terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Antropoceno um Novo Nome para o Presente Geológico ?

Nelson Bacic Olic  
Durante quase toda sua história geológica a Terra passou por violentas e profundas mudanças em decorrência de cataclismos tectônicos e climáticos de grande poder destrutivo. Mas, segundo alguns especialistas, nos dois últimos séculos as atividades antrópicas adquiriram uma tal importância e impacto que, para eles, seria preciso demarcar essa era na coluna geológica.
A geologia divide a história da Terra em eras, períodos e épocas. A mais recente das eras é a Cenozóica, dividida em dois períodos (Terciário e Quaternário), cada um deles subdividido em épocas. A mais atual delas é o Holoceno, que se iniciou há pouco mais de 11 mil anos, no final da última glaciação.
A linha divisória entre o Pleistoceno e o Holoceno, as duas épocas do Quaternário, não é tão nítida quanto outras divisões do tempo geológico. Por isso, certos especialistas afirmam que o Holoceno seria, na verdade, uma fase interglacial do Pleistoceno. Já a corrente científica principal defende a existência do Holoceno e afiançam que nesta época ocorreram vários eventos naturais como, por exemplo, avanços e recuos do nível médio dos mares e oscilações climáticas significativas. Houve também um novo período de aquecimento ao final da Idade Média, seguido de ligeiro resfriamento até mais ou menos a metade do século XIX.
Como se sabe, a partir da Revolução Industrial o planeta passou a assistir um crescimento exponencial da população. A Terra atingiu seu primeiro bilhão de habitantes por volta da metade do século XIX; pouco mais de 150 anos depois esse contingente já superava 6,5 bilhões, sem perspectivas de parar de crescer em termos absolutos. Previsões demográficas atuais apontam para um efetivo maior que 8,5 bilhões em 2050.
Nos últimos 50 anos, a rápida e contínua evolução dos meios tecnológicos postos à disposição do homem vem causando impacto inédito ao meio ambiente. Estimativas indicam que a humanidade estaria consumindo atualmente cerca de 45% além da capacidade da reposição da biosfera.
Cientistas renomados como o holandês Paul Crutzen (Prêmio Nobel de Química em1995) acreditam que o homem tenha se tornado uma “força geofísica planetária”. Foi ele que, em 2000, cunhou o termo Antropoceno para designar a nova época geológica que viria após o Holoceno. Mas, a proposta de Crutzen é contestada por muitos cientistas.
Considera-se que uma época geológica seja definida por um conjunto de evidências climáticas, estratigráficas, biológicas, químicas e físicas. As principais dessas evidências seriam o aumento das temperaturas médias globais, as mudanças nos padrões de erosão e sedimentação, a acidificação dos oceanos e os crescentes índices de extinção das espécies de forma acidental ou deliberada, causando danos irreparáveis à biodiversidade (o biólogo Edward G. Wilson afirma que atualmente uma espécie desaparece em média a cada 20 minutos e estima que em 2030, cerca de 20% das espécies atuais terão desaparecido).
É impossível acreditar que 6.5 bilhões de pessoas vivendo e explorando, quase sempre predatoriamente, cada recurso disponível não provoque enormes alterações no ecossistema global. Essas alterações ficarão contidas em nosso registro geológico e as gerações futuras poderão perceber mais claramente a herança deixada por seus antecessores.

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