Nelson Bacic Olic
Portugueses e espanhóis foram os primeiros a aportar em terras da Oceania nos primórdios do século XVI. Os lusitanos chegaram pela porção leste , os hispânicos pelo oeste e, em seguida, esses dois povos ibéricos partilharam a posse de amplas áreas do Pacífico entre si. Muitas dessas possessões foram sistematicamente atacadas por corsários e piratas holandeses e ingleses, contribuindo para que nos séculos seguintes, a influência espanhola e portuguesa fosse gradativamente reduzida.
Já a implantação britânica na Oceania verificou-se especialmente ao longo do século XIX, a partir do fim das guerras napoleônicas na Europa, no momento em que a França fixava sua presença notadamente na Polinésia. Na segunda metade do século XIX, a competição imperialista na região se acirrou com o aumento da influência de potências "emergentes" daquela época - Japão, Alemanha e Estados Unidos, que passaram a reivindicar a posse sobre arquipélagos e ilhas da região.
A história mais recente da Oceania pode ser caracterizada por uma série de retiradas sucessivas de algumas potências imperialistas que ali mantinham seus interesses. Assim, a Espanha perdeu seus últimos remanescentes coloniais em 1898, logo após sua derrota para os EUA durante a guerra hispano-americana. A Alemanha, que havia conseguido expressivo aumento de sua influência na região após 1880, perdeu todas as suas possessões coloniais após ter sido derrotada na Primeira Guerra Mundial (1914/1919). Essas possessões acabaram ficando nas mãos do Japão, da Grã-Bretanha, da Austrália e da Nova Zelândia. Devido sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão viu também desaparecer seu império "oceânico".
A vitória americana no teatro de guerra do Pacífico tornou os EUA a potência dominante de toda a região, fato que se cristalizou quando a marinha norte-americana instalou uma densa rede de bases militares, não só nos arquipélagos conquistados no final do século XIX, como também em inúmeras ilhas tomadas aos japoneses em 1945. O ponto estratégico vital do dispositivo de segurança dos EUA no Pacífico foi e continua sendo o Havaí, onde está situada sua principal base aeronaval. Durante a Guerra Fria a marinha americana reinou de forma absoluta nas águas da Oceania.
Fora o domínio quase total dos EUA, vale destacar as posições mantidas ainda hoje pela França na região. Uma delas é o arquipélago da Nova Caledônia, onde os nativos locais, conhecidos como canacas tentam há décadas conquistar sua independência. A outra é a região da Polinésia Francesa, mais especificamente o atol de Mururoa, local aonde os franceses chegaram a realizar numerosas experiências atômicas submarinas, fato que causou enorme repúdio por parte da comunidade internacional.
Nova Zelândia e Austrália: visões estratégicas
Os destinos da Nova Zelândia quase sempre foram confundidos com os da Austrália. Contudo, a evolução geopolítica neozelandesa foi diferente em relação a seu grande vizinho, talvez desde o momento em que recusou a se associar à Comunidade de Estados que deu origem à Austrália em 1901.
Embora tenha participado ativamente das duas guerras mundiais ao lado da Grã-Bretanha e, durante a Guerra Fria ter se associado aos EUA e Austrália num pacto político-militar, conhecido pela sigla ANZUS (Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos), que objetivava impedir a expansão do socialismo na região da Oceania, os neozelandeses têm idéias próprias sobre o papel que deve ser desempenhado pelo país no contexto político regional.
Assim, a Nova Zelândia pretende se transformar num importante interlocutor junto ao mundo polinésio em virtude não só de sua proximidade geográfica mas também dos laços existentes entre a cultura maori (as populações autóctones do país) e a de seus vizinhos. Nessa perspectiva, a Nova Zelândia se defronta com os obstáculos, representados pelos EUA e pela França.
Em relação aos EUA existem algumas ilhas cuja soberania os neozelandeses contestam. Além disso, a Nova Zelândia por vários anos impediu a utilização de seus portos por navios norte-americanos que carregassem armas nucleares. Com a França, as divergências são mais profundas e, se referem essencialmente à oposição ferrenha da Nova Zelândia aos testes nucleares realizados pela França no atol de Mururoa, na Polinésia francesa. Sendo um país de reduzida dimensão territorial, com pequeno efetivo populacional e com uma localização geográfica excêntrica, as ambições geopolíticas neozelandesas estão dirigidas para sua presença na vizinha Antártida.
No que se refere à Austrália, as percepções geopolíticas em relação às ameaças que pairavam sobre o país modificaram-se bastante em pouco mais de um século. Assim, de 1890 a 1914, as preocupações geopolíticas da Austrália estavam ligadas à expansão naval alemã e o império colonial que os germânicos tentavam consolidar ao norte do território australiano. De certa forma, foi essa ameaça que acelerou, em 1901, a formação da Comunidade dos Estados Australianos.
Após o final da Primeira Guerra, a ameaça maior passou a ser o expansionismo do Japão e sua política imperialista que já vinha sendo desenvolvida desde a segunda metade do século XIX, mas que se acelerou no período entre as duas guerras mundiais. Durante a Segunda Guerra , os japoneses se aproximaram perigosamente da Austrália, chegando a ocupar a vizinha ilha da Nova Guiné e efetuando alguns ataques aéreos ao norte do território australiano. A derrota nipônica em 1945 fez essa ameaça desaparecer.
Com o advento da Guerra Fria, a nova ameaça passou a ser a progressiva expansão de regimes comunistas em vários países asiáticos, mais ou menos próximos à Austrália, como os da China, Coréia do Norte e do antigo Vietnã do Norte. Em face dessa ameaça a Austrália, que em outras épocas sempre esteve alinhada à Grã-Bretanha, alargou essa aliança incorporando-se aos esquemas políticos-militares capitaneados pelos EUA. É dentro deste contexto que se deve entender a participação da Austrália, juntamente com a Nova Zelândia no pacto ANZUS, que entrou em vigor no início dos anos 50. Durante as décadas de 1960 e 1970, a Austrália apoiou a intervenção norte-americana no Vietnã, enviando inclusive para o conflito um contingente simbólico de soldados.
Na atualidade, a Austrália tem reavaliado seu papel no contexto regional especialmente em função do estreitamento dos laços econômicos com os países do leste e sudeste asiáticos, abrindo uma nova perspectiva em suas relações internacionais. Comprovando essa nova estratégia, a Austrália tem como alguns de seus mais importantes parceiros comerciais o Japão, a Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e China.
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