segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Sadam Hussein: Realidade e Ficção

Nelson Bacic Olic  
Nos últimos meses uma indagação tem pairado no ar: os Estados Unidos irão realmente atacar o Iraque? Em janeiro de 2002, quando o presidente dos EUA George W. Bush deu início à segunda fase da guerra ao terror, identificando o Iraque, o Irã e a Coréia do Norte como países integrantes do “eixo do mal”, a indagação ficou cada vez mais freqüente.
Desde a Guerra do Golfo (1991) cogitava-se a derrubada do regime de Sadam Hussein, inclusive com sua eliminação física.
O texto que virá a seguir foi extraído das páginas 421 a 424 do livro O Punho de Deus (1993), do escritor britânico Frederick Forsyth. É uma análise feita por um grupo de especialistas, dirigido ao governo norte-americano (na época o presidente dos EUA era o pai do atual mandatário), que pondera a validade da eliminação de Sadam Hussein. Como poderá se notar, algumas informações foram ultrapassadas pelos fatos, mas, outras permanecem válidas até hoje.
Nos últimos meses uma indagação tem pairado no ar: os Estados Unidos irão realmente atacar o Iraque? Em janeiro de 2002, quando o presidente dos EUA George W. Bush deu início à segunda fase da guerra ao terror, identificando o Iraque, o Irã e a Coréia do Norte como países integrantes do “eixo do mal”, a indagação ficou cada vez mais freqüente.
O Iraque é sem dúvida o alvo imediato escolhido pelo governo Bush. A acusação do governo norte-americano é que tanto o Iraque quanto os outros dois países componentes do eixo do mal teriam em seu poder armas de destruição em massa.
O Iraque tem sido, por mais de dez anos, um desafio persistente ao governo norte-americano. Isso já havia se evidenciado durante a Guerra do Golfo (1991). Desde aquela época cogitava-se a derrubada do regime de Sadam Hussein, inclusive com sua eliminação física.
O texto que virá a seguir foi retirado de um livro do escritor britânico Frederick Forsyth, um autor de best-sellers que em suas obras normalmente “mistura” ficção e realidade. O livro de Forsyth, cujo título é O Punho de Deus, foi publicado originalmente na Inglaterra em 1993 e, no Brasil pela Editora Record, em 1995, portanto logo após a Guerra do Golfo.
O enredo trata da ação de comandos britânicos no Iraque que buscavam destruir um “super canhão” (O Punho de Deus), que poderia ser utilizado pelo governo iraquiano contra Israel e as tropas da coalizão anti-Iraque.
O texto, extraído das páginas 421 a 424, é uma análise feita por um grupo de especialistas, dirigido ao governo norte-americano (na época o presidente dos EUA era o pai do atual mandatário), que pondera a validade da eliminação de Sadam Hussein. Como poderá se notar, algumas informações foram ultrapassadas pelos fatos, mas, outras permanecem válidas até hoje. Vamos ao texto:

Memorando para: James Baker, Secretário de Estado
De: Grupo de Informações e Análises Políticas (GIAP)
Assunto: assassinato de Saddam Hussein
Data: 5 de fevereiro de 1991
Classificação: só para seu conhecimento
Não escapou à sua atenção, com toda a certeza, que desde o início das hostilidades entre as Forças Aéreas da Coalizão, decolando da Arábia Saudita e países vizinhos, e a República do Iraque, houve pelo menos duas, possivelmente mais, tentativas de eliminar o presidente iraquiano Saddam Hussein. Todas as tentativas foram através de bombardeio aéreo, e apenas por nós.
Este grupo, portanto considera urgente projetar as prováveis conseqüências de uma tentativa bem-sucedida de assassinar o Sr. Hussein. O resultado ideal, é claro, seria que qualquer regime que sucedesse à atual ditadura do Partido Baath fosse instituído sob os auspícios das forças vitoriosas da Coalizão e assumisse a forma de um governo humano e democrático.
Acreditamos que tal esperança é ilusória. Em primeiro lugar, o Iraque não é, e nunca foi, um país unido. Mal se passou uma geração do tempo em que era uma colcha de retalhos de tribos rivais, muitas vezes em guerra. Abriga, em partes quase iguais, duas seitas do Islã potencialmente hostis, os sunitas e os xiitas, além de três minorias cristãs. Deve-se acrescentar a tudo isso a nação curda, ao norte, mantendo vigorosamente seu empenho por uma independência em separado.
Em segundo lugar, nunca houve nenhum vestígio de experiência democrática no Iraque, que passou do domínio dos turcos para os hachemitas e para o Partido Baath sem o benefício de um interlúdio de democracia, como a compreendemos.
No caso, portanto, do fim súbito da atual ditadura, por assassinato, só há duas perspectivas realistas. A primeira seria uma tentativa de impor de fora um governo de consenso, incluindo todas as principais facções, em linhas de uma coalizão de bases amplas.
Na opinião deste grupo, tal estrutura sobreviveria no poder por um período extremamente limitado. Rivalidades tradicionais e seculares precisam de pouco tempo para destruí-la.
Os curdos, com toda a certeza, aproveitariam a oportunidade, por tanto tempo negada, de optar pela secessão e instituir sua própria república, ao norte. Um governo central fraco em Bagdá, baseado num acordo pro consenso, seria impotente para evitar tal iniciativa.
A reação turca seria previsível e furiosa, já que sua própria minoria curda, ao longo das áreas da fronteira, não perderia tempo em aderir aos curdos do outro lado da fronteira, numa resistência bastante revigorada ao domínio turco.

A sudeste,  a maioria xiita, em torno de Basra e do Shatt-al-Arab, encontraria sem dúvida bons motivos para apresentar aberturas a Teerã. O Irã se sentiria tentado a vingar os massacres de seus jovens na recente guerra Irã-Iraque, alimentando essas aberturas, na esperança de anexar o sudeste do Iraque, diante do desamparo de Bagdá.
Os Estados do Golfo pró-Ocidente e a Arábia Saudita seriam lançados a uma situação próxima do pânico, diante da possibilidade do Irã se estender até a fronteira do Kuwait.
Mais ao norte, os árabes do Arabistão iraniano fariam causa comum com os árabes do outro lado da fronteira, no Iraque, um movimento que seria vigorosamente reprimido pelos aiatolás de Teerã.
No remanescente do Iraque teríamos a eclosão, quase com certeza, de lutas intertribais, para acertar velhas contas e estabelecer a supremacia do que restou.
Todos  acompanhamos com aflição a guerra civil entre os sérvios e croatas na antiga Iugoslávia. Até agora, os combates não se estenderam à Bósnia, onde uma terceira força componente, a dos muçulmanos bósnios, aguarda o desenrolar dos acontecimentos. Quando as hostilidades alcançarem a Bósnia, como ocorrerá um dia, o massacre será ainda mais terrível.
Não obstante, este grupo está convencido de que o sofrimento da Iugoslávia seria ofuscado para a insignificância em comparação com a perspectiva agora descrita para um Iraque em plena desintegração. Nesse caso, podemos aguardar uma grande guerra civil no remanescente do território iraquiano, quatro guerras nas fronteiras e a completa desestabilização do Golfo. Só o problema dos refugiados se elevaria a milhões.
O único outro roteiro viável é Saddam Hussein ser sucedido por outro general, ou por um membro sênior da hierarquia do Partido Baath. Mas como todos da atual hierarquia têm suas mãos tão manchadas de sangue quanto seu líder, é difícil imaginar que benefícios decorreriam da substituição de um monstro por outro, que talvez, seja um déspota ainda mais esperto.
A solução ideal, embora admitamos que não seja perfeita, deve ser, portanto, a manutenção do status quo no Iraque, só que com a eliminação de todas as armas de destruição em massa, e com as forças convencionais tão degradadas que não representarão mais uma ameaça para qualquer Estado vizinho, pelo menos por dez anos.
Pode-se muito bem argumentar que a continuação das violações dos direitos humanos por parte do atual regime iraquiano, se for permitida sua sobrevivência, se tornará mais aflitiva. Não resta a menor dúvida quanto a isso. Contudo, o Ocidente tem sido obrigado a testemunhar cenas terríveis na China, Rússia, Vietnã, Tibete, Timor Leste, Camboja e muitas outras partes do mundo. Não é simplesmente possível que os Estados Unidos imponham à humanidade numa escala mundial, a menos que estejam dispostos a entrar numa permanente guerra global.
Ocatastrófico da atual Guerra do Golfo e a eventual invasão do Iraque é, portanto, a sobrevivência no poder de Saddam Hussein, como único chefe de um Iraque unificado, embora militarmente emasculado, incapaz de qualquer agressão externa.
Por todos os motivos enunciados, este grupo recomenda a cessação de todos os esforços para assassinar Saddam Hussein, ou para marchar até Bagdá e ocupar o Iraque.
Respeitosamente
Grupo de Informações e Análises Políticas (GIAP)

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