quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Esquerda: O Terror

Esquerda vai às armas para combater regime, mas atinge civis, mata companheiros e acaba dizimada
Por  Alessandro Meiguins
“Se reagir, morre”, gritou o capitão. Com instruções para não deixar levar o diplomata, o segurança atirou, fazendo o homem, que estava muito longe, recuar. Logo em seguida, viu outro guerrilheiro chegar perto do automóvel, pelo lado do motorista, e de dentro do AeroWillys mirou com rapidez o peito do jovem. Não deu tempo. Sua cabeça já sangrava, seu corpo caía. O homem que estava lá longe só precisou de um disparo para acertar o segurança. Era o capitão Carlos Lamarca, conhecido como Paulista, capaz de acertar alvos a 150 metros. Comandava o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, feito pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Entre dezembro de 1970 e janeiro de 1971, o grupo de seqüestradores conseguiu a libertação de 70 presos, embarcados para o Chile depois de 40 dias de negociação. Apesar do êxito, aquela foi a última grande ação urbana da esquerda armada contra a ditadura. A capacidade de tiro da guerrilha estava esgotada, o cerco da repressão era cada vez mais apertado e o plano inicial dos revolucionários, de empunhar armas para transformar o Brasil num país socialista, se mostrava um sonho cada vez mais distante.
No começo, tudo correra bem. Depois de um racha no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que optou pelo combate pacífico contra a ditadura, surgiram grupos cujo objetivo era derrubar os militares com tiros e bombas. “A ação faz a vanguarda” era o lema da principal organização guerrilheira da época, a Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella. De fato, a guerrilha logo transformou palavras em ação. Despreparada, a ditadura assistiu a uma tentativa de matar Costa e Silva, no Recife. Uma bomba explodiu no aeroporto de Guararapes em julho de 1966 e deixou 17 feridos e dois mortos. Em São Paulo, um grupo de ex-sargentos cassados em 1964 formou a VPR e assaltava bancos, pedreiras – de onde roubava explosivos – e locais cheios de armamentos, porém pouco vigiados. Do Hospital Militar do Cambuci, em São Paulo, a organização conseguiu levar 11 fuzis, em 22 de junho de 1968. Desafiados por um comandante a atacarem seu quartel, na mesma semana o grupo explodiu um carro cheio de explosivos na entrada do 2º Exército, matando um sentinela.
Os primeiros movimentos da ALN consistiram em enviar militantes para Cuba para serem treinados para a guerrilha e a realização de assaltos a carros pagadores e agências bancárias. Seguiam, como a maioria dos grupos, a teoria do francês Régis Debray, que colocava como primeiro passo da revolução conseguir dinheiro e acumular forças para financiar um foco de guerrilha no campo. Os exemplos eram empolgantes: a revolução de Fidel Castro e a vitória camponesa de Mao Tsé-Tung na China.
A estrutura das organizações era secreta, controlada apenas pelos seus altos dirigentes. Todos tinham codinomes – nomes falsos para evitar identificação. Marighella, por exemplo, era Preto ou Ernesto. Fernando Gabeira se chamava Honório. Franklin Martins, que também participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick e hoje é comentarista político da TV Globo, atendia por Valdir. Ninguém podia falar nada da sua vida pessoal, e beber era proibido. Pouco ou nada sabiam das atividades uns dos outros. Os encontros eram rápidos, nos chamados pontos, que eram sempre locais públicos, como praças ou cinemas, e mudavam de lugar – ou pelo menos deveriam.
Os militantes se dividiam em dois grandes grupos, um para a ação e outro para o apoio. Na equipe da ação ficavam os mais combativos, que pegavam em armas, sabiam atirar, montar explosivos, planejavam assaltos e ações violentas, como assassinatos premeditados. Largavam seus empregos e imóveis e viviam na clandestinidade, em aparelhos – moradias de fachada. Já as pessoas do apoio mantinham sua vida “normal”. Durante o horário do expediente, trabalhavam para pagar suas contas. Nas “horas vagas”, fabricavam documentos falsos, preparavam material de propaganda, convenciam pessoas a participar da luta, roubavam carros que seriam utilizados nas ações, abrigavam guerrilheiros em suas casas, conseguiam médicos para atender os feridos, escondiam armas, munição e dinheiro. Mas o risco e o perigo eram reais para todos.
Clandestino era caro
Manter a clandestinidade era um ponto fraco da militância de esquerda. A infra-estrutura a ser sustentada era dispendiosa e incluía dezenas de aparelhos. A quantidade de assaltos e o planejamento deles tiravam das organizações tempo para bolar atos políticos efetivos, que pudessem sensibilizar a população ou abalar o regime. “Aluguel, comida, contas de luz... Aquilo que era uma opção pela derrota da ditadura virou luta pela sobrevivência”, lembra o empresário Rafael de Falco, que foi da VPR e era responsável, entre outras coisas, pelos esconderijos. “Perdemos a noção política. Precisávamos de dinheiro para comer.”
Mesmo com dificuldades, a guerrilha realizou ações espetaculares. Um exemplo foi o roubo do “cofre do Adhemar”, que continha 2,6 milhões de dólares e era mantido na casa de uma “amiga” do ex-governador paulista. Por sinal, a guerrilha brasileira foi a que, no mundo, mais conseguiu recursos por meio de “expropriações” – algo como 3,8 milhões de dólares.
No auge, a esquerda armada marcou presença. Em 1969, mais de 100 assaltos e explosões balançaram o país, com 15 guardas e policiais e outros quatro civis mortos. Mas o sucesso dos guerrilheiros no recrutamento de novos participantes foi limitado, a julgar pelos números da repressão. Ao todo, cerca de 2500 pessoas foram processadas e presas, ao menos por um dia, por um possível envolvimento com a esquerda armada.
A ditadura não se assustou com o sucesso inicial da esquerda e revidou. Montou um aparato repressivo que varria as cidades à cata de suspeitos. Descritos como inimigos da nação, os guerrilheiros também eram denunciados por pessoas comuns, que suspeitavam do novo vizinho. Além disso, alguns eram presos em ações e, torturados, entregavam informações que levavam a prisões em série. Só em 1969, as denúncias de torturas chegaram a 1027. No ano seguinte, somaram 1206. Cada prisão levava a novas prisões.
Não tardou para que a luta armada funcionasse mais como pretexto para a linha dura militar do que como ameaça real ao regime. “No meio do ano de 1970 estavam desestruturadas todas as organizações que algum dia chegaram a ter mais de cem militantes”, contabiliza Elio Gaspari, em A Ditadura Escancarada. Além disso, seu principal líder, Marighella, foi morto em 4 de novembro de 1969. Havia ainda a contaminação das organizações por delatores, que derrubavam vagarosamente os guerrilheiros para não gerar suspeita.
A esquerda armada não conseguia arregimentar mais participantes e os assaltos eram cada vez mais difíceis, pois a segurança dobrara e as agências já não guardavam quantidades grandes de dinheiro. “Teve assalto que deu prejuízo. Com o que conseguíamos, não pagávamos nem os custos com carros, gasolina, armas e munição”, conta De Falco.
Assassinatos internos
Isolada e perseguida, a guerrilha optou por ações que visavam a libertação de companheiros presos. Foram quatro seqüestros, que soltaram 130 presos políticos. O mais espetacular foi o primeiro, do embaixador Charles Elbrick, que deixou não só os militares, mas também o governo dos Estados Unidos perplexos. Mas, em todos os casos, os seqüestradores foram identificados logo em seguida, presos e, muitas vezes, mortos.
A morte, aliás, começou a ser uma possibilidade cada vez maior. “Imaginávamos que alguns de nós cairiam nas mãos do inimigo, mas não todos, como ocorreu”, relata Pedro Lobo de Oliveira, que era da ALN. “Só sobreviveram os que, como eu, ou foram presos no início da repressão ou conseguiram escapar para o exterior.” Como um dominó, os guerrilheiros foram caindo, inclusive as lideranças. Lamarca, encurralado no sertão da Bahia, foi morto pelas mãos do major Nilton Cerqueira, do DOI de Salvador, em setembro de 1971.
No final das ações de guerrilha, alguns grupos chegaram a matar companheiros considerados traidores. Era uma radicalização dos “justiçamentos”, assassinatos premeditados após julgamento feito internamente pelas organizações, sem que o acusado tivesse chance de defesa. Em geral, os justiçamentos atingiam os agentes da repressão ou aliados do regime. Já em 1968 tentou-se o justiçamento de Gary Prado, militar que teria participação na morte de Che Guevara, mas confundiram o alvo e quem morreu foi Edward von Westernhagen, um oficial alemão sem envolvimento no caso. Em outra ação dessa natureza, no mesmo ano, a vítima foi o capitão americano Charles Chandler, tido como agente da CIA. Naquela altura, os guerrilheiros contrariavam a máxima de Che Guevara, para quem era preciso “endurecer sem perder a ternura jamais”. Os justiçamentos de companheiros foram as últimas ações da guerrilha urbana, entre 1973 e 1974. Nesse ano, já não restava sinal nem das pequenas organizações.
O justiçamento de companheiros é só uma das facetas polêmicas da luta armada. Há outras. Algumas ações da guerrilha podem ser consideradas terrorismo, conforme a definição que se adote para o que é terror. A motivação política não é suficiente para diferenciar o seqüestro de um embaixador, que pode terminar em assassinato, de uma bomba colocada em local público – o atentado usual de nossos dias. Afinal, ambos têm alvos civis, influência na opinião pública e características violentas. Marighella se apresentava como guerilheiro e terrorista, mas não admitia ações contra alvos indiscriminados, sem nexo político direto. Mas houve ações que se aproximam do terrorismo mais típico, como a tomada de um avião da Cruzeiro do Sul, com 50 pessoas a bordo, em julho de 1970. É verdade que os guerrilheiros brasileiros têm boas atenuantes. Mesmo com o avião sendo invadido pela Aeronáutica, os quatro integrantes do Comando Reinaldo Silveira Pimenta não dispararam contra os reféns, conforme haviam combinado entre si. Nenhum embaixador foi assassinado. E a luta armada enfrentava um governo repressor, que torturava, matava e impedia a participação política por outras vias. Um Estado terrorista.
O papel da guerrilha
Os efeitos das luta armada são outro ponto controverso. Levi Bucalen Ferrari, presidente da União Brasileira dos Escritores (UBE), que esteve nas fileiras da ALN, acredita que a esquerda revolucionária cumpriu um papel histórico. “De um jeito ou de outro, ajudamos a afrouxar o regime”, acredita. Outras visões são menos benevolentes. “Na prática, a luta armada não serviu para avançar na reconquista das liberdades democráticas, muito menos para a implantação de uma sociedade mais justa”, avalia Dina Lida Kinoshita, da Executiva Nacional do PPS. “De certo modo, serviu até para retardar o processo, pois a linha dura dizia ver um inimigo em cada esquina e tentava retardar o máximo possível a redemocratização.”
Goleada de esquerda
Seqüestro de embaixador dos EUA em 1969 consegue soltar presos políticos
A limusine preta seguia seu traçado habitual. Sem blindagem, sem escolta e com as portas destravadas, foi um alvo fácil para os revolucionários da Dissidência Universitária da Guanabara e do Grupo Tático Armado da Ação Libertadora Nacional (ALN). Na tarde de 4 de setembro de 1969, quando o Cadillac chegou ao ponto certo, um Volks barrou seu caminho. Quatro guerrilheiros entraram no carro e capturaram o embaixador americano Charles Burke Elbrick. Começava o mais bem-sucedido golpe da esquerda armada contra a ditadura. Depois de baldearem o embaixador para uma Kombi, e darem uma coronhada em sua nuca quando tentou fugir, abandonaram no carro a mensagem que iria deixar a Junta Militar que governava o país na época de cabelos em pé: “A vida e a morte do sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências o sr. Burke Elbrick será liberado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária”. Deram 48 horas ao governo para a veiculação de um manifesto pelas principais emissoras e jornais. E exigiram a libertação de 15 presos políticos escolhidos a dedos, entre eles os líderes do movimento estudantil Vladimir Palmeira e José Dirceu, e o lendário comunista Gregório Bezerra. O 37º presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon (1913-1994), amigo pessoal de Elbrick, deu uma bronca e a ditadura não teve alternativa. As exigências foram cumpridas, apesar de, pela versão dos militares, o cativeiro ter sido descoberto e cercado. Ao soltar o embaixador, outro golpe de sorte dos guerrilheiros – despistaram os carros da polícia que, acreditavam, os estariam seguindo no meio da multidão que saía do jogo Fluminense x América, no Maracanã. Uma goleada para a luta armada.
Como morreu o inimigo nº 1
Marighella combateu aditadura de Vargas e viroumito depois de 64
A enorme folha corrida de Carlos Marighella já seria suficiente para transformá-lo em herói da esquerda. Era um veterano no combate a ditaduras. Membro do PCB desde os 18 anos, preso pela primeira vez em 1932, foi torturado em 1936 e 1939 pela polícia de Vargas. Anistiado em 1945, é eleito deputado federal. Sua participação política por vias legais dura pouco. Cassado em 1948, migra para a clandestinidade, condição em que iria viver até a morte. Após o golpe de 1964, as ações de Marighella o transformam em mito. Em 9 de maio, é encurralado em um cinema por agentes do Dops. Mesmo após receber um tiro à queima-roupa no peito, enfrenta os policiais com socos e grita: “Abaixo a ditadura militar fascista”, até ser imobilizado e preso. É solto depois de 80 dias, com um habeas corpus. Em 1967, inconformado com o “imobilismo” do PCB, funda a ALN. No final do ano, a repressão descobre suas ações e o transforma no inimigo mais procurado. O Manual do Guerrilheiro Urbano, que escreveu, fica conhecido no exterior. “O guerrilheiro urbano é (...) patriota ardente, é um lutador pela libertação de seu país, um amigo de sua gente e da liberdade.” Os sonhos de Marighella acabam diante da alameda Casa Branca, em São Paulo, em 4 de novembro de 1969. Emboscado, não tem como reagir e é assassinado. Dois dias depois, sua voz era ouvida no Brasil – o homem estava morto, mas o mito falava da revolução numa transmissão da rádio Havana. “Apesar de sempre citado, Marighella tem uma trajetória desconhecida em muitos pontos”, diz o jornalista Mário Magalhães, que prepara uma biografia.
• Torturando presos, o delegado Sérgio Fleury descobre que Carlos Marighella, que usava o codinome de Ernesto, tem ligações com freis de um convento no bairro paulistano de Perdizes, que davam apoio a grupos clandestinos
• Os freis Ivo e Fernando são presos no Rio. Levados a um prédio da Marinha, são torturados por Fleury. O delegado descobre que Marighella deve encontrá-los em breve
• Marighella vai ao ponto tradicional de encontro, na alameda Casa Branca, nos Jardins. Em frente ao número 806, há um Volkswagen estacionado, com os freis Ivo e Fernando dentro. Sem que Marighella ou o olheiro que o antecedeu no local percebessem, havia 29 policiais disfarçados espalhados pelo quarteirão, esperando o guerrilheiro chegar
• Um emissário de Marighella liga para a livraria em que os freis costumam ficar e confirma o encontro, falando em código
• Fleury começa a atirar. Outros policiais também disparam, acreditando que acompanhantes de Marighella estivessem reagindo. O guerrilheiro tomba, sem que tivesse tempo de sacar o revólver que carregava na pasta. Com os tiros, morreram também um dentista que passava e uma investigadora
 Sonho e pesadelo na selva
10 mil militares combateram guerrilha preparada desde 1966 no Araguaia
Foi em 1966 que o primeiro chegou. Como quem não queria nada, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, viajou de ônibus pela Belém–Brasília e desceu em uma das regiões mais ermas do Brasil na época, o Bico do Papagaio. Estabeleceu morada e esperou os outros. No finalzinho de 1967, já eram oito. Eles se misturavam à população. Capinavam roça, distribuíam medicamentos, ensinavam as crianças a ler e, vez ou outra, falavam de um mundo igualitário e de uma tal de revolução. Já em 1971 eram mais de 50 esses estrangeiros, os “paulistas”. Treinavam tiro, caçavam, andavam horas pelo mato, traçando rotas, caminhos, planos. “Os quadros do PC do B dividiram-se por três áreas, numa extensão de 130 quilômetros. Moviam-se numa superfície de 6,5 mil quilômetros quadrados. Até o primeiro semestre de 1972, eles foram 59 homens e 14 mulheres”, conta Elio Gaspari em A Ditadura Escancarada.
Para combatê-los, o governo militar empregou cerca de 10 mil homens, segundo relato de Fernando Portela, no livro Guerra de Guerrilhas no Brasil. O Exército os atacou pela primeira vez entre abril e outubro de 1972, em duas campanhas coligadas. Ao todo, seriam três as campanhas de cerco e aniquilamento, que duraram mais de dois anos. Na primeira, a Operação Papagaio, os guerrilheiros não se saíram bem. Dos quadros do PC do B, 13 foram mortos e sete, presos – entre eles, José Genoíno, hoje presidente do PT. “Estava em uma missão, a de informar aos núcleos da guerrilha de que ‘a hora chegara’. Preso na volta, sobrevivi porque fui pego no começo da guerra”, conta Genoíno, capturado em 18 de abril de 1972. “Fui torturado e espancado. Resisti. Sabia que cada informação poderia custar a vida dos companheiros.” Genoíno passou cinco anos na cadeia depois disso.
A guerrilha reagiu e fez o Exército recuar. Pelo menos, na aparência. Em maio de 1973, na Operação Sucuri, 30 militares experientes e policiais do DOI foram infiltrados na região. Sem pressa, mapearam a guerrilha. Em 7 de outubro, a Operação Marajoara atacou com 400 homens, os melhores das Forças Armadas, habituados à vida na floresta. Sem fardas e sem identificação, humilharam os moradores e os fizeram colaborar para não apanhar. Mais de 30 camponeses se tornaram guias dos militares, que ofereciam mil cruzeiros por “paulista” capturado. Era o suficiente para comprar um pequeno pedaço de terra na região. Em 45 dias, cercaram todos.
Surpreendidos, dispersos, isolados, sem alimentos, sem remédios contra a malária e com pouquíssima munição, os guerrilheiros perderam sua capacidade de combate. As tropas, quando encontravam um guerrilheiro, cumpriam à risca a ordem de não fazer prisioneiros. Até onde se sabe, mataram um a um, inclusive aqueles que já estavam sob sua guarda, rendidos. Os corpos nunca foram encontrados e são procurados até hoje por familiares. Osvaldão foi um dos últimos a cair. Com 1,98 metro, o ex-peso pesado amador do clube do Botafogo, no Rio, era uma lenda viva. Escapara de várias escaramuças com o Exército. Para os moradores da região, era protegido pelos espíritos da mata e tinha a capacidade de virar toco, mosquito, cachorro ou borboleta. Depois de meses resistindo, tombou com um tiro só, dado pelo mateiro Arlindo Vieira, em fevereiro de 1974. Pendurado em um helicóptero e mostrado ao povo, o corpo de Osvaldão era o sinal de que a guerrilha do Araguaia estava exterminada.

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