Nelson Bacic Olic
O Sudeste, região formada pelos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, é cortado em sua parte meridional pelo Trópico de Capricórnio, o que lhe confere caráter nitidamente tropical do ponto de vista climático. O relevo, porém, atenua, em amplas áreas, as condições térmicas decorrentes da localização geográfica dessa região.
No conjunto, essa é a área mais acidentada do país. Serras e escarpas de planalto, como as serras do Mar e da Mantiqueira, podem ter altitudes superiores a 2 mil metros. Vale lembrar que o ponto mais elevado do Planalto Brasileiro é o Pico da Bandeira (2.890 m.), localizado junto aos limites dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.
Os efeitos combinados da latitude (o Sudeste se estende aproximadamente entre os 15º e 25º de latitude sul), da forma e disposição do relevo e ainda da maior ou menor continentalidade criaram situações bastante diferenciadas quanto à variação das temperaturas e distribuição das chuvas. As especificidades da circulação atmosférica regional, muito marcadas pela ação dominante da massa de ar tropical atlântica e da polar atlântica, acentuam ainda mais essas diferenças.
Por tudo isso, por exemplo, o norte de Minas Gerais apresenta situação climática semelhante ao Sertão semi-árido do Nordeste. Essa convergência de fatores climáticos também explica a ocorrência sistemática de geadas de outono/inverno no extremo sul de São Paulo ou em algumas áreas da Serra da Mantiqueira onde cidades, como Campos do Jordão (SP), estão localizadas em cotas altimétricas superiores a 1.500 m.
A disposição da Serra do Mar, extremamente próxima e paralela à orla litorânea, e da ação de massas de ar tropicais marítimas (que de maneira geral se deslocam no sentido leste-oeste), propiciaram as condições para que no litoral norte de São Paulo se verifiquem os maiores índices pluviométricos registrados no país.
Certas cidades do Sudeste, assim como eventualmente ocorre em outras regiões do país, apresentam peculiaridades meteorológicas que passaram ser de certa forma folclóricas. A cidade de São Paulo, por exemplo, por estar localizada na transição entre as zonas tropical e temperada (é cortada pelo Trópico de Capricórnio), apresenta uma situação de instabilidade meteorológica, ocasionada, sobretudo, pelas ações tanto da massa Tropical Atlântica e da Polar Atlântica. Talvez, por isso, muitos paulistanos afirmem que a antiga “terra da garoa” se transformou na atual “terra das quatro estações num só dia”.
Os ecossistemas e os impactos ambientais
Segundo a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) existem no Brasil nove ecossistemas principais: o Amazônico, o do Extremo Sul, o do Meio Norte, o do Pantanal, o da Mata Atlântica e a Área Costeira, o da Floresta Estacional Semi-Decídua, o do Cerrado e da Caatinga e Floresta Decídua. Com exceção dos quatro primeiros, todos os demais têm alguma representatividade no Sudeste.
Três dos cinco ecossistemas que essa região apresenta - da Mata Atlântica e Área Costeira, da Floresta Estacional Semi-Decídua e do Cerrado – são muito expressivos do ponto de vista territorial, enquanto que os demais ocupam áreas bem mais restritas.
As formações vegetais originais desses cinco ecossistemas foram, em sua maior parte, devastados pelo intenso processo de ocupação humana e valorização econômica por que a região passou, especialmente nos últimos dois séculos.
Os maiores impactos dessa devastação foram sentidos sobretudo nas áreas de matas, que hoje recobrem menos de 10% das áreas originais. A Mata Atlântica, por exemplo, só é encontrada mais ou menos intacta em alguns poucos trechos bastante acidentados da Serra do Mar.
Excetuando-se a destruição da vegetação original, verificam-se vários outros tipos de impactos ambientais na região. Um deles ocorre junto às principais áreas urbano-industriais, gerando grande variedade de “estilos” de poluição ambiental como a do solo, do ar, das águas superficiais e subterrâneas, a sonora, além do efeito estufa, chuvas ácidas etc.
Esse tipo de impacto ambiental é mais visível em cinco áreas: a mais extensa delas é a região metropolitana de São Paulo “expandida”, abrangendo não somente as proximidades da Metrópole Paulista mas também trechos da Baixada Santista, Vale do Paraíba e a região de Campinas-Sorocaba. Essa extensa área, que corresponde à parte considerável da megalópole brasileira em formação, é a mais intensamente urbanizada e industrializada de todo o Sudeste e, ao mesmo tempo, a que mais tem se ressentido dos impactos causados ao meio ambiente.
As outras três capitais estaduais do Sudeste também apresentam, embora em menor escala, problemas semelhantes aos encontrados em São Paulo. A região metropolitana do Rio de Janeiro e as áreas próximas como a Baixada Fluminense e Vale do Paraíba (onde se localiza Volta Redonda) apresentam expressivos níveis de poluição que se refletem, por exemplo, no alto grau de contaminação das águas da Baía de Guanabara.
Já na região metropolitana de Belo Horizonte e arredores, os altos níveis de poluição são decorrentes não só do crescente adensamento urbano, mas também, e principalmente, dos “estragos” produzidos pelo tradicional e importante pólo siderúrgico concentrado nessa área.
Na região metropolitana de Vitória, registram-se níveis crescentes de poluição ambiental resultantes não só da expansão de sua área urbana como do expressivo crescimento industrial impulsionado pela infra-estrutura de um dos portos mais movimentados do país.
Por fim, a última e mais recente área urbano-industrial sujeita à poluição ambiental corresponde aos trechos do nordeste de São Paulo (cujo principal centro é Ribeirão Preto) e que se estende também por regiões orientais do Triângulo Mineiro, cujos principais núcleos são Uberlândia e Uberaba. Nessa área, a principal causadora dos impactos ambientais é a agroindústria, especialmente a sucro-alcooleira.
Além disso, a poluição contamina muitos rios do Sudeste, como é o caso do Tietê, em São Paulo, do rio Doce (Minas Gerais e Espírito Santo) e de alguns cursos fluviais do alto vale de São Francisco que atravessam áreas industriais próximas a Belo Horizonte.
Em certos trechos litorâneos e mesmo da plataforma continental, o risco de poluição é alto devido à existência de amplas áreas de extração de petróleo. É o caso da Plataforma de Campos (RJ), responsável por parcela expressiva da produção de petróleo bruto do país. A atividade de refinarias e terminais petrolíferos junto ao litoral, como em Cubatão (SP), São Sebastião (SP) e Rio de Janeiro, freqüentemente causa acidentes envolvendo o derrame de petróleo e derivados.
Outro tipo de problema deve-se à falta de cuidado no uso do solo (queimadas, por exemplo), em atividades agropastoris. As superfícies mais duramente atingidas localizam-se, principalmente, em várias porções do Planalto Ocidental paulista e na contígua região do Triângulo Mineiro.
Por fim, a pratica da mineração gera, tradicionalmente, a contaminação dos solos e águas. As áreas do Sudeste, que têm mais sofrido desse impacto ambiental situam-se na região de Belo Horizonte e áreas circunvizinhas, em que se pratica a extração de minério de ferro.
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