segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Declínio do PIB fez os anos 80 a Década Perdida para a América Latina

Há várias formas de julgar o comportamento social da economia de um país. Uma
delas é medir os índices de mortalidade infantil, de expectativa de vida média da população,
de assistência médica por habitante, de saneamento básico e serviços etc.
Outro parâmetro é o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas).
Nos anos 80, a taxa de crescimento anual do PIB caiu para 1,5%, quando tinha sido,
em média, de 5,4% nos anos 70. Como o crescimento populacional superou a média
de 2% anuais neste período, a conclusão é imediata: o PIB por habitante declinou. Isso
significa que nos anos 80 cada país latinoamericano produziu, em média, menos riqueza
do que o exigido pelo crescimento populacional.
Os investimentos na economia e no parque industrial também caíram drasticamente,
de uma média anual de 24,5% nos anos 70 para 16,4% entre 1985-88. Na maioria dos
países latino-americanos, os investimentos sequer foram suficientes para reparar ou
substituir equipamentos quebrados ou obsoletos (incluindo transportes, comunicações,
escolas e hospitais).
A situação foi agravada com a prolongada recessão nos países ricos no começo dos
anos 90. As economias do Terceiro Mundo, no qual se inclui a América Latina, dependem
de investimentos estrangeiros e da importação de tecnologia avançada. Com o
acirramento da crise econômica mundial, os países ricos tendem a proteger seus próprios
mercados, importando menos e cobrando mais por aquilo que exportam. O
individamento do Terceiro Mundo cresce.
A dívida externa é o principal fator de estagnação na América Latina. Nos anos 60-70,
os empréstimos a juros baixos tomados junto a bancos internacionais comerciais financiaram
um “boom” de industrialização (“milagre econômico”). Um grande fluxo de capitais no
sentido Norte-Sul criou na América Latina uma classe média relativamente numerosa. Mas a
situação inverteu-se nos anos 80.
Preocupados com o excesso de moeda em circulação, gerador de um processo inflacionário
que afetava negativamente suas economias, os “ricos” passaram a “enxugar” o mercado,
aplicando taxas de juros cada vez mais altas ao dinheiro emprestado. O dinheiro, que nos
anos 70 era “fácil”, nos anos 80 tornou-se caro.
O resultado foi o crescimento acelerado da dívida. Os países latino-americanos tiveram
que exportar volumes cada vez maiores de dólares. Não sobrava capital para investimentos
em seus próprios parques produtivos. Cada país produzia para pagar a dívida, segundo
uma lógica perversa, em que a elevação da taxa de juros o tornava incapacitado (ou
inadimplente, no jargão dos economistas).
Indústrias faliram, o desemprego aumentou e a crise agravou-se em 1990-92 (1,5
milhão de demissões apenas na Grande SP).
As repercussões sociais são tão visíveis quanto cruéis. Em regiões do Brasil, cresce
a mortalidade infantil, contra uma tendência mundial à sua queda.


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