Nelson Bacic Olic
Na última década muito se discutiu sobre a possibilidade da criação de uma zona de livre comércio americana cujo resultado concreto seria a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Esse bloco econômico, formado por todos os países americanos, à exceção de Cuba, estava previsto para entrar em vigor em janeiro de 2005. Devido aos inúmeros obstáculos entre os Estados Unidos e os países do Mercosul, a Alca não foi implementada.
Com o reconhecimento das dificuldades em levar adiante esse projeto, o governo dos EUA passou a ter como estratégia a formalização de acordos menos ousados com países da região. Foi assim com o Chile e, mais recentemente, com países da América Central. Nesse contexto nasceu o Mercado de Livre Comércio Estados Unidos, América Central conhecido pela sigla Cafta-DR (Central América Free Trade Agreement-Dominican Repúblic).
Esse bloco tem a participação de cinco países da América Central continental (Honduras, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Costa Rica) e um do Caribe (República Dominicana). Esses países possuem um mercado consumidor potencial de mais de 45 milhões de pessoas e absorvem apenas 2% das exportações dos EUA. O Produto Interno Bruto (PIB) desses países corresponde a 0,5% do norte-americano, configurando uma enorme assimetria econômica. O objetivo principal do bloco é o de eliminar em curto prazo as tarifas e barreiras comerciais. Logo de início, 80% das tarifas seriam extintas.
Segundo o governo norte-americano, o interesse do EUA vai além do lado comercial, pois se trata de uma “obrigação moral e um interesse de segurança nacional em ajudar que prosperem as democracias nessa região”. Estão ainda vivas na lembrança dos estrategistas norte-americanos fatos ocorridos nas décadas de 1970 e 1980, quando Guatemala, El Salvador e Nicarágua viveram conflitos internos, cujos reflexos se fizeram sentir em toda região. Esta situação teve impactos negativos sobre as realidades sócio econômicas da região afetando as tentativas de integração econômica iniciadas nos anos 1960. Ao final dos anos 80, ações que buscavam acordos mediante saídas negociadas permitiram que ocorressem processos de paz que estabilizaram o quadro político regional.
A pacificação aconteceu em momentos distintos: Nicarágua (1990), El Salvador (1992) e Guatemala (1995). Ao mesmo tempo, houve avanços no processo de democratização, que conduziram a instauração, de governos eleitos por voto direto em todos os países da região. O novo contexto propiciou um renovado impulso de integração regional e reanimação das economias. Todavia, os processos políticos e econômicos ainda possuem bases frágeis e requerem um contínuo apoio para assegurar sua sustentabilidade.
No início do século XXI, as sociedades centro-americanas encaram um conjunto de desafios inter-relacionados. De um lado, consolidar os processos de pacificação e de governabilidade democrática e de outro, combater a pobreza, superar as históricas e enormes desigualdades sociais. Por fim, criar programas que reduzam a vulnerabilidade ambiental já que região tem sofrido periodicamente catástrofes naturais como terremotos e furacões.
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