domingo, 26 de dezembro de 2010

Bangladesh: Tão perto da Índia e tão longe do Paquistão

Nelson Bacic Olic  
  Toda vez que se faz uma análise sobre o subcontinente indiano, de imediato são abordados problemas envolvendo a Índia, o Paquistão e a eterna pendência entre ambos, que é a disputa pela região da Cachemira. Todavia, há outros países nessa região que merecem alguma atenção como são os casos do Sri Lanka (o antigo Ceilão) e Bangladesh. É sobre este último país que trata este texto.

Com pouco mais de 140 mil km2 (quase do tamanho do estado do Amapá), uma população de aproximadamente 130 milhões de habitantes, e uma densidade demográfica próxima de 1.000 hab/km2, Bangladesh é considerado um dos mais pobres países do mundo. Com um território quase totalmente plano (a altitude não vai além dos 50 metros, mesmo a 400 km. do mar), Bangladesh tem a quase totalidade de sua superfície drenada por rios muito caudalosos como o Ganges, o Brahmaputra. É por isso que muitos designam Bangladesh como o “país das águas”.

Situado entre os 20º e 26º de latitude norte, portanto quase integralmente na Zona Intertropical, é afetado, como todos os países da região, pelo fenômeno das monções. As chuvas trazidas pelas monções de verão são fundamentais para a economia de milhões de camponeses que dependem delas para desenvolver seus cultivos.

Entretanto, periodicamente, essas chuvas são de uma intensidade diluviana - alguns dos pontos mais chuvosos do mundo se situam no território de Bangladesh ou em regiões próximas. Aliadas às condições topográficas e hidrográficas dominantes no país, tais chuvas causam tragédias cujas vítimas, podem ser contadas, por vezes, em centenas de milhares. Em 1988, cerca de 60% do território de Bangladesh ficou submerso pelas águas.

Mas como “desgraça pouca é bobagem”, a essas inundações juntam-se com freqüência os ciclones tropicais originários do golfo de Bengala, que trazem ventos cuja velocidade pode alcançar 250km/h que, por sua vez, “empurram” as águas do mar para o interior do continente. As populações que vivem no limite entre os deltas dos rios e o mar acabam sendo duramente atingidas. Em 1991, um desses ciclones que atingiu o país, ceifou a vida de mais de 300 mil pessoas.

O país além de ser “afogado” pelas águas, também o é por um crescimento demográfico galopante. Nas três últimas décadas do século XX a população mais que duplicou, passando de 55 milhões para 130 milhões, apesar das periódicas catástrofes naturais e das significativas migrações em direção à Índia.

Por outro lado, Bangladesh apresenta uma população quase totalmente homogênea do ponto de vista étnico já que cerca de 98% de seu contingente demográfico é formado pelo grupo bengali que professa, em sua maioria, o islamismo. Vale no entanto ressaltar que aqueles que seguem o hinduísmo representam pouco mais de 10% do efetivo populacional.

Evolução geopolítica
Em 1947, quando se verificou a partilha da colônia britânica da Índia sobre uma base religiosa, o Paquistão ficou dividido em duas partes. Na parte leste, onde se refugiaram os bengalis muçulmanos, formou-se o Paquistão Oriental, distante cerca de 1.600 km. do outro “pedaço” do Paquistão e separado daquele por territórios pertencentes à Índia.

De 1947 a 1971, o Paquistão Oriental foi uma espécie de colônia de seu homônimo ocidental. Tudo separava essas duas áreas do país, à exceção da religião muçulmana, comum a ambas.O poder político encontrava-se na parte ocidental, região que controlava a máquina administrativa estatal, detendo o monopólio das nomeações aos postos superiores do funcionalismo e das forças armadas.

O Paquistão Oriental além de possuir mais população (55% do efetivo total), produzia grande parte das riquezas do país. Apesar de produzir 75% das exportações do país (juta e chá, principalmente), não recebia mais que 30% dos investimentos totais. Fora isso, tentava-se impor a língua e cultura urdu (exclusivas do oeste) às populações bengalis do leste que possuíam maior afinidade com seus congêneres da Índia.

Ao longo dos anos. essa situação ficou insustentável gerando uma guerra civil. Em 1971, contando com decisivo apoio da Índia, o Paquistão Oriental se separou de seu “irmão ocidental”, tornando-se um novo Estado, o de Bangladesh.

Desde então, Bangladesh se defronta com três problemas principais: o primeiro é o de tentar melhorar as condições de vida de sua população, já que o país está entre os mais pobres da Ásia. Para se ter uma idéia, seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) apresenta números muito próximos daqueles que se verificam entre os países mais pobres da África Subsaariana.
O segundo problema é tentar reconstruir o país depois de cada nova catástrofe natural (enchente, tufão ou uma combinação de ambos). O país só tem sobrevivido por conta da ajuda humanitária internacional. O terceiro é o de tentar manter uma equilibrada política externa perante dois de seus poderosos vizinhos: a Índia e a China.

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