a patente, mas a dupla resistiu. Em 1962, a Philco ofereceu um valor irrecusável e eles venderam a idéia. Depois, a Philco revendeu a patente para a RCA, que se juntou a várias indústrias para estabelecer regras para o desenvolvimento do código. No ano seguinte a RCA fez a primeira demonstração pública de seu bull’s eye, mas o sistema tinha problemas na leitura. A IBM, que tinha em sua equipe Woodland, resolveu tentar desenvolver um novo sistema. Aí nasceu o código de barras que conhecemos hoje, com as linhas verticais, chamado Código de Produto Universal. No dia 26 de junho de 1974, às 8h01, o código de barras de uma caixa de chicletes foi escaneado pela primeira vez em um supermercado da cadeia Americana Marsh·s em Troy, Ohio. A caixa pode ser vista até hoje, no Museu Nacional de História Americana de Washington.
Decifre o código
Entenda como foi criada
a numeração da revista que você está lendo.
PRETO E BRANCO
O código de barras é
a representação gráfica dos números que compõe a identificação do produto. Cada
traço preto equivale ao número 1, e a barra branca, ao 0. Combinações
diferentes dos algarismos 0 e 1 formam os números de 0 a 9 que vêm abaixo.
INÍCIO
As duas barras finas
e mais compridas nas extremidades do código são apenas uma sinalização, um
aviso de início e fim do código do produto. Servem para agilizar a leitura do
código pelo scanner.
ORIGEM
Os três primeiros
números dizem onde a mercadoria foi registrada. O código brasileiro é 789. O da
Argentina, 779. Revistas usam um número internacional de publicações seriadas,
o ISNN, que é 977.
FABRICANTE
Esta sequência serve
para identificar o fabricante. O número é fornecido pela EAN, organização que
gerencia o código de barras no mundo, para cada empresa que solicita sua
matrícula.
PRODUTO
Esses cinco números
diferenciam os tipos, tamanhos, cores e sabores de produtos com o mesmo código
de fabricante, ou seja, que foram feitos pela mesma empresa.
VERIFICADOR
Formado por uma
operação de soma e divisão entre todos os algarismos anteriores, o último
dígito serve apenas para confirmar a leitura correta do scanner. Se o resultado
não bater com o esperado, a leitura não é realizada.
Aventuras na História n° 019
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