segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Sucesso da Candidatura Perot teve a mesma base social que os conflitos raciais de Los Angeles

Não por acaso, a candidatura Perot ganhou força no mesmo período em que aconteciam
os grandes conflitos raciais de Los Angeles, Washington Heights (bairro de Nova York) e outras grandes cidades dos Estados Unidos. O bilionário texano parecia representar algo “novo”, quando os partidos tradicionais se mostravam incapazes de oferecer soluções reais aos problemas econômicos e sociais do país.
Fenômenos deste tipo haviam sido profetizados, meses antes, pelo economista John
Kenneth Galbraith. Analisando o elevado índice de abstenção nas eleições americanas
(o voto não é obrigatório), Galbraith notou que o desinteresse era maior entre as
camadas mais pobres da população, formada por negros e hispânicos. Concluiu, assim,

“FENÔMENO PEROT” MARCA O FIM DO BIPARTIDARISMO NOS EUA
Impacto eleitoral do bilionário texano revela impotência histórica de democratas e republicanos
Mergulhados na miséria, e descrentes em relação aos partidos tradicionais nos EUA (Democrata e Republicano), negros e hispânicos partiram para violentas manifestações de rua em Los Angeles. É um claro sintoma da decadência do império americano e fim do “american dream”. que essas camadas não mais acreditavam nos partidos tradicionais.
Diante da falta de opções institucionais para expressar seu descontentamento, restavam
as ruas ou o voto em demagogos e populistas de última hora. Perot era exatamente
isso. Seu programa de governo nunca ficou claro. Dele se sabia, por exemplo,
que em suas empresas não podiam trabalhar barbudos, cabeludos, adúlteros e homossexuais.
Aparentemente, Perot desistiu porque sua candidatura ficou comprometida pela desorganização de seu comitê eleitoral. Ele queria decidir tudo sozinho, e não ouvia os especialistas.
Os motivos reais podem ter sido outros: por exemplo, pressões por parte das
corporações que sustentam Bush e Clinton, e que se sentiram ameaçados pela presença
de um aventureiro na Casa Branca.
Recessão e perda de competitividade internacional anunciam o fim
do “sonho americano”.
Perot desistiu, mas os problemas ficaram.
O descrédito em relação aos partidos reflete dificuldades da economia, atingida pela
recessão geradora de desemprego e miséria.
Mas não só pela recessão. As empresas americanas perdem competitividade, se
comparadas com as japonesas e alemãs. O centro de Detroit, antiga capital da indústria
automobilística, símbolo do “american dream”, virou uma grande favela.
O “fenômeno Perot” – assim como os conflitos raciais de Los Angeles – expressa a
realidade da decadência americana, acelerada pelo fim da Guerra Fria e a conseqüente
emergência de novos mega-blocos econômicos (veja as páginas 4 e 5). Essa decadência
coloca em questão o futuro da democracia americana.
A democracia nos EUA busca, essencialmente, o equilíbrio entre opiniões divergentes.
O Estado americano, federativo, é baseado mais no princípio do diálogo do que no
do centralismo como meio de resolver conflitos.
Mas, quando setores inteiros da população se sentem excluídos do jogo político,
o que está em questão são os princípios na base da Constituição mais estável que a
democracia já construiu.

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