A instabilidade na sua periferia externa inquieta a Rússia. No passado longínquo, a
partir do século 17, o antigo Império czarista ocupou e subjugou os povos do Cáucaso e
da Ásia Central, garantindo assim a segurança nas fronteiras exteriores da Rússia.
Nas décadas do poder comunista, instaurado em 1917, Moscou desenvolveu uma
política de russificação das repúblicas soviéticas, estimulando migrações populacionais
de russos para as zonas periféricas.
Agora, tudo isso parece desmoronar.
As fronteiras estratégicas da Rússia estiveram sempre além das suas fronteiras
políticas. Durante a Guerra Fria, estenderam- se até a “cortina de ferro”, projetando-
se sobre a Europa Oriental.
Com o desmantelamento do bloco soviético e a fragmentação da URSS, tudo indica
Que o Estado russo enxerga nos limites da CEI a sua nova fronteira estratégica.
A presença de numerosas minorias populacionais russas em vários países dessa
Zona periférica reforça essa percepção.
A maior parte das tropas do antigo Exército Vermelho continua nas suas posições,
Em territórios de Estados da CEI. Essas tropas estão sob comando formal da Comunidade,
Mas poucos duvidam que obedeceriam ordens emanadas diretamente de
Moscou. Resta saber por quanto tempo elas permanecerão à margem das guerras que
eclodem no perímetro externo da Rússia.
O fim dos blocos geopolíticos devolveu o conteúdo puramente geográfico aos conceitos
“leste” e “oeste”, e criou as condições para o surgimento de um novo mundo,
multipolar. Eliminada a oposição ideológica, são as confluências econômicas,
históricas, étnicas e culturais muitas das quais sufocadas durante décadas pela
“cortina de ferro” que criam, hoje, uma irresistível tendência mundial
à formação de novos blocos regionais.
(José Arbex, 500 anos de solidão, A Nova Desordem Mundial,
Folha de S. Paulo, 19/12/1990, p. 3)
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