Pressionado por nazistas, Fritz Lang mudou o nome do filme.
O filme M - o Vampiro de Düsseldorf, dirigido por Fritz Lang
em 1931, é um dos grandes clássicos do cinema mundial. Além da sua construção
cinematográfica carregada de elementos expressionistas (com a fotografia em
preto-e-branco de Fritz Arno Wagner tornando os cenários criados por Emill
Hassler e Karl Vollbrecht assustadores) e da sensacional atuação do ator
húngaro Peter Lorre como M e de Gustaf Gründgens como o chefe de um dos grupos
que caçam M pela cidade, o filme tornou-se um dos libelos políticos mais
importantes do século 20. Nele, Lang mostrou o pesadíssimo clima social e
político da Alemanha da década de 20 e início da década de 30, denunciando a
histeria e o cinismo como novas formas de imposição do poder. Além da presença
de grupos paramilitares nazistas (Hitler ascenderia ao poder 1933, mas o
Partido Nazista já era uma força política poderosa no momento), que criavam
tribunais particulares, além de organizar atentados e sabotagens.Para se ter uma idéia das dificuldades da época, o título original do filme era Die Mörder Sind Bei Uns (Os Assassinos Estão Entre Nós), mas Lang foi ameaçado por um representante do Partido Nazista. Por isso, ele alteraria o título para Eine Stadt Sucht Einen Mörder (Uma Cidade Procura um Assassino), mas as pressões continuaram. Finalmente, o diretor colocou o nome do filme para M (inicial para “mörder”, que significa “assassino” em alemão).
Fritz Lang utilizou-se do personagem M para criticar a ordem vigente, mas o personagem realmente existiu, o que deixa o filme ainda mais fascinante. O verdadeiro M chamava-se Peter Kürten e, apesar de seu gosto por sangue, nunca foi um vampiro, como o título nacional sugere. Ele nasceu em Mulhein, Alemanha, sendo um entre dez irmãos. Filho de um pai alcoólatra e violento, Kürten passou uma parte da sua juventude como apanhador de cachorros. Gostava de ver a morte de cães que não eram reclamados. Quando tinha 9 anos, cometeu seu primeiro homicídio, empurrando um colega para dentro da água, repetindo o ato com outro menino que tentava salvar o primeiro. Oito anos mais tarde, tentou estuprar e matar uma jovem, ficando quatro anos preso pela tentativa. Depois de ter cumprido a pena ficou morando nas ruas, mas logo voltaria para a prisão por roubos e furtos. Alegaria, depois, que tinha matado dois colegas de cela por envenenamento. Em 1913, nas ruas de Düsseldorf, assassinou uma menina de 10 anos, cortando sua garganta com uma faca e tendo um orgasmo ao ver o sangue jorrar.
Em 1929, ele iniciou a série de assassinatos que o deixou famoso. Em fevereiro daquele ano, Kürten tentou assassinar uma mulher e conseguiu matar um menino e uma menina à faca, sendo que, para sua sorte, um doente mental seria acusado da morte do menino. Apenas em agosto daquele ano Kürten matou nove pessoas e continuaria matando no inverno de 1929-1930. Em maio de 1930, ele tentou estrangular uma jovem, mas não completou o ato e a deixou ir. Seria ela quem o identificaria.
Como Kürten alterava seus métodos para cada vítima, ele confundiu a polícia por um bom tempo, mas sua confissão, relatando minuciosamente todos os homicídios, dissiparam as dúvidas sobre sua autoria. Nas sessões do julgamento, às quais Fritz Lang assistiu, Kürten afirmou que matara para ver o sangue escorrer, gritando em juízo: “Vocês não podem me compreender, ninguém pode me compreender!” Ele foi executado por decapitação em 2 de julho de 1931.
Fritz Lang não foi condenado à morte, mas enfrentou muitas dificuldades depois do lançamento do filme. M foi criticado por altas autoridades nazistas, mas o próprio Hitler era fã de Lang (ele adorara a visão futurista do diretor no filme Metropolis, de 1926) e conseguiu impedir sua prisão. Mas logo a situação ficaria insustentável e Lang fugiria do país, refugiando-se nos Estados Unidos. Na sua fuga, ele chegou a abandonar a esposa. Ela era nazista.
Aventuras na História n° 019
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