terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Evolução Geopolítica do Japão

 Nelson Bacic Olic  
Temeroso de uma eventual expansão russa na região do Pacífico Norte, o país aproximou-se dos Estados Unidos. Um dos frutos dessa parceria foi a modernização da economia capitalista. Do ponto de vista militar, o Japão dotou-se de um exército e de uma marinha moderna. Com isso, foram criadas as condições para o início de um processo de conquista de territórios para além do arquipélago japonês.
Numa primeira fase, o Japão declarou guerra contra a China, que estava enfraquecida pela ocupação estrangeira e pelos conflitos internos. A vitória conquistada em 1895 deixou evidente que a China, por conta de seu tamanho e de sua enorme população, seria uma preocupação constante da geopolítica nipônica.
Ao ocupar Taiwan e a Coréia, os japoneses colocaram um pé na Ásia do Norte. Ali, começaram a entrar em choque com os russos, também atentos à falta de controle do combalido Império Chinês sobre a sua periferia (Manchúria, Mongólia e Tibete).
Enxergando a Grã Bretanha como um importante aliado contra as pretensões russas, o Japão assinou com os britânicos, em 1902, um tratado de aliança. Pouco depois, em 1904-1905, promoveu  uma campanha militar vitoriosa contra a Rússia (guerra russo-japonêsa).
Pelo tratado de Portsmouth, o Japão tomou dos russos a porção meridional da ilha de Sacalina, reafirmou seu interesse sobre a Coréia e anexou um pequeno território ao sul da Manchúria. Logo depois o Império nipônico e o Império dos czares partilharam zonas de influência sobre a Manchúria  e a Mongólia.
Na Primeira Guerra Mundial, o Japão aliou-se à Tríplice Entente e, com a derrota alemã, apoderou-se das colônias germânicas existentes no Pacífico Norte. A incorporação das ilhas Marianas, Carolinas e Marshall ampliaram o domínio japonês no Pacífico.
A partir da década de 1930, o Japão lançou-se numa política de expansionismo territorial, com contínuas agressões aos países da região. Os imperialistas japoneses seguiam duas estratégias, a siberiana (ou continental) e a colonial. A primeira encarregou o Exército de expandir o domínio japonês para a China do norte, Mongólia e Sibéria, rivalizando principalmente com a União Soviética. A estratégia colonial, delegada à Marinha, visava a conquista de colônias inglesas, francesas e holandesas na Ásia. Todavia, o principal obstáculo a esse projeto expansionista era a forte presença dos Estados Unidos no Pacífico (Alaska, ilhas Aleutas, Filipinas e principalmente no Havaí).
De 1930 a 1939, o país optou pela doutrina “continental”. Todavia, em 1941, após assinar um pacto de neutralidade com a URSS, o governo japonês adotou a estratégia “colonial”. Assim, no final de 1941, o Japão atacou a base norte-americana de Pearl Harbour no Havaí, ação que lhe trouxe duas conseqüências: a entrada dos Estados Unidos na guerra e a conquista das colônias européias do leste e sudeste asiáticos.
Em algumas semanas, o Japão conquistou um território de cerca de 8 milhões de km2. com aproximadamente 450 milhões de pessoas. Embora fosse um integrante “do Eixo”, junto com Alemanha e Itália, a enorme distância em relação aos parceiros europeus, aliada à dura reação norte-americana,  levaram à derrota nipônica em 1945.
A derrota do Japão também se acelerou porque a URSS declarou guerra ao país em 1945, logo após o encerramento do conflito no cenário europeu. Os soviéticos retomaram a Manchúria, o norte da Coréia e as ilhas Sacalinas e Kurilas. Chegaram ainda a exigir uma zona de ocupação no Japão mas os Estados Unidos recusaram e ocuparam todo o arquipélago japonês. Com o fim da guerra, o Japão perdeu todas as anexações territoriais obtidas após 1895.
Após a Segunda Guerra...
Com o início da Guerra Fria, a vitória comunista na China (1949) e a Guerra da Coréia (1950-53), o Japão deixou sua condição de país vencido e ocupado para se tornar um forte aliado do esforço norte-americano de contenção do comunismo no leste asiático.
A partir da década de 1960 o Japão se consolidou como potência econômica de vocação mundial e sua diplomacia se especializou na conquista de mercados para seus produtos. Daí a sua imagem de “gigante econômico e anão político”, dada a dependência estratégica dos Estados Unidos.
Na década de 1970, o Japão tentou recuperar as ilhas Kurilas em troca de investimentos na Sibéria soviética. Para os japoneses, as Kurilas são um prolongamento natural e cultural da ilha de Hokkaido. A URSS, porém recusou a proposta pois as Kurilas haviam transformado o Mar de Okhotsk numa espécie de mare nostrum soviético. .
A partir da última década do século XX, uma série de eventos mundiais e regionais lançou o Japão num novo ciclo geopolítico. As relações com a Rússia se mantêm frias dada a negativa do governo russo em discutir a questão das Kurilas. Por outro lado, Tóquio assiste com atenção a emergência da China como potência econômica e política. A aproximação com o país vizinho, embora gerando benefícios econômicos mútuos, têm esbarrado na negativa do governo japonês em reconhecer plenamente as atrocidades cometidas contra populações chinesas na II Guerra Mundial.
Diante desse novo desafio, e também dos desdobramentos na península coreana, o Japão tem reforçado seu potencial militar e estreitando ainda mais sua parceria com os EUA. No tabuleiro geopolítico do Pacífico norte os interesses convergentes e divergentes do Japão, dos EUA, da Rússia, da China e das Coréias podem levar a tensões geopolíticas que deságüem em eventuais conflitos.


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