domingo, 26 de dezembro de 2010

Estados Unidos: Imigração e Desigualdades Sociais

Nelson Bacic Olic  
 O fenômeno da imigração nos Estados Unidos constitui-se num aspecto muito importante quando se analisa a evolução da população desse país. Só para se ter idéia do volume de pessoas envolvidas, de 1850 aos dias atuais, entraram nos EUA cerca de 70 milhões de imigrantes. O Brasil, no mesmo período recebeu uma quantia de imigrantes cerca de 14 vezes menor..
A imigração nos EUA durante os últimos 150 anos esteve ligada à aplicação de um arsenal jurídico no qual se alternaram fases de maiores facilidades de entradas de imigrantes, com outras nas quais os que desejavam se fixar em território norte-americano encontravam dificuldades quase intransponíveis para conseguir o seu intento.
Nos últimos 150 anos podem ser identificadas três fases da imigração. Na primeira delas, entre 1850 e 1930, cerca de 38 milhões de imigrantes (aproximadamente 90% deles de origem européia) chegaram aos EUA. Nessa fase, podem ser distinguidos dois períodos. O primeiro deles, de 1850 a 1890, é marcado pela presença maciça de imigrantes originários do norte e noroeste da Europa. Desta última data até o final da década de 1920, a maioria dos imigrantes era oriunda da região do Mediterrâneo, italianos principalmente, e de eslavos.
As causas do expressivo contingente migratório neste período estão ligadas, na área de origem, à transição demográfica que se verificava no continente europeu, que liberava excedentes de população. Os EUA, por sua vez, atraíam os imigrantes por conta principalmente da abundância de terras disponíveis (região das planícies centrais), da corrida do ouro (Califórnia) e pelo expressivo crescimento industrial (região Nordeste e sul dos Grandes Lagos).
A segunda fase da onda migratória para os EUA vai de 1930 a 1965 é é marcada por diminuição expressiva do número de imigrantes. Chegam nessa fase “apenas” 5,5 milhões de imigrantes e, embora os europeus continuem majoritários (mais ou menos 50%), canadenses e mexicanos juntos passaram a representar cerca de 1/3 do total.
As causas dessa queda expressiva do número de imigrantes estão ligadas à ocorrência das duas guerras mundiais, à crise de 1929 e à implementação das leis de cotas, que freou a entrada de imigrantes, especialmente daqueles originários da porção sul e leste do continente europeu. Ao mesmo tempo, o número de mexicanos para os EUA aumentou significativamente a partir de 1942 por conta do chamado Programa “bracero”, que estimulou a vinda de mão-de-obra agrícola temporária. Muitos desses “braceros” seriam expulsos do país no início da década de 1950.
Na terceira fase, 1965 até os dias atuais, o número de imigrantes entrados nos EUA ultrapassou o número de 25 milhões. Esta fase é caracterizada pela grande entrada de hispânicos (cerca de 48% do total) e de asiáticos (35%) e da pequena participação de imigrantes de origem européia (12%). Houve também um grande crescimento da entrada de refugiados e de imigrantes clandestinos, mais da metade desses últimos, oriundos do México.
Todo esse grande fluxo de imigrantes foi e continua sendo explicado pela combinação de problemas político-econômicos e da pressão demográfica nos países subdesenvolvidos e pelo expressivo crescimento econômico dos EUA, especialmente na última década do século XX. Segundo estimativas, em 2010, cerca de 21% do contingente total da população dos Estados Unidos será composta por hispânicos, os negros serão aproximadamente 16% e, os asiáticos, mais ou menos 11%. Um dos grandes desafios internos dos EUA será o de ter a capacidade de elaborar um novo modelo de integração das diversas minorias que compõem o tecido social do país.
Minorias e desigualdades sociais
Atualmente nos EUA, os brancos de origem não hispânica representam um pouco menos de ¾ da população do país. As minorias, quase 30% do efetivo total, são representadas pelos negros (13%), hispânicos (12%), asiáticos (4%) e cerca de 0,8% são “americanos nativos”, isto é, aqueles que habitavam o território norte-americano antes da chegada dos colonizadores. Todos esses grupos minoritários têm apresentado um crescimento demográfico superior ao da maioria branca não hispânica.
A minoria negra é essencialmente urbana e está concentrada principalmente nas regiões centro-leste e sul do país. Esta última região que, em 1910 concentrava 90% dessa minoria, hoje abriga apenas metade do contingente dessa minoria. Os negros são majoritários em algumas cidades do sul e do nordeste, como é o caso da capital, Washington, onde formam 2/3 da população e, em Nova Iorque, a principal metrópole dos EUA, se constitui na cidade com o maior número de negros do país.
Já a minoria hispânica não forma um grupo homogêneo. Ela não é identificada por critérios raciais, mas sobretudo por aspectos lingüísticos e religiosos (a maioria tem como língua original o espanhol e professa o catolicismo). Os hispânicos, que praticamente dobraram o seu contingente nos EUA nos últimos vinte anos, se constituem atualmente no principal elemento tanto da imigração legal, quanto da clandestina.
Eles se concentram nas regiões Sul e Oeste dos EUA, com a preponderância de mexicanos na Califórnia e no Texas, de porto-riquenhos em Nova Iorque e de cubanos na Flórida. Por conta de seu crescimento demográfico e do intenso fluxo migratório os hispânicos, por volta de 2010, se tornarão a mais importante minoria dos Estados Unidos.
Os asiáticos, que tiveram seu crescimento triplicado nos últimos 25 anos, têm mais de 60% de seu contingente concentrado nas principais cidades dos estados americanos localizados junto à costa do Pacífico. Há um certo consenso entre a maioria branca de que eles representam a imagem de uma minoria “modelo” do ponto de vista da integração.
Por fim, os “americanos nativos”, depois de passarem por um verdadeiro genocídio durante cinco séculos estão, devido sua alta natalidade, como que “renascendo” demograficamente. São encontrados principalmente em reservas indígenas do oeste e em algumas cidades do país.
Do ponto de vista social, estas minorias em seu conjunto apresentam indicadores de pobreza bem mais elevados que aqueles registrados junto à maioria branca. Por exemplo, um branco não hispânico vive em média 7 anos à mais que um negro. Se os brancos que vivem abaixo da linha de pobreza representam cerca de 10% do contingente de seu grupo, este índice é cerca de três vezes maior para negros e hispânicos. A taxa de desemprego entre os brancos é de cerca de 10%, enquanto que entre os hispânicos e negros ela atinge 15% e 20%, respectivamente.
A minoria negra é, no entanto, a mais afetada pelas desigualdades sociais: 32% dos desempregados do país, 43% das pessoas que cumprem penas em presídios, 48% das vítimas de homicídios, 40% dos condenados à morte e 30% dos casos registrados de AIDS.
Esses dados mostram a falta de capacidade da sociedade do mais importante país do planeta em integrar suas minorias, que continuam a buscar sua parte naquilo que se convencionou chamar de sonho americano.  

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