Nelson Bacic Olic
De 1872, data do primeiro recenseamento realizado no Brasil, até o censo de 2000, a população da Região Sul sempre cresceu, tornando-se cerca de trinta e cinco vezes maior. Em 1872, o número de pessoas que habitavam o sul do país era de pouco mais de 720 mil indivíduos. Atualmente, este efetivo ultrapassa os 25 milhões. Em termos relativos, o Sul é a terceira área mais populosa do país na atualidade, correspondendo a cerca de pouco menos de 15% da população total, sendo superada pelo contingente do Sudeste (42,6%) e do Nordeste (28,2%).
Três razões explicam o expressivo aumento da população do Sul no período compreendido entre o primeiro e o último censo realizados: o crescimento vegetativo, a imigração e as migrações internas que, contudo, tiveram importância diferenciada ao longo do tempo.
Assim, por exemplo, o crescimento vegetativo no final do século XIX e início do século XX era baixo, em função de uma taxa de natalidade alta e de uma mortalidade também alta. Já da década de 1940 à de 1960, o crescimento vegetativo aumentou de forma significativa, fato explicado fundamentalmente pela diminuição expressiva das taxas de mortalidade e pela pequena queda das taxas de natalidade. Dos anos 1970 em diante, houve uma diminuição do ritmo do crescimento vegetativo, em decorrência de a taxa de mortalidade ter praticamente se estabilizado em níveis bem baixos e da taxa de natalidade ter apresentado progressiva e sensível diminuição.
Por outro lado, a imigração só teve maior importância no período compreendido entre a segunda metade do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. Os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina foram os que mais foram beneficiados nesse aspecto.
No que se refere às migrações internas, elas têm se constituído num fator importantíssimo para se compreender a maioria das variações demográficas mais significativas verificadas ao longo do século XX. Dentre essas variações, aquela que talvez possa ser considerada a mais importante aconteceu quando da ruptura dos padrões de crescimento da população a partir dos dados revelados pelo censo de 1970.
No final do século XIX e início do século XX, o aumento da população absoluta da Região Sul deveu-se fundamentalmente à combinação entre o crescimento vegetativo que era baixo e à chegada expressiva de imigrantes.
Nessa época, as migrações internas, embora existissem, não eram tão significativas. Da década de 1940 à de 1960, o crescimento foi explicado por um crescimento vegetativo alto e uma participação expressiva de pessoas que vinham de outras regiões brasileiras em direção ao Sul, especialmente aquelas cujo destino era o estado do Paraná. Como já foi salientado anteriormente, o peso da imigração neste período e nas décadas posteriores, foi irrelevante.
A partir da década de 1970, apesar de a população absoluta continuar crescendo, o ritmo desse crescimento foi bem menor. Isso foi conseqüência da combinação de dois fatores demográficos: a diminuição de ritmo do crescimento vegetativo e a mudança de rumos das migrações internas.
Muitos habitantes do Sul, foram impelidos a deixar a região em busca de melhores oportunidades em outras áreas do país. Entre as razões de saída podem se destacadas o fim de terras disponíveis para ocupação na região, reconcentração estrutura fundiária, introdução de novas técnicas e culturas economizadoras e mão-de-obra e existência terras passíveis de ocupação e compra, devido aos seus baixos preços, nas regiões Centro-Oeste e Norte.
Desde então o Sul, que ao longo de sua história sempre tinha sido uma área de atração, se transformou numa área de repulsão populacional. Na década de 1980 essa "sangria" populacional perdeu um pouco o seu ímpeto, mas a região continuou sendo, como já vinha acontecendo na década anterior, aquela de menor ritmo de crescimento populacional. Essa situação apenas se modificou um pouco na última década do século XX, quando sua taxa de incremento populacional (1,42%) foi pouco superior à registrada na Região Nordeste (1,30%).
De qualquer forma deve-se registrar que a participação da população da Região Sul no conjunto da população brasileira vem diminuindo desde a década de 1960. Se em 1970, quando a população do Sul atingiu sua maior participação, o censo revelou que 17,7% dos brasileiros viviam na região, os recenseamentos posteriores mostraram sucessivos declínios dessa participação. Em 2000, apenas 14,8% dos brasileiros viviam no sul do Brasil.
O comportamento dos estados
As situações demográficas descritas até aqui, como era de se esperar, repercutiram de forma diferenciada na evolução populacional de cada Estado componente da região. Assim, o Rio Grande do Sul foi o aquele que em todos os recenseamentos teve maior população absoluta. Essa situação apenas não se verificou em 1970, quando o contingente populacional dos gaúchos foi superado pelo dos paranaenses.
Em relação ao total da população brasileira, o mínimo que o Rio Grande do Sul representou foi 4,3% (1872), e o máximo foi de 8,1% (1940). No censo de 2000 os gaúchos correspondiam a 6% e, embora a população do Rio Grande do Sul continuasse a crescer em termos absolutos, sua participação no conjunto do país vem gradativamente diminuindo.
Já Santa Catarina foi o segundo Estado mais populoso em 1872 e em 1890. Perdeu essa posição no ranking regional para o Paraná em 1900. Desde então se tornou o menos populoso, e sua participação no total do Brasil variou de 1,3% (1872) a 3,1% (2000). Por fim, o Paraná apresentou a variação mais curiosa: em 1872 era o Estado menos populoso, chegou ao segundo lugar em 1900, passou a primeiro em 1970 e voltou ao segundo lugar nos censos posteriores. Em 2000, cerca de 5,6% dos brasileiros viviam no Paraná
Não se esperam grandes modificações nas estruturas demográficas do Sul do Brasil ao longo da primeira década do século XXI, porque:
1. o crescimento vegetativo da região deve continuar seu processo de redução;
2. não há indícios de que migrações internas significativas estejam se dirigindo para a região;
3. não há aparentemente perspectivas de que haja aumento de migrações extra-regionais que tenham o Sul como origem.
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