Nelson Bacic Olic
Assim como os recursos naturais e a população são desigualmente distribuídos pela superfície terrestre, a quantidade de riquezas geradas em cada um dos quase 200 Estados existentes hoje no mundo, apresentam grandes disparidades. Nunca como na atualidade, o fosso que separa países ricos dos países pobres quanto à geração de riquezas foi tão grande e, é quase um consenso, que o processo de globalização, especialmente ao longo da última década, em muito contribuiu para essa situação.
Entre os indicadores mais comumente utilizados para medir a geração de riquezas de um país está o PIB (Produto Interno Bruto). O PIB mede o conjunto de bens e serviços produzidos por um país ao longo de um ano. Apesar de ser um indicador de caráter econômico, diferentemente do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que mede especialmente as condições sociais, o PIB permite algumas comparações no que se refere ao potencial econômico de cada país.
Assim, os EUA, com um PIB de cerca de US$ 9,9 trilhões, produzem sozinhos algo em torno de 30% das riquezas do mundo. Se somarmos o PIB norte-americano aos do Japão e da Alemanha, teremos metade do PIB mundial. Os 25 países com maior PIB do mundo produzem cerca de 90% de toda a riqueza do planeta. Por analogia, mais de 170 países contribuem com apenas 10% do PIB mundial.
Na última década, a posição do Brasil em termos de volume do PIB, tem oscilado entre o nono e o décimo segundo lugar no ranking mundial da geração de riquezas. Durante muitos anos nosso país, ostentou o título de maior PIB da América Latina, condição perdida recentemente para o México. Todavia, se compararmos o PIB brasileiro (cerca de pouco menos de US$ 600 bilhões) ao norte-americano, constataremos que o nosso é cerca de 18 vezes menor. O PIB da hiperpotência corresponde a mais ou menos 80% do total de riquezas geradas em todo o continente americano. Isso já dá idéia da assimetria das relações econômicas que terão lugar caso a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) seja realmente implementada ao final de 2005.
Se há enormes disparidades entre nações ricas e pobres, elas são também muito significativas no interior do próprio mundo subdesenvolvido. Só para se ter uma idéia dessa situação, o PIB brasileiro é cerca de 30% maior que a soma dos PIBs de todos os mais de 50 países que fazem parte do continente africano.
O PIB das regiões brasileiras: permanências e mudanças
Nas últimas décadas o Brasil passou por profundas transformações , especialmente na área econômica. Essas mudanças que atingiram o país como um todo, tiveram diferentes repercussões em suas unidades regionais. Isso pode ser constatado, por exemplo, se compararmos o PIB das regiões brasileiras em dois momentos: 1985 e 2000.
De um lado, a classificação das regiões quanto ao volume do PIB não sofreu alterações no período. O Sudeste continuou sendo a região líder na geração de riquezas, seguida das regiões Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Nos anos analisados, os sete estados com maior PIB – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Santa Catarina -, mantiveram suas respectivas colocações no ranking nacional da geração de riquezas. Vale contudo salientar que, à exceção da Bahia, todas as outras seis unidades federativas com maior PIB fazem parte do Centro-Sul do país.
Por outro lado, o Sudeste que gerava em 1985 pouco mais de 60% do PIB nacional viu, em 2000, essa participação ser reduzida para 57,8%. O Nordeste, por seu turno, também teve sua participação diminuída. Essa região que em 1985 era responsável por 14,1% do PIB nacional passou, em 2000, produzir 13,1%. Já a Região Sul teve um crescimento de apenas 0,5% passando, nos anos considerados, de 17,1% para 17,6%.
As regiões Norte e, principalmente Centro-Oeste, foram aquelas que tiveram os maiores incrementos. A primeira passou de 3,8% para 4,6% e a segunda de 4,8% para quase 7,0%. Essas duas regiões, que nas últimas décadas se constituíram nas principais fronteiras de expansão econômica do país, tiveram seu crescimento ligado a ações do governo federal que induziram a expansão dos setores industrial e agropecuário.
Em termos estaduais ,o Amazonas foi a unidade federativa que mais cresceu no período, fato explicado principalmente pela implantação e desenvolvimento da Zona Franca de Manaus. Já Mato Grosso, estado que com o segundo melhor desempenho econômico no período, teve seu expressivo crescimento vinculado à introdução e desenvolvimento de modernas atividades agropecuárias, com destaque especial para os cultivos da soja e do algodão. Todavia, deve-se lembrar que tanto Mato Grosso como o Amazonas têm ainda uma participação muito pequena no PIB do país (menos de 2% cada um).
Como se sabe, São Paulo tem o maior PIB do país mas, sua participação vem decrescendo. Em 1985, cerca de 40% das riquezas do Brasil eram geradas em território paulista. Em 2000, essa participação caiu para 33,7%. Essa queda na participação do PIB apresentada por São Paulo é explicada por um conjunto de fatores onde se destacam o processo de descentralização econômica, parcialmente induzido pelo governo federal e os efeitos causados pela chamada guerra fiscal. Mesmo assim, o PIB do estado é ainda cerca de 2,5 vezes maior que o da Região Nordeste, quase duas vezes o do Sul, sete vezes o do Centro-Oeste e quase nove vezes superior ao da Região Norte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário