Nelson Bacic Olic
A presença dos Shoppings Centers (SC) no Brasil é um fato relativamente recente na realidade econômica do país. O primeiro desses estabelecimentos se instalou apenas em 1966, na cidade de São Paulo. Atualmente, o número de SC no Brasil é de 258, sendo que destes, 237 estão em operação e os 21 restantes, em fase de construção. Se há quase 40 anos só a capital dos paulistas tinha a primazia desse tipo de comércio, hoje os SC podem ser encontrados em quase todas as unidades federativas do país, com exceção de Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins. O Brasil ocupa o décimo lugar do mundo em número de SC instalados.
A importância da chamada “indústria” de SC no Brasil pode ser avaliada pelos seguintes dados: ela abriga quase 900 lojas-âncora, possuem mais de 40 mil lojas-satélite, cerca de 1.100 cinemas e em seus estacionamentos caberiam quase meio milhão de veículos. Em 2000, o faturamento dos SC alcançou a casa dos R$ 36,6 bilhões (62% a mais que em 2000), cifra que corresponde aproximadamente 18% de todas as vendas do varejo, à exceção dos setores automotivo e derivados de petróleo. Além disso, os SC são responsáveis por cerca de 480 mil empregos diretos. Uma estatística impressionante: segundo a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), em 2004, a média mensal do tráfego de pessoas que circulavam nos Shopping Centers do Brasil era de 185 milhões, praticamente a população de todo o país!
Uma análise da evolução do número de SC no Brasil permite constatar que o grande crescimento deste tipo de comércio ocorreu na última década do século XX. De 1966 a 1971, o SC Iguatemi de São Paulo reinou absoluto no mundo dos shoppings. Nos anos seguintes a esta última data surgiram 6 novos SC: em Brasília, no Paraná, na Bahia, em Minas Gerais e mais dois em São Paulo.
A partir da segunda metade da década de 1980, o crescimento do número de SC foi vertiginoso e o fenômeno além de se reproduzir num número cada vez maior de estados, também se ampliou em cidades em que esse tipo de estabelecimento comercial já existia anteriormente.
Todavia, foi ao longo da década de 1990 que o crescimento numérico dos SC se ampliou de modo significativo. Em 1991, existiam no país 90 SC. Dez anos depois esse número tinha saltado para 230. Entre 2000 e 2004, pode-se constatar que o crescimento do número de SC foi acelerado nos dois primeiros anos do século XXI quando surgiram 22 novos estabelecimentos. Entre 2002 e 2004, como reflexo da crise econômica que se abateu sobre o país, o número de SC inaugurados caiu para apenas 5. Se no início, só as capitais estaduais abrigavam este tipo de empreendimento, ao longo da década de 1980 e, principalmente no decênio seguinte, ele se disseminou por um grande número de cidades médias e capitais regionais.
O contexto em que surgiu o primeiro SC no Brasil foi marcado, politicamente pelo início da consolidação do regime autoritário que havia se implantado no Brasil desde 1964. Economicamente, o país vivia o momento que antecedeu um curto período de expressivo crescimento econômico que ficou conhecido como o “milagre” brasileiro.
Demograficamente, o Brasil vivia uma época de elevado crescimento vegetativo ao mesmo tempo em que acontecia um rápido e intenso processo de urbanização e industrialização. Fato interessante de se notar é que o recenseamento de 1970 registrava pela primeira vez na história brasileira que havia mais pessoas morando nas áreas urbanas (55,9%) que nas rurais. A cidade de São Paulo contava àquela época com quase 6 milhões de habitantes e já se constituía, há algum tempo, na maior cidade do país.
A atual distribuição dos SC pelas regiões brasileiras mostra que a Região Sudeste, com 155 empreendimentos concentra cerca de 60% de todo este tipo de comércio. Em segundo lugar vem a Região Sul (17%), seguida das regiões Nordeste (14%), Centro-Oeste (7%) e Norte (1%). O Sudeste também confirma sua liderança, concentrando cerca de 2/3 do número de lojas e dos empregos gerados por este setor.
Em termos estaduais, São Paulo com 92 e Rio de Janeiro com 37, concentram cerca da metade de todos os SC existentes no Brasil. Outros estados com expressivo número são os de Minas Gerais (22) e Rio Grande do Sul (21), Distrito Federal (11) e Paraná (14).
A distribuição dos SC em São Paulo mostra a primazia da capital em relação às outras cidades do estado. Assim, a capital paulista concentra cerca de metade dos SC existentes no estado. Essa proporção atinge quase 2/3 se considerarmos os SC instalados em outras cidades da Região Metropolitana da Grande São Paulo. No interior do estado, destacam-se algumas capitais regionais, especialmente os pólos tecnológicos de Campinas e São José dos Campos. Vale, no entanto ressaltar que estes últimos dados referem-se apenas aos SC associados a ABRASCE, que congrega cerca de 2/3 desses tipos de estabelecimentos existentes no país.
Em resumo pode-se afirmar que a atual distribuição dos SC no Brasil reproduz as condições sócio-econômicas vigentes ressaltando, de forma direta, os grandes desequilíbrios regionais e, indiretamente, as desigualdades sociais existentes em nosso país.
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