sexta-feira, 25 de março de 2011

Avião: vôo para o futuro

por Douglas Prieto Portari
Nos anos seguintes ao do histórico vôo de Santos  Dumont – que balizou a trilha e apontou o futuro, outros pioneiros deram continuidade à conquista do céu. Distâncias, mares e oceanos foram, pouco a pouco, sendo vencidos em travessias históricas. O avião deixaria de ser um experimento para se tornar uma ferramenta. Com a Primeira Guerra Mundial, a utilização militar da invenção foi requisitada – para total desgosto do inventor brasileiro.
Paradoxalmente, o uso para destruição contribuiu para o avanço da aviação. Durante a Segunda Guerra Mundial, o maquinário foi suplantado diversas vezes por versões melhoradas. Aviões que voassem mais tempo e mais rápido  podiam ser a diferença entre viver e morrer. A escalada tecnológica resultaria na quebra da barreira do som, em 1947. O giro das hélices teve seus dias contados, o novo tempo pertencia às turbinas. Hoje, aviões a jato e vôos transcontinentais são corriqueiros e novas trilhas surgem. Para o avião do futuro, o céu não é mais o limite.
Os primeiros aventureiros
Os anos 1910 começavam e a nova década trazia com ela uma certeza recém-adquirida: um objeto mais pesado que o ar podia  voar. Santos  Dumont e outros precursores haviam ultrapassado uma velha fronteira – uma barreira, na verdade. A gravidade que nos segura ao chão podia ser vencida. No mundo todo, isso despertou o interesse das pessoas pela novíssima aviação. A França era uma espécie de pólo irradiador dessa febre. E o que parecia ainda um dispendioso hobby ganhava mais e mais adeptos. Idéias e projetos bem-sucedidos, assim como as próprias máquinas e seus pilotos, circulavam e ganhavam adaptações ao redor do globo. Essas contribuições impulsionaram a tecnologia aeronáutica. Homens como o francês Louis Blériot (1872-1936) começaram a produzir aeronaves sob encomenda. O avião alargava seus horizontes. Não se falava mais em metros, mas em vôos de um país a outro.
O primeiro grande conflito mundial estourou em 1914 e ofuscou o uso civil do avião, mas colaborou para seu desenvolvimento. Apenas ao fim da Primeira Guerra Mundial, ele seria usado novamente para fins pacíficos. Em 1919, os pilotos britânicos John Alcock (1892-1919) e Arthur Brown (1886-1948) realizaram a primeira travessia transatlântica aérea. Do Canadá à Irlanda em um vôo de 3 mil quilômetros, em pouco mais de 16 horas. As distâncias iam diminuindo, assim como o que antes era considerado impossível.
Os autores desses feitos notáveis eram homens – e mulheres – que exigiam mais que o limite de suas máquinas e também de si próprios. Muitas vezes, ao custo de suas vidas. Voar era algo tão perigoso quanto novo. Não foram poucos os que morreram ou que sobreviveram a pavorosos acidentes. Em comum, essas pessoas possuíam um caráter desbravador, o interesse pela pesquisa e a paixão pela aventura. Eram todos jovens e fascinados com o que o novo século lhes prometia.
O vôo do Jahú
Apaixonado por aviões, o paulista João Ribeiro de Barros abandonou os estudos de Direito em 1919 para fazer Engenharia Mecânica nos Estados Unidos. Anos depois, decidiu cruzar o Oceano Atlântico, da Europa para o Brasil, sem escalas e sem navios de escolta. Barros tinha 26 anos quando comprou um hidroavião italiano usado e fez várias adaptações. Nascia o Jahú, nome dado em homenagem a sua cidade natal. Em outubro de 1926, Barros e sua equipe decolaram de Gênova, na Itália. Mas uma série de problemas técnicos forçou vários pousos. Em Cabo Verde, última parada, Barros ainda contraiu malária. O avião ficou pronto somente em abril de 1927. Depois de 12 horas e 3,2 mil quilômetros, o piloto chegou a Fernando de Noronha, cumprindo o feito inédito.
O céu é um palco
A francesa Elise Raymonde Deroche, conhecida como “Baronesa”, tornou-se, em 1910, aos 24 anos, a primeira mulher a obter um brevê na história da aviação. Em 1909, ela procurou o construtor Charles Voisin, que gostou da atitude da garota e aceitou ser seu instrutor. Naquele mesmo ano, ela voaria pela primeira vez. Depois de brevetada, passou a fazer apresentações por toda a Europa. Durante a Primeira Guerra Mundial, Elise foi trabalhar como motorista do Exército francês. Após a guerra, ela voltou a voar e bateu recordes femininos de distância e altitude. Depois de sofrer inúmeros acidentes, Elise morreu em 1919 na queda de um modelo em testes. Ironia: ela não estava pilotando, era observadora.
Magnata dos ares
Herdeiro de uma fortuna do petróleo, o norte-americano Howard Hughes pôde se dedicar desde cedo a interesses diversos. O gosto pela aviação ele descobriu quando produzia um filme em Hollywood sobre a Primeira Guerra. Tirou seu brevê aos 25 anos, em 1930, e dois anos depois, criou a Hughes Aircraft Company. A partir daí, sua vida seguiu atrelada ao desenvolvimento de aeronaves e à quebra de recordes, já que ele mesmo testava suas máquinas. Em 1935, cravou a marca história de 530 quilômetros por hora com seu modelo H-1. Dois anos depois, comprou a empresa aérea Transcontinental & Western Air (TWA).
Em 1938, quebrou o recorde do compatriota Charles Lindbergh na travessia Nova York-Paris com menos da metade do tempo feito em 1927, de 33 horas e meia. Logo depois, nova marca para a volta ao mundo: três dias, 19 horas e oito minutos. O magnata também fez fama por seus projetos fracassados, como o hidroavião H-4, o Hércules, um gigante de 136 toneladas que fez um único vôo, em 1947. Hughes morreu em 1976 de uma doença crônica nos rins.
TECNOLOGIA
1911 - Plauchut inaugura a aviação no Brasil com vôo de 80 metros no Rio
1914 - Jannus realiza primeiro vôo regular da história (EUA)
1927 - Lindbergh realiza a primeira travessia aérea sobre o Atlântico
1931 - Post e Gatty dão a volta ao mundo num monoplano em oito dias e meio
1936 - Realizada a primeira transmissão televisiva na Inglaterra
1938 - Hughes dá a volta ao mundo num bimotor em três dias e 19 horas
1947 - Yeager (EUA) ultrapassa a velocidade do som com o Bell X-1
1949 - North American X-15 é o primeiro avião a chegar à termosfera
1951 - Lançado nos EUA o 1º computador comercial
1951 - Inventada a pílula anticoncepcional
1952 - A companhia inglesa Boac realiza vôos comerciais em larga escala
1961 - O russo Yuri Gagarin é o primeiro homem a viajar pelo espaço
1966 - Criado o Boeing 747
1969 - Neil Armstrong (EUA) chega à Lua com o Apollo 11
1972 - Lançado o primeiro videogame nos EUA
1976 – Inaugurada  primeira linha regular do Concorde
1979 - Ericsson lança o primeiro telefone celular (Suécia)
1981 - Cientistas isolam o vírus da aids
1983 - Início da operação plena da internet
1994 - Lançado o Boeing 777, o primeiro totalmente planejado por computador
1999 - Cientistas escoceses clonam uma ovelha
2003 - Encerrada a carreira do Concorde
MUNDO
1914 - Começa a Primeira Guerra Mundial
1917 - Começa a Revolução Russa
1918 - Assinado o Tratado de Versalhes
1929 - Bolsa de Nova York quebra
1933 - EUA dão início ao New Deal
1939 - Hitler invade a Polônia; começa a Segunda Guerra
1945 - EUA lançam bombas atômicas no Japão e a guerra acaba
1946 - Perón é eleito presidente na Argentina
1947 - EUA lançam o Plano Marshall
1948 - Criado o Estado de Israel
1949 - Assinado o Tratado do Atlântico Norte (Otan)
1963 - Kennedy é assassinado nos EUA
1968 - Protestos estudantis ocorrem em diversos países
1989 - Queda do Muro de Berlim
2001 - Ataques com aviões a Nova York e Washington em 11 de setembro
BRASIL
1927 - Fundada a Varig
1930 - Início da Era Vargas
1945 - Vargas renuncia à presidência
1959 - Fabricado o primeiro Fusca brasileiro
1960 - Kubitschek inaugura Brasília
1964 - João Goulart é deposto pelos militares
1984 - Realizada a campanha Diretas-Já
1988 - Promulgada a nova Constituição
1994 - Entra em vigor o Plano Real
Aventuras na História Edição 006 Fevereiro de 2004

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