quinta-feira, 31 de março de 2011

ARÁBIA SAUDITA E TURQUIA SÃO PEÇAS-CHAVE NA POLÍTICA AMERICANA

Centro da civilização árabe e do Islã, o Oriente Médio é foco de conflitos amplificados pelo valor das reservas de petróleo do Golfo Pérsico.
A situação geográfica peculiar – uma espécie de elo entre Ocidente e Oriente  conferiu ao Oriente Médio, desde a Antiguidade, grande valor estratégico. A descoberta, no final do século XX, de imensas jazidas de petróleo e gás natural no Golfo Pérsico, acentuou ainda mais a sua importância geopolítica. As crises no Oriente Médio têm, inevitavelmente, repercussões de caráter global.
A região abrange os 14 Estados situados entre os mares Vermelho, Mediterrâneo, Negro, Cáspio, Arábico e o Golfo Pérsico. O predomínio da religião islâmica e da cultura árabe caracteriza,  cultural e historicamente o Oriente Médio. Os árabes constituem a imensa maioria das populações da Síria, Iraque, Jordânia e dos países localizados na Península Arábica. Também predominam nos territórios palestinos ocupados por Israel. Aparecem, como minorias étnicas, na porção ocidental do Irã (província do Huzistão) e em Israel. Apesar de serem maioria em 11 países da macrorregião, a população árabe corresponde a pouco menos de metade do efetivo total.
Entre os povos não-árabes, os mais numerosos são o turco, o persa, o judeu e o curdo. Os três primeiros estão presentes de forma quase exclusiva na Turquia, Irã e Israel, respectivamente. Já os curdos – uma comunidade formada por cerca de 25 milhões de indivíduos – se espalham por territórios de cinco países: Turquia (onde vive cerca de metade dos integrantes desse grupo), Iraque, Irã, Síria e Armênia. Os curdos formam o maior grupo étnico do mundo que não possui território nacional.
A religião islâmica é o principal traço cultural do Oriente Médio. Na Turquia, no Irã e em quase todos os países árabes, mais de 90% da população segue a religião fundada por Maomé no século VII. As exceções são o Líbano e a Síria, mas mesmo nesses países os adeptos do islamismo constituem bem mais da metade da população. O único país em que os muçulmanos são minoria é Israel, onde não chegam a um quinto da população.
O Islã está dividido em diversas vertentes. A principal fronteira é a que separa os muçulmanos de rito sunita dos que seguem o rito xiita. Os sunitas correspondem a, aproximadamente, 80% dos muçulmanos. Os xiitas correspondem a cerca  de 15% dos muçulmanos e são majoritários apenas no Irã (quase 90% da população), Iraque (55%), Iêmen e Líbano. Desde a revolução islâmica de 1979, o Irã tornou-se um Estado governado pelo alto clero xiita.
As relações entre o poder político e a religião são bastante variadas no mundo islâmico. A Arábia Saudita e o Irã constituem exemplos, muito diferentes entre si, de Estados regidos por leis islâmicas. Por outro lado, Iraque, Síria, Líbano e Turquia são Estados que separam nitidamente as esferas da política e da religião.
Entre os cinco países que fazem fronteira com o Iraque, Arábia Saudita e Turquia desempenham papéis cruciais nas estratégias dos Estados Unidos para o Oriente Médio. A Arábia Saudita se destaca por possuir as maiores reservas conhecidas e ser o maior exportador de petróleo do mundo. O Estado saudita também abriga os dois lugares mais santos do Islã – as cidades de Meca e Medina.
Desde as primeiras décadas do século XX, a monarquia saudita acalenta os objetivos geopolíticos de obter acesso ao Oceano Índico (às custas de Omã e do Iêmen), controlar os pequenos emirados do Golfo Pérsico (que os sauditas classificam, corretamente, como criações artificiais do colonialismo britânico) e conter os ímpetos expansionistas de dois vizinhos poderosos: o Irã e o Iraque.
Durante a segunda metade do século XX, a monarquia saudita se apoiou nos Estados Unidos. Essa aliança contribuiu para manter a estabilidade regional e, indiretamente, para preservar o próprio regime monárquico. Todavia, as relações entre o Estado saudita e os Estados Unidos foram estremecidas pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Os atentados e a “guerra ao terror” deflagrada por Bush evidenciaram os limites do jogo duplo da monarquia, que acoberta o financiamento privado de organizações islâmica anti-ocidentais .
A Turquia contemporânea é fruto da desagregação do Império Turco- Otomano, no final da Primeira Guerra Mundial (1914-18). O Estado turco é um  nexo geográfico entre a Europa e o Oriente Médio. Os tratados internacionais da década de 20 atribuíram à Turquia o controle sobre os estreitos de Bósforo e Dardanelos, que conectam os mares Mediterrâneo e Negro.
Do ponto de vista dos Estados Unidos, a Turquia  único Estado de maioria muçulmana que pertence à OTAN – é aliado de importância fundamental para a estabilidade do Mediterrâneo oriental e do Oriente Médio. Não é casual que Washington exerça pressão crescente sobre a União Européia pela admissão da Turquia no bloco europeu.
O Estado turco teme, mais que qualquer outra coisa, o movimento nacional curdo. Os curdos formam cerca de um quinto da população do país e a bandeira de um Curdistão independente representa uma ameaça para a integridade territorial da Turquia. O governo turco colocou uma condição básica para o uso das bases da OTAN situadas em seu território na campanha contra o Iraque: a garantia da manutenção da unidade iraquiana. Ou, em outras palavras, a contenção do separatismo dos curdos que habitam o norte do Iraque.
Boletim Mundo Ano 11 n° 1

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