A indústria siderúrgica simbolizou o progresso e a força das nações. O aço estruturou o nacionalismo econômico brasileiro e o projeto de integração européia.
É pássaro? É um avião? É um foguete? Não, é o Super-Homem o homem- de- aço. No imaginário das sociedades, o aço sempre esteve associado à força e à resistência. Na mitologia greco-romana há deuses que se identificavam de alguma forma com o aço. É o caso de Hefestos (o Vulcano dos romanos), uma das doze divindades do Olimpo, mestre das artes da forja e do trabalho com os metais, considerado o “ferreiro dos deuses”, o grande fabricante de armas como as flechas de Apolo e o escudo de Aquiles.
Na mitologia escandinava, essa característica do aço, ligada à força, também se tornou lendária, como atesta o machado/ martelo de Thor, filho do deus Odin.
Na mitologia celta, excalibur, era de aço a espada mágica do rei Arthur, aquele dos Cavaleiros da Távola Redonda.
O aço é, na economia contemporânea, o mais utilizado dos metais. Aparece, por exemplo, nas estruturas dos edifícios e viadutos, nos automóveis e trens, nas naves espaciais, assim como em utensílios de uso corriqueiro. A conexão entre o aço e a guerra não está restrita à esfera da mitologia.
O aço é intensamente empregado na indústria bélica e, por isso, a implantação e o desenvolvimento da siderurgia moderna foram empreendimentos incentivados diretamente pelo Estado em países como a Alemanha e o Japão, no século XIX.
A produção de ferro e de aço isto é, a metalurgia e a siderurgia são o ramos mais importantes da indústria de base. A siderurgia supre as necessidades de um grande número de indústrias de bens de produção e de bens de consumo.
O ferro gusa é o minério de ferro que sofreu tratamento industrial. O aço consiste, essencialmente, na adição de uma pequena quantidade de carbono ao ferro gusa. Mas as propriedades especiais de dureza, durabilidade e resistência à corrosão dos melhores aços dependem da adição de outras substâncias.
Ao que tudo indica, o aço foi obtido pela primeira vez na Antiguidade, quando o carbono, proveniente do carvão das fogueiras, se misturou acidentalmente ao ferro que estava sendo fundido. Durante a Idade Média, a fabricação do aço permaneceu uma arte difícil e inconstante, realizada através de variadas técnicas locais.
A produção industrial de aço começou apenas no século XIX. O processo de coqueificação do carvão mineral e os sistemas de altos-fornos surgiram em meados do século XIX e assinalaram, junto com as ferrovias, o segundo ciclo de inovações tecnológicas da Revolução Industrial. Nessa época, a siderurgia conheceu forte expansão e o carvão mineral transformou-se em combustível e matéria-prima fundamental para a economia industrial. As siderúrgicas passaram a se instalar junto às bacias carboníferas, gerando concentrações industriais e urbanas que, bastante modificadas, ainda marcam o espaço geográfico na Europa e América do Norte.
Primeiramente na Grã-Bretanha, a siderurgia estabeleceu-se sobre as reservas de carvão situadas na Inglaterra central, no País de Gales e na Escócia. Na Alemanha, o Vale do Rhur tornou-se a mais importante concentração siderúrgica da Europa.
Nos Estados Unidos, na porção sul dos Grandes Lagos, surgiu a maior concentração siderúrgica do mundo, associada à bacia carbonífera dos Apalaches.
O transporte interligado do carvão mineral e do ferro permitiu o desenvolvimento das indústrias siderúrgicas francesas da região ferrífera da Lorena. O carvão do Rhur e as reservasda Bélgica passaram a abastecer a indústrias francesas através do sistema fluvial da bacia do Reno. Essa integração industrial franco-alemã transformou as ricas regiões da fronteira em foco de disputas geopolíticas e militares que se estenderam da segunda metade da Guerra Franco Prussiana (1870-71) à Segunda Guerra Mundial (1939-45). Em 1952, o tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço (Ceca) transformou a rivalidade em cooperação e representou o passo inicial daquilo que mais tarde veio a ser a União Européia.
No pós-guerra, as necessidades da reconstrução econômica e a modernização geral das estruturas de produção e dos sistemas de transportes ampliaram aceleradamente a demanda mundial de ferro e aço. A corrida armamentista engendrada pela Guerra Fria e o crescimento industrial de países como o Brasil, o México, a Argentina e a Coréia do Sul também contribuíram para a expansão frenética da produção siderúrgica global.
Nessa nova fase, as localizações tradicionais, junto às jazidas carboníferas, perderam terreno. As técnicas modernas de produção siderúrgica geraram grande economia de minério de ferro e carvão.
Aperfeiçoaram-se também os processos de aglomeração e pelotização de minério de ferro junto às minas, suprindo as usinas com matérias-primas enriquecidas e menos pesadas. A evolução dos transportes, com a redução dos custos de deslocamento, fechou o círculo.
O caso do Japão, um dos maiores produtores mundiais de aço, ilustra as mudanças. O país não dispõe de carvão ou minério de ferro. No pós-guerra, a siderurgia japonesa desenvolveu-se com base nas localizações portuárias e na capacidade de transporte de navios graneleiros enormes, que trazem matérias-primas de portos espalhados no mundo todo. A localização marítima da indústria siderúrgica tornou-se, então, uma tendência global.
No Brasil, a grande siderurgia nasceu pelas mãos de Getúlio Vargas, embalada no berço do nacionalismo, durante a Segunda Guerra Mundial. A localização da CSN em Volta Redonda decorreu de uma decisão política, justificada tecnicamente pela situação em relação aos fatores matéria-prima e mercados consumidores.
A concentração siderúrgica do Vale do Aço, em Minas Gerais, refletiu a importância da proximidade das jazidas de ferro mas, também, a organização e a pressão exercida pela elite política estadual.
A Cosipa, em Cubatão, e a CST, em Vitória-Tubarão, são exemplos de localizações marítimas.
A siderurgia está, atualmente, disseminada por todos os continentes.
Mas os dez maiores produtores mundiais de aço bruto concentram cerca de dois terços da produção mundial. Três países apenas – China, Japão e Estados Unidos – produzem aproximadamente 40% do aço mundial .
O Brasil é o oitavo maior produtor, com participação de 3,3% no total mundial e cerca de metade da produção latino-americana. Mas, entre os grandes produtores, estão países que são, também, grandes importadores como os Estados Unidos e a Alemanha. Por isso, considerando o saldo entre exportações e importações, o Brasil figura entre os cinco maiores exportadores siderúrgicos do mundo. Essa posição só não é melhor ainda devido às barreiras protecionistas dos países desenvolvidos .
Boletim Mundo Ano 10 n° 3
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