As grandes propriedades rurais da época medieval eram
divididas em três categorias de terras. A primeira - que englobava a maior
parte do solo cultivável - era o chamado manso senhorial, onde tudo o que se
produzia pertencia ao senhor feudal, o dono da fazenda. Os servos trabalhavam
em todas as terras, mas só podiam tirar seu sustento dos minúsculos lotes que
formavam a segunda categoria de terras, o manso servil. Por fim, os bosques,
florestas e pântanos eram coletivos - ou quase isso: os animais maiores só
podiam ser caçados pelos senhores. Apesar de costumarmos chamar esse tipo de
propriedade de feudo, os especialistas alertam que esse não é o termo mais
correto. "A palavra feudo, utilizada pela primeira vez no
século 9, designava qualquer bem dado em troca de alguma outra
coisa", diz a historiadora Yone de Carvalho, da PUC de São Paulo.
Portanto, na Idade Média, feudos eram todos os bens e tributos trocados entre
nobres - incluindo aí as propriedades, que eram mais conhecidas como senhorios.
Esse sistema de trocas regulava todas as relações entre os nobres medievais.
Por exemplo, um nobre ganhava o título de senhor quando dava um pedaço das suas
terras a outro nobre, chamado de vassalo. Esse vassalo, por sua vez, podia
cobrar uma espécie de aluguel sobre seu moinho, tornando-se senhor também. Em
resumo, o dono de um "feudo" - ou melhor, senhorio - obedecia a seu
senhor, mas também tinha seus vassalos. Para facilitar, o "feudo" que
retratamos ao lado é o mais simples possível, com apenas um dono e seus servos.
Fazendão medieval
Nobres viviam em castelo, enquanto os servos se espremiam
numa vila para até 60 famílias.
DEUS É FIEL
Embora a casa senhorial geralmente tivesse sua própria capela,
uma pequena igreja era construída nas imediações da vila. Uma parte das
plantações, conhecida como "acre de Deus", era doada à Igreja pelo
senhor feudal. Os servos dedicavam parte do seu tempo cultivando essas terras,
além de repassar um décimo dos seus ganhos à paróquia.
COZINHA EXTERNA
Geralmente, o forno era construído fora do castelo, para
evitar incêndios. Era uma instalação grande, de pedra e tijolos, onde enormes
espetos de ferro permitiam assar até mesmo um boi inteiro. Ao seu lado podiam
existir prensas para produzir vinho, azeite ou farinha. Os servos pagavam uma
taxa para usar essas instalações.
CARROSSEL AGRÍCOLA
As plantações seguiam um sistema de rotação. Os campos
aráveis eram divididos em três partes, mas, para não esgotar o solo, apenas
duas eram cultivadas ao mesmo tempo. Depois da colheita, outra parte repousava
e, assim, mantinha-se o cultivo ao longo do ano inteiro. Os servos passavam
mais de metade da semana trabalhando nas terras do senhor ou da Igreja. No
resto do tempo, eles cultivavam seus próprios lotes.
FLORESTA ENCANTADA
Além de fornecer madeira para lenha e construções, o bosque
era usado para caçadas. A princípio, essa era uma área comum, embora os animais
maiores só pudessem ser abatidos pelo senhor feudal. Aos servos restavam os
coelhos e esquilos. A colheita de frutas silvestres, castanhas e mel era livre,
mas muitos evitavam entrar nos bosques, temendo o ataque de bruxas e figuras
maléficas.
VIDA EM SOCIEDADE
Localizada perto das lavouras e de uma fonte de água (rio ou
lago), a vila reunia de 10 a 60 famílias. Os casebres tinham apenas um cômodo,
sem chaminé ou janelas. As paredes eram feitas de barro reforçado com palha e a
cobertura, de sapê. Nos arredores, pequenas hortas forneciam frutas e legumes.
A fauna contava com galinhas, além de gatos e cães sem dono.
LAR, RICO LAR
Na forma de um castelo ou simplesmente de um casarão de
pedra, a residência senhorial abrigava o senhor feudal, sua família, seus
empregados e encarregados da administração da propriedade. Em épocas de
conflito, também servia de quartel para suas tropas. Os senhores mais abonados
tinham várias casas espalhadas ao longo das suas terras alguns
chegavam a ter centenas delas.
REI DO GADO
Tão importantes quanto as terras aráveis eram as campinas,
onde pastavam os rebanhos de gado e ovelhas, além dos animais de carga e arado.
Essas áreas podiam ser de uso comum, mas os cavalos e rebanhos do senhor feudal
eram tratados pelos servos. Como não se produzia feno, muitos rebanhos eram
dizimados durante os inversos mais rigorosos.
EU BEBO SIM
Lagoas e riachos represados eram as fontes de água do
senhorio, mas o medo de contaminação levava muitos a beber um tipo de cerveja
da época. Parece justificativa de bêbado, mas não é. Primeiro, porque a cerveja
era ruim e tinha baixo teor alcoólico. Segundo, porque era mesmo mais seguro
que tomar a água medieval.
Revista Mundo Estranho Edição 32/ 2004
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