Por Cláudia de Castro Lima
Uma dos maiores fiascos militares de todos os tempos, a campanha de Napoleão na Rússia deixou um saldo de 450 mil franceses mortos e uma ferida que parece nunca fechar. Em uma manhã de novembro de 2001, trabalhadores da construção civil em Vilnius, capital da Lituânia, acabaram expondo novamente essa cicatriz. Eles cavavam uma rua para a colocação de cabos subterrâneos quando encontraram uma ossada humana. Continuaram e acharam mais uma. Após um dia de trabalho, eles localizaram centenas de corpos soterrados por metros de gelo e de terra congelada. Empilhados uns sobre os outros, alguns estavam enroscados, como se tivessem morrido abraçados. Desconfiados de crime político ou execução em massa, eles chamaram a polícia. Mas quando os fragmentos de roupas e de outros objetos foram melhor analisados descobriu-se que o mistério era ainda mais antigo.
“Encontramos símbolos do exército napoleônico em uniformes, botões de cobre e peças de couro e acabamos dando um grande salto em direção ao passado”, diz o arqueólogo Rimantas Jankauskas, professor de antropologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Vilnius.
O exército francês esteve na Lituânia (na época sob domínio russo) em 1812. Mais de 500 mil homens entraram na Rússia para forçar o país a voltar a integrar o Bloqueio Continental e fechar seus portos aos navios ingleses. O exército russo, em vez de partir para o combate, recuou. E, em sua retirada, abandonava tudo e incendiava o que ficava para trás. Quando chegaram a Moscou, em setembro, Napoleão rapidamente conquistou a cidade e comemorou mais uma de suas inequívocas vitórias. Mas os perdedores atearam fogo à capital e os vencedores ficaram sem provisões. Em uma corrida contra o tempo, os franceses tentaram voltar antes que o inverno chegasse, mas foram dizimados pela fome e pelo frio. Menos de 50 mil chegaram em casa.
Parte do exército, cerca de 38 mil homens, deve ter perecido em território lituano, que fica mais ou menos no meio do caminho para a França. Até agora, 3269 ossadas foram descobertas e estão sendo analisadas. “As primeiras evidências indicam que os soldados morreram de frio. A lata dos botões das fardas, por exemplo, ficou frágil como vidro, coisa que só acontece a temperaturas de 30 graus centígrados abaixo de zero”, diz Jankauskas. “Estamos interessados agora em obter dados sobre o estado de saúde daqueles homens, além de listar todo o equipamento de que dispunham”, afirma . Para ele, isso vai ajudar a entender melhor o papel da campanha russa no declínio do império de Napoleão. “Aqueles homem morreram abraçados, com fome e exaustos. Eles sentaram e esperaram o fim”, diz.
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