E m março, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, com o apoio de 14 de seus 15 membros (a Síria voltou contra), uma resolução que, pela primeira vez em mais de 50 anos, propõe a criação de um Estado Palestino. Para surpresa da comunidade internacional, a iniciativa da resolução partiu dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel.
Como entender a nova posição de Washington?
Há, de um lado, a escalada de violência, desde a eclosão da “segunda intifada”, desde setembro de 2000.
A revolta palestina e a repressão israelense já produziram 1,5 mil vítimas fatais entre as quais quase 1,2 mil mortos palestinos. A intifada original, na segunda metade da década de 80, deixou um saldo de mortos bem menor cerca de 450.
Há, de outro lado, a transição de Washington rumo à segunda etapa da “guerra ao terror”. Recentemente, George W. Bush caracterizou o novo inimigo como sendo o “eixo do mal”, que tem por núcleo o Iraque de Saddam Hussein. Na moldura dos preparativos para uma ofensiva contra o Iraque, o apoio americano à criação de um Estado Palestino seria uma forma de construir pontes com os Estados árabes e a opinião pública muçulmana.
Todavia, é insuficiente propor apenas a criação de um Estado Palestino. Uma década depois da assinatura dos Acordos de Oslo (1993), é indispensável identificar exatamente os limites entre Israel e a futura Palestina.
Yasser Arafat, presidente da Autoridade Palestina, sonha com um Estado na totalidade da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, com capital em Jerusalém Oriental. No extremo oposto, o governo israelense de Ariel Sharon imagina, quando muito, um Estado Palestino composto por fragmentos territoriais, rodeados por faixas sob controle militar de Israel.
A Palestina histórica, com cerca de 27 mil km2 (um pouco maior que Sergipe), abrange Israel e os territórios ocupados pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967. A Cisjordânia (5.879 km2) e a Faixa de Gaza (378 km2) representam, juntas, apenas 22% da superfície da Palestina.
Do ponto de vista demográfico, a Cisjordânia abriga cerca de 1,4 milhão de palestinos e 350 mil colonos israelenses. Na Faixa de Gaza, há aproximadamente 1 milhão de palestinos e 6 mil colonos israelenses. Os assentamentos de colonos surgiram depois de 1967 e são fruto de incentivos oficiais de Israel ou do fanatismo nacional-religioso de algumas organizações judaicas.
A idéia da partilha da Palestina em dois Estados surgiu em meados da década de 30, sob o regime do mandato britânico, tornando-se mais tarde posição oficial da ONU.
Após a Guerra dos Seis Dias, Israel passou a elaborar planos para uma partilha desigual .No processo de paz desencadeado com os Acordos de Oslo, a idéia da partilha gerou novas propostas .
Uma “Palestina em fragmentos” foi sendo projetada por essa cartografia do ocupante. Contudo, a visão de Sharon parece mais radical. O primeiro-ministro israelense enxerga o Estado Palestino como uma coleção de micro-Estados, isolados uns dos outros. É a receita para a guerra.
Boletim Mundo Ano 10 n° 2
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