domingo, 28 de julho de 2013

Constelação de Sagitário aponta para o coração da Via Láctea

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

A constelação do Sagitário, situada no alto da abóbada celeste, nesta época, é um dos marcos mais importantes do céu. N sua direção, embora bem mais distante, encontra-se o centro da Via Láctea, caracterizado por uma incrível concentração de estrelas. Para se ter uma idéia, basta ver que, num raio de 40 trilhões de quilômetros em torno do Sol, há uma única estrela – o próprio Sol. No centro da Via Láctea, porém, um volume equivalente abriga nada menos que 1 milhão de estrelas. Ou seja, se a Terra estivesse nesse lugar, estaria cercada por 35 sóis e em sua superfície nunca seria noite. Não admira, portanto, a desconfiança dos cientistas de que nesse núcleo ocorram fenômenos extraordinários.
Acredita-se, especialmente, que ele seja dominado por um imenso buraco negro – um astro desproporcionalmente denso, que pode ser 1 milhão de vezes mais pesado que o Sol. Infelizmente, não é possível checar diretamente essa hipótese, pois a região central da Via Láctea está sempre encoberta por nuvens de gás e poeira interestelar. Mesmo a olho nu, pode-se ver que em torno do Sagitário há grandes massas de estrelas e extensas nuvens reluzentes. Em janeiro, a constelação aparece junto ao horizonte, bem acima do ponto em que o Sol se põe, e, por volta das 21 h, se localiza a meia altura no céu, na direção nordeste. Os mais bonitos objetos desse quadrante celeste são as nuvens de gás, como a Nebulosa da Lagoa, uma das cinco ou seis visíveis em Sagitário. Igualmente interessantes são os aglomerados globulares, que são grupos de milhares de estrelas, com Messier 22 (em alguns casos, as nebulosas e os aglomerados são facilmente visíveis sem instrumentos, mas é sempre melhor usar uma pequena luneta, para ver mais detalhes).
Sobre esse fundo reluzente destacam-se as estrelas da constelação, especialmente Kaus Australis, que está entre as trinta mais brilhantes do céu. Mas os objetos reunidos em grande profusão nas vizinhanças do Sagitário não estão todos próximos entre si. Kaus Australis, por exemplo, está a uma distância de 85 anos-luz (cada ano-luz mede cerca de 10 trilhões de quilômetros). Sua estrela mais distante, Arkab, encontra-se a 218 anos-luz. Mesmo a Nebulosa da Lagoa, situada a 5 000 anos-luz, está relativamente próxima. Já o núcleo da Via Láctea, embora nessa mesma direção, esconde-se a mais de 30 000 anos-luz. Composto por estrelas gigantes, até 100 vezes mais pesadas que o Sol, ele forma uma esfera de 1500 anos-luz de raio, cujo volume é 1 milhão de vezes menor que o da Via Láctea. Apesar disso, engloba 10 bilhões de estrelas, um décimo de todos os astros da galáxia.
O núcleo pode ser estudado porque, além de luz, emite também ondas de rádio, para as quais a matéria interestelar é mais ou menos transparente. As informações mais recentes indicam que exatamente em seu coração existe uma poderosa fonte de força gravitacional, quase certamente um buraco negro. Próximo do centro galático, a matéria torna-se cada vez mais densa e mais agitada. A região que os instrumentos conseguem discernir já é bem menor que Sistema Solar, que mede desprezíveis 3,5 horas-luz. Mesmo assim, ainda não foi possível localizar a fonte da força. Portanto, apesar de imensa, essa última deve ter origem em um corpo muito pequeno, em comparação com sua intensidade. A matéria atraída pelo hipotético buraco negro é formada principalmente por poeira e gases, mas já existe evidência de que as estrelas inteiras estão sendo esfaceladas e tragadas por ele. Particularmente sugestiva é a imagem da estrela supergigante IRS-7, localizada bem perto do vórtice. De seu corpo deformado, sai um espesso filete de matéria, arrastado por uma força descomunal. A partir de observações como essa, avalia-se que o objeto oculto tem uma massa até 5 milhões de vezes maior que a do Sol.

Revista Super Interessante n° 040

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