Nelson Bacic Olic
Por outro lado, cerca de 50 países, em sua maioria considerados desenvolvidos, como a Alemanha, Itália e Japão vão perder população até 2050. A Rússia representa um caso emblemático no que diz respeito à quantidade de população que o país está “perdendo” e ainda deverá perder. Se por exemplo, compararmos o “encolhimento demográfico” da Rússia e do Japão veremos que sua causa, dinâmicas e conseqüências são bem diferenciadas.
Excetuando-se o período da Segunda Guerra Mundial, o Japão só começou a apresentar uma diminuição absoluta de sua população entre 2004 e 2005. A perda populacional nesse período foi de aproximadamente 20 mil habitantes. Essa diminuição já vinha sendo prevista desde a década de 1970 e tem como causas fundamentais a queda da taxa de natalidade a níveis muito baixos e o aumento da mortalidade.
Possuindo um dos mais elevados padrões de vida do mundo, os casais japoneses têm cada vez menos filhos ao mesmo tempo em que a expectativa de vida é cada vez maior. Hoje o país está entre aqueles com maior participação de indivíduos idosos em relação à população total. Esse segmento etário é aquele mais suscetível a determinados tipos de doenças, especialmente gripes. Em suma, a diminuição numérica da população nipônica nada mais é que um dos sintomas do seu alto nível de desenvolvimento.
O caso da Rússia é bem diferente. Primeiramente, a diminuição da população russa é mais antiga e muito mais expressiva numericamente falando que a japonesa. Nos últimos dez anos a população da Rússia encolheu em cerca de 10 milhões de indivíduos. Hoje ela é de 143 milhões e, mantidas as tendências demográficas, ficará reduzida a mais ou menos 100 milhões em 2050. As causas gerais dessa sangria populacional são a queda da natalidade, o aumento da mortalidade e a emigração.
Na época da União Soviética, de maneira geral, os jovens casavam com pouco mais de 20 anos e logo tinham filhos. Hoje essa situação é adiada ao máximo. Mas, a natalidade é também contida, e muito, pelas dificuldades econômicas que se acentuaram após o fim da União Soviética (1991). A caótica transição para a economia de mercado levou à ampliação do desemprego, ao rebaixamento dos salários, ao déficit crônico de moradias, aumento do custo de vida e dos serviços de saúde. Segundo o Banco Mundial, 20% da população russa vive hoje abaixo do nível de pobreza, recebendo o equivalente à R$ 90,00 por mês.
A elevada mortalidade na Rússia não está ligada aos efeitos decorrentes do expressivo número de idosos como no Japão. A singularidade reside na elevada taxa de mortalidade precoce entre indivíduos do sexo masculino, situação atribuída ao elevado consumo de álcool e tabaco e também pelas tensões geradas pelos problemas econômicos que o país vem atravessando. A guisa de comparação, a expectativa de vida de um russo é de 59 anos, enquanto a de um nipônico é de 79.
Desde a desintegração da União Soviética em 1991, muitas pessoas de origem russa que viviam em outras repúblicas que compunham a URSS, retornaram para a pátria-mãe. Ao mesmo tempo, milhões de russos deixaram o país em busca de melhores condições de vida principalmente em países da Europa Ocidental, Estados Unidos e Israel. Embora esse movimento de saída aparentemente esteja diminuindo, estimativas indicam que nos últimos dez anos, cerca de 5,5 milhões de cidadãos russos abandonaram o país.
Curiosamente, os governos tanto do Japão como o da Rússia face à situação demográfica atual lançaram programas que estão recompensando financeiramente os casais que se disponham a ter mais filhos.
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