Nelson Bacic Olic
Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o superávit da balança comercial brasileira do janeiro até a quarta semana de setembro deste ano foi de 31,9 bilhões de dólares. A estimativa do governo é a de que até o final de 2005 o resultado do superávit será de US$ 38 bilhões, um novo recorde da balança comercial brasileira.
O fenômeno de superávits cada vez maiores da balança comercial brasileira tem se repetido desde 2001. Este fato chama ainda mais a atenção se lembrarmos que entre 1995 e 2000, o setor externo brasileiro apresentou sucessivos déficits em sua balança comercial.
Uma combinação favorável de fatores explica essa “virada”. Do ponto de vista externo, houve um expressivo crescimento da economia mundial, com destaque para os Estados Unidos (o país que mais importa produtos brasileiros) e China (um parceiro comercial cada vez mais importante). Contribuiu também o processo desvalorização do real perante o dólar entre 2001 e 2004, que tornou o preço de nossas exportações mais competitivas.
Internamente, houve a implementação de uma política mais agressiva de conquista de novos mercados e uma expansão e consolidação de vendas para parceiros comerciais tradicionais. Do ponto de vista empresarial, desenvolveu-se também uma política exportadora mais consistente que estimulou o aumento da produtividade das empresas. Nem mesmo a valorização do real em relação ao dólar ocorrida neste ano (mais de 15% até setembro), afetou o dinamismo das exportações do país.
Nos últimos anos vários aspectos têm chamado a atenção no comércio exterior brasileiro. Primeiramente, é que além das exportações terem aumentado significativamente, as importações também tiveram incremento significativo. Por outro lado, tem ocorrido um grande esforço no sentido de diversificar cada vez mais o rol de parceiros comerciais, o que vem caracterizando cada vez mais o país como um global trader (comerciante global), ao mesmo tempo em que também se diversificou a pauta de exportações do país.
No que se refere às exportações de matérias primas primárias, com razão, sempre se dá muito destaque às exportações de soja, de carne (bovina, de aves e suína), de algodão e de café, produtos em que o Brasil se destaca como um dos maiores produtores e exportadores mundiais. Todavia, há um setor, o de frutas frescas, que o Brasil tem grande potencial para desenvolver.
Neste setor o país passou a perseguir uma posição que, aparentemente seria natural, em função de suas condições territoriais e climáticas: se transformar num importante pólo mundial de produção de frutas frescas ou in natura. O Brasil, terceiro maior produtor mundial de frutas frescas, atrás apenas da China e da Índia exportou, em 2004, somente cerca de 2% de sua safra.
Todavia as 850 mil toneladas de frutas frescas que o país exportou em 2004, representaram quase 10% a mais do que havia sido exportado no ano anterior. Estimativas para o setor em 2005 apontam para uma marca de 1 bilhão de dólares resultantes dessas exportações, um valor quase três vezes maior ao registrado em 2004. Contudo, para que esses resultados se confirmem, devem ser levados em conta inúmeros obstáculos dentre os quais, condições meteorológicas favoráveis e a melhoria da infra-estrutura viária e portuária. Só para se ter uma idéia da importância desses obstáculos, em 2004, o excesso de chuvas no vale do São Francisco reduziu em 20% a safra de uva, melão, mamão e manga ali cultivados.
O mercado consumidor de frutas frescas é muito exigente e a perecibilidade dos produtos muito alta, fatores que exigem cuidados especiais na colheita, armazenamento e transporte. Segundo pesquisas, estradas ruins afetam quase 10% de tudo que é enviado para a Europa, onde estão os principais consumidores das frutas brasileiras.
Em 2004, oito tipos de frutas – maçã, manga, melão, uva, banana, mamão, laranja e limão - foram responsáveis por quase 95% das exportações, sendo que as quatro primeiras representaram quase 70% do total. É curioso notar que apesar da tropicalidade dominante no Brasil, a fruta in natura mais exportada em 2004 foi a maçã, cujas principais empresas produtoras exportadoras estão localizadas em Fraiburgo (Santa Catarina) e Vacaria (Rio Grande do Sul), em áreas do Brasil “temperado”.
Há, é claro, pólos fruticultores no Brasil “tropical” que vêm apresentando resultados expressivos nos últimos anos, como os localizados no semi-árido nordestino, especialmente os de Juazeiro (BA)-Petrolina (PE), no vale do São Francisco e o de Mossoró (RN), onde os destaques ficam para a produção de manga, melão, uva, banana e abacaxi.
Recentemente, o Guia Exame 2005 fez uma pesquisa sobre os principais novos pólos do agronegócio do país. Esses novos pólos são lugares que se destacam por oferecer grandes extensões de terras agricultáveis e registram os mais recentes recordes de produtividade agrícola. Dentre os dez municípios identificados, nove deles localizavam-se nas regiões Norte (Pará e Rondônia), Nordeste (Piauí, Maranhão e Bahia) e Centro-Oeste (Mato Grosso e Goiás). Nenhum desses pólos foi identificado na região Sul e apenas um no Sudeste.
Esse pólo do Sudeste refere-se ao município de Linhares (Espírito Santo), o único em que a fruticultura tinha importância. Nessa área do território capixaba, destaca-se o cultivo de mamão, que alcançou a sexta colocação no ranking das frutas mais exportadas pelo Brasil em 2004.
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