Nelson Bacic Olic
Na entrada do século XXI, assim como já vinha ocorrendo ao longo do século XX, os EUA se constituem na maior potência financeira, econômica, tecnológica, militar e cultural do planeta. Todavia, a nação norte-americana é também uma potência demográfica. Com mais de 280 milhões de habitantes, os EUA são o terceiro país mais populoso do mundo, cujo efetivo só é superado pelo da China (cerca de 1,3 bilhão) e da Índia (pouco mais de 1 bilhão).
O crescimento populacional norte-americano foi muito rápido. Em 1790, quatorze anos após sua independência, o país possuía cerca de 4 milhões de habitantes; um século depois, a população tinha crescido mais de 15 vezes, chegando a 63 milhões. No século XX, entre 1945 e o ano 2000, sua população simplesmente duplicou.
As causas desse expressivo aumento do contingente populacional estão ligadas ao contínuo excedente do número de nascimentos em relação às mortes e, também, pela expressiva entrada de imigrantes. Entre 1850 e 1930, entraram nos EUA cerca de 38 milhões de imigrantes. No período entre 1930 e 1965, chegaram “apenas” 5,5 milhões, por conta de uma série de leis que restringiram o fluxo. Por fim, de 1965 até os dias atuais, entraram em território estadunidense cerca de 25 milhões de novos imigrantes. Atualmente, o número de estrangeiros residentes nos EUA correspondem a pouco menos de 10% da população total.
Do ponto de vista do crescimento vegetativo, pode-se dizer que os EUA estão concluindo sua transição demográfica. O crescimento que em 1900 era de 1,5% ao ano, foi reduzido pela metade na década de 1930. Todavia essa queda na trajetória demográfica foi interrompida na década de 1950, quando houve uma retomada no ritmo de crescimento, fenômeno que ficou conhecido como “baby boom”. Nessa época, o país voltou a ter um crescimento vegetativo similar ao registrado no início do século XX. Em seguida, o crescimento voltou a diminuir, atingindo em 2000 a cifra de 0,6%, resultado de uma taxa de natalidade de 15 por mil e uma taxa de mortalidade da ordem de 9 por mil.
Todavia, essa dinâmica demográfica é bastante variável, especialmente no que se refere aos aspectos regionais e étnicos. Assim, desde a década de 1980, o aumento mais expressivo da população tem ocorrido no chamado Sun Belt (Cinturão do Sol), ampla área do sul e oeste do país, que se estende aproximadamente do estado da Flórida à Califórnia. Nos últimos 20 anos, a população da região sul dos EUA aumentou de 25%, ao passo que o contingente populacional do oeste teve um incremento de 43,5%. Desde 1970, mais da metade do crescimento populacional do país tem ficado por conta de 5 estados: Califórnia, Texas, Flórida, Arizona e Geórgia.
Por outro lado, se o comportamento demográfico da população branca apresenta características similares ao que ocorre em grande parte dos países da Europa, isto é, crescimento vegetativo próximo de zero, os grupos negro e hispânico apresentam índices de crescimento pouco inferiores a 2% ao ano. A persistência dessa situação tem levado à uma queda da participação populacional dos WASP, sigla que designa os brancos (white), anglo-saxões (anglo-saxons) e protestantes (protestants), que muitos consideram como os “verdadeiros” cidadãos norte-americanos. Previsões demográficas chamam a atenção para o fato de que os hispânicos, “beneficiados” pela intensa migração legal e também ilegal, ultrapassem o grupo negro até 2020. O reconhecimento dessa situação e suas conseqüências a longo prazo, tem ensejado o recrudescimento de movimentos racistas e xenófobos em algumas partes do país.
Parece que essa diferenciada evolução etno-demográfica esteja levando ao fim do conceito do “cadinho” de raças, o melting pot, e à emergência de uma situação “tricultural”, onde se identificaria uma cultura de massa WASP, uma cultura hispânica e uma cultura de exclusão, exemplificada pelos guetos negros urbanos.
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