segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

No Congo, mais um Drama Africano

Nelson Bacic Olic  
Nas últimas semanas, a imprensa brasileira deu algum destaque aos conflitos internos que vinham ocorrendo na Libéria, país localizado na porção ocidental do continente africano. Mais de 200 pessoas já haviam morrido nos combates verificados em Monróvia, a capital. Era mais um capítulo do interminável drama que, há mais de uma década atinge o país.
Todavia, esse não é o único conflito interno que atinge países africanos. Desde que obtiveram sua independência – a maioria dos países alcançou essa condição a pouco mais de quarenta anos -, foram poucos os Estados do continente que não passaram por essa situação. Atualmente, além da Libéria, outros países africanos estão envolvidos neste tipo de conflito, um deles, a República Democrática do Congo (RDC), o antigo Zaire.
A RDC, segundo país da África em extensão, tem um território que se confunde, em grandes linhas com a bacia do rio Congo. A ocupação desse enorme país (cerca de 2,5 milhões de quilômetros quadrados) se fez a partir da foz do rio durante a segunda metade do século XIX, pela iniciativa do rei Leopoldo da Bélgica, soberano que dirigiu a colônia como se fosse uma possessão pessoal.
Em 1908, após uma forte campanha da imprensa européia e mundial, que revelou as atrocidades que ali eram cometidas, a região deixou de ser um domínio pessoal do monarca e foi transformada em colônia da Bélgica, condição que se manteve até 1961, quando o Congo conquistou sua independência.
O território do país corresponde quase integralmente à bacia hidrográfica do rio Congo, embora sua parte oriental esteja em contato com a região dos Grandes Lagos. Localizado em plena região equatorial, o rio Congo é o segundo rio do mundo em volume de água e o maior da África nesse quesito. A maior parte dessa bacia hidrográfica está localizada no domínio das terras baixas florestadas equatoriais.
Se a maior parte do país possui uma certa homogeneidade natural, o mesmo não se pode afirmar sobre as características humanas, já que no interior do Estado congolês podem ser identificadas mais 200 etnias. Como acontece com a maioria dos países africanos, esta diversidade étnica é resultado do traçado arbitrário e artificial das fronteiras africanas pelos colonialistas europeus.
O território da RDC pode ser dividido em duas áreas bem distintas. Uma é a zona central, pouco atrativa, formada por pântanos, recoberta por florestas densas, fracamente povoada e cujos variados grupos étnicos ali presentes são numericamente pouco expressivos e com baixo nível de organização política. É nessa região que se localiza a capital, Kinshasa.
A outra, compreende várias regiões periféricas de maior dinamismo econômco (Catanga, Kivu, Kasai e Alto Congo), bem diferenciadas no que tange aos aspectos étnico e lingüístico e que se constituem nas áreas onde se localizam e são exploradas as principais riquezas minerais do país como o diamante e o cobre.
Apesar de sua enorme extensão, a RDC é quase um país interior pois só dispõe de 40 quilômetros de fachada litorânea, banhada pelo Oceano Atlântico, justamente onde deságua o rio Congo. Pesa ainda o fato da localização excêntrica de sua capital em relação às periferias dinâmicas do país. Kinshasa, situada no baixo vale do rio Congo é praticamente desprovida de ligações com o resto do território. Por conta disso, Kinshasa apenas exerce influência direta sobre áreas próximas e pouco atrativas do ponto de vista econômico..
Os problemas da RDC foram agravados ainda mais pela forma desastrosa como o país foi dirigido durante a longa ditadura de Mobutu Sese Seko (1965/1996). Foi durante o seu governo que o país passou a se chamar Zaire. A derrubada do ditador, não mudou o quadro de desequilíbrio regional entre um governo central frágil e as periferias dinâmicas.
A situação é ainda mais complexa por conta do entrelaçamento de etnias existente junto às fronteiras orientais da RDC com Estados vizinhos, especialmente Ruanda e Burundi. Nesses dois países, as etnias majoritárias são a dos hutus e tutsis, também presentes do lado congolês.
Os violentos conflitos e tensões étnicas que passaram a ocorrer, principalmente em Ruanda, a partir de 1994, transbordaram para o território do Congo. O caos surgido pelo enorme afluxo de pessoas que fugiam da guerra em Ruanda e buscavam abrigo no território do Congo e os conflitos que surgiram na região oriental do país, contribuíram para que o regime de Mobutu, que já vinha sendo pressionado por todos os lados, ruísse.

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