Nelson Bacic Olic
Mas, a história dos países da América Latina foi constantemente marcada por numerosas turbulências políticas. Os processos de independência dos países da região iniciados a partir da primeira década do século XIX se estendeu-se até mais ou menos recentemente quando da soberania alcançada por algumas pequenas ilhas do Caribe. Todavia, deve-se lembrar que ainda existem possessões coloniais e semi coloniais na região como são os casos da Guiana Francesa e inúmeras ilhas das Pequenas Antilhas pertencentes à Grã Bretanha, França, Holanda e Estados Unidos.
Em muitos países latino-americanos a descolonização foi seguida de conflitos violentos entre partidos políticos rivais e também de revoltas de camponeses e indígenas. Ao longo do século XX, os militares tomaram o poder em um grande número de países da região. Na Bolívia, por exemplo, a ocorrência de golpes militares foi extraordinária, mais de uma centena desde a independência. Noutros, como na Nicarágua e em países do Cone Sul (Brasil, Paraguai, Argentina, Chile), militares ou civis a eles ligados mantiveram-se no poder por décadas seguidas.
Deve-se considerar também que no processo histórico de evolução política das nações latino-americanas quase sempre pairou uma sombra: a presença hegemônica dos Estados Unidos afetando os destinos dos países da região. Há cerca de 200 anos, os sucessivos governos norte-americanos têm considerado seus vizinhos do continente como componentes de sua área de influência geopolítica exclusiva. Essa estratégia hegemônica tomou corpo a partir de 1823 quando da edição da Doutrina Monroe. Inicialmente, por meio dela os Estados Unidos se colocavam contra qualquer novo projeto colonialista no continente e passavam a incentivar movimentos de independência.
Pouco tempo após sua adoção, a Doutrina Monroe ganhou claros contornos imperialistas, passando a servir como justificativas à intervenções diretas (com uso da força) e indiretas (através de pressões econômicas e diplomáticas), quando os interesses econômicos ou estratégicos do Estados Unidos estivessem de alguma forma ameaçados. Foram realizadas pelo menos 150 intervenções, que variaram de acordo com a conjuntura internacional e os interesses norte-americanos em jogo.
Um dos momentos críticos do relacionamento entre os Estados Unidos e os países latino-americanos aconteceu após a Revolução Cubana (1959). O sucesso do exemplo cubano passou a servir como uma espécie de bússola para inúmeros movimentos armados que questionavam os regimes de seus países.
Tentando evitar a expansão comunista na região, os Estados Unidos incentivaram e deram respaldo à implantação de ditaduras militares desde que se comprometessem a combater as forças de esquerda. Nos anos 1970, o sucesso da repressão a esses grupos enfraqueceu os movimentos de esquerda, cuja debilidade foi acentuada por dissensões internas. Foram poucos os países da América Latina que entre as décadas de 1960, 70 e 1980 escaparam de ter regimes ditatoriais.
Em 1979, a vitória dos sandinistas na Nicarágua deu um novo impulso as lutas armadas de esquerda. Mas, a partir do final dos anos 80, com o fim da Guerra Fria e a redução das tensões internacionais engendradas naquele período, as ditaduras foram desaparecendo dando lugar a regimes democráticos. Foi nesse contexto que os conflitos que ocorriam na América Central, como na Nicarágua, Guatemala e El Salvador terminaram em acordos de paz.
Todavia, o fim desses conflitos e a implantação de regimes democráticos não conseguiram resolver as históricas disparidades socioeconômicas existentes. Este tem sido um importante fator para explicar a existência das graves tensões internas a que estão sujeitos numerosos países latino-americanos.
Sob um outro ângulo, apesar de não se vislumbrarem em curto prazo conflitos entre países da região, há uma série de reivindicações territoriais, algumas muito antigas, que continuam sem solução e que podem eventualmente se transformar em conflitos em função das circunstâncias. Por exemplo, Honduras ainda não “engoliu” totalmente a independência de Belize, a antiga Honduras Britânica. Na Venezuela, vez por outra, retoma-se a discussão sobre a região de Essequibo, área que integra o território da Guiana. Mas a questão mais antiga não resolvida e que até hoje é objeto de polêmicas diz respeito a questão de Atacama que opõe Bolívia ao Chile.
Entre 1879 e 1884 ocorreu a chamada Guerra do Pacífico na qual Peru e Bolívia se aliaram contra o Chile, Com a vitória chilena a Bolívia perdeu o território de Atacama, região desértica, rica em minérios e que garantia aos bolivianos seu único acesso ao Oceano Pacífico. Até hoje os bolivianos reclamam a devolução desse território.
Há um certo consenso entre as nações latino-americanas que os contenciosos entre países ou no interior de alguns deles devem ser resolvidos por acordos mediados por ações diplomáticas coordenadas por países da região. Todavia, isso não tem sido suficiente para resolver o que ocorre na Colômbia.
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