segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Estados Unidos e México: Os Perigos da Fronteira

Nelson Bacic Olic  
A fronteira entre o México e os Estados Unidos é na atualidade um dos mais claros limites entre o mundo rico e o mundo pobre. Em quase toda essa faixa fronteiriça, de cerca de 5 mil quilômetros, existe um muro intercalado por trechos de arame farpado, controlado diuturnamente pela guarda de fronteira norte-americana e por sofisticados sistemas eletrônicos cujo objetivo é impedir a todo o custo a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
A cada dia, milhares de pessoas atraídas pela riqueza da maior potência econômica do mundo, tentam cruzar essa fronteira em busca de uma nova vida. Os que não conseguem, permanecem na região esperando uma nova oportunidade. Esta situação gerou uma verdadeira "explosão demográfica" no norte do México, já que além dos próprios mexicanos, multidões de deserdados de quase toda a América Latina para lá se dirigem. Essa situação gerou enormes bolsões de pobreza que nada ficam a dever às favelas brasileiras. Situação semelhante se repete, em menor escala, no lado norte-americano, como é o caso de McAllen (Texas), considerada a cidade com os piores índices de pobreza em todo  os Estados Unidos.
Se o ritmo atual de imigração para o norte do México for mantido, analistas prevêem que, em cerca  de 25 anos, mais ou menos 40% dos mexicanos estarão vivendo nos estados localizados junto à faixa de fronteira. Atualmente, já vivem na região quase 20% dos mexicanos. Em 1990, eles não chegavam a 15%.
Esse expressivo crescimento demográfico se explica também pelo fato de que foi nesta área que, nas últimas décadas, se instalaram quase 2 mil fábricas de empresas norte-americanas, aproveitando especialmente a baixa remuneração da mão-de-obra mexicana. Conhecidas como "maquiladoras", estas unidades fabris se localizam em cidades mexicanas junto à fronteira tendo do outro lado uma cidade "gêmea" dos Estados Unidos. De maneira geral, as maquiladoras funcionam da seguinte forma: do lado mexicano ficam as linhas de montagem e do outro lado da fronteira, os setores administrativos.
Há cidades "gêmeas" ao longo de toda a fronteira, como são os casos de El Paso (EUA) e Ciudad Juarez (México), Laredo (EUA) e Nueva Laredo (México) entre outras. A geração de empregos pelas maquiladoras e a emigração para os Estados Unidos aparecem como alternativas para a melhoria de renda da população pobre.
O crescimento das maquiladoras contribuiu também para a formação de uma dinâmica região industrial no México setentrional, atividade que anteriormente estava quase exclusivamente concentrada na região central do país.
A cada dia cruzam a fronteira do México para os Estados Unidos cerca de 1 bilhão de barris de petróleo, 400 toneladas de pimenta, 240 mil lâmpadas, além de US$ 51 milhões de peças de todo o tipo. A fronteira é também uma faixa de tensão geopolítica devido ao tráfico de drogas, armas e dos fluxos de imigração ilegal.

Escondidas em fundos falsos de caminhões, caminhonetes e vans viajam toneladas de remédios banidos por lei, sapatos feitos com pele de animais em extinção, armas de todos os tipos, além de heroína, maconha e cocaína. O combate aos cartéis do narcotráfico é um dos pontos centrais das relações entre México e os Estados Unidos.
O tráfico de imigrantes ilegais tornou-se também um problema de segurança nacional no México. Seu "comércio", que movimenta cerca de US$ 5 bilhões anuais, é controlado por máfias com ramificações em todo o mundo. Os "guias" desses imigrantes ilegais, conhecidos como coiotes, chegam a cobrar 2 mil dólares por travessia. Nas últimas duas décadas não foram poucos os imigrantes que perderam a vida na tentativa de chegar aos Estados Unidos. Embora parte deles seja capturada pela polícia de fronteira norte-americana e mandada de volta para o México, estimativas apontam que a cada ano transitam pela fronteira cerca de 1 milhão de imigrantes ilegais.
Entre outros fatores, é por isso que o Acordo de Livre Comércio da América Norte (Nafta), apenas refere-se aos aspectos de livre comércio entre os países membros. Em nenhum momento sugere a livre circulação de pessoas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário