As linhas gerais da divisão colonial da África entre as potências européias foram definidas na Conferência de Berlim (1884- 85). A conferência internacional, convocada pelo chanceler alemão Bismarck, concentrou as suas discussões nos problemas da navegação e do comércio nos rios Congo e Níger e nas formas de apropriação colonial de territórios africanos. Participaram da reunião representantes de 15 países europeus, além dos Estados Unidos.
A Conferência de Berlim não dividiu o continente em colônias, mas fixou princípios para evitar conflitos entre as potências européias que se lançavam à partilha da África. Na década seguinte, as potências apressaram-se em estabelecer bases coloniais e traçar fronteiras, a fim de garantir a soberania sobre os territórios que começavam a ocupar.
A Grã-Bretanha e a França tornaram-se as potências coloniais dominantes. Os britânicos estabeleceram a sua soberania por uma faixa praticamente contínua, desde o Egito até a União Sul-Africana (atual África do Sul), ao longo da África oriental. O sonho imperial de Cecil Rhodes – o magnata dos diamantes e do ouro na África austral, que batizou as duas Rodésias (hoje Zimbábue e Zâmbia) consistia em integrar a faixa de colônias britânicas através de uma ferrovia entre a Cidade do Cabo e o Cairo.
Os franceses concentraram as suas colônias no Magreb e na África ocidental e equatorial. Alemanha, Portugal, Espanha e Itália ocuparam territórios marginais. No centro do continente, destacava-se o Congo, que foi colônia privada do rei Leopoldo, da Bélgica, antes de passar à soberania daquele pequeno Estado europeu.
As potências européias produziram, na prática, a cartografia política da África, traçando fronteiras sobre espaços étnicos e culturais que pouco conheciam. O traçado das fronteiras apoiou-se em linhas geométricas ou acidentes naturais. A primeira dessas categorias consistiu em limites baseados em meridianos e paralelos ou projeções retilíneas da desembocadura dos rios. A segunda baseou-se, geralmente, nos divisores de águas, pois as potências européias procuravam controlar inteiramente os vales dos rios, que serviam como eixos de penetração colonial.
Durante o período colonial, as metrópoles produziram divisões administrativas no interior dos seus territórios. Tais divisões tinham, quase sempre, funções práticas ligadas à distribuição das forças militares coloniais ou ao controle das cidades e enclaves de mineração. Desse modo, os europeus inventaram territórios que não tinham raízes nas experiências históricas africanas. Os Estados africanos independentes, que surgiram no pós-guerra, herdaram as linhas de limites traçadas pelas potências européias.
No início da Segunda Guerra Mundial (1939-45), a África exibia apenas quatro Estados independentes – Egito, África do Sul, Etiópia e Libéria. A libertação da maioria das colônias ocorreu na década de 60. Em alguns casos, a independência foi conquistada a partir de guerras e movimentos armados de libertação, que acabaram provocando a retirada ordenada das potências européias. A França concedeu a independência para quase todas as suas colônias na África Subsaariana em 1960, conservando laços de cooperação econômica, militar e cultural. Várias antigas colônias britânicas também alcançaram a independência por meio de negociações.
Entre os últimos países a alcançarem a independência contam-se as colônias portuguesas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Nesses países, principalmente em Angola e Moçambique, travaram-se longas guerras de libertação e o colonialismo só terminou em 1975.
O alicerce dos novos Estados africanos foi constituído, quase sempre, pelo aparelho administrativo criado pela colonização européia. No momento das independências, o poder político e militar transferiu-se das antigas metrópoles para as elites nativas urbanas, que instalaram regimes autoritários. Muitas vezes, essas elites representavam apenas um dos grupos étnicos do país, marginalizando por completo as etnias rivais.
Entre os dirigentes dos novos Estados africanos, destacaram-se figuras políticas respeitadas e cultas, como Jomo Kenyatta, do Quênia, Julius Nyerere, da Tanzânia, Kenneth Kaunda, da Zâmbia e Léopold Senghor, do Senegal. Contudo, mesmo nesses casos, as estruturas de poder não surgiram de processos democráticos e revelaram-se incapazes de superar as rivalidades étnicas e clânicas. Como resultado, de modo geral a vida política foi sobressaltada por sucessivos golpes de Estado e envenenada pela corrupção. Nyerere, Kenyatta, Kaunda e Senghor tornaram-se ditadores, governando seus países por duas décadas ou até mais.
Os Estados africanos, fracos e desunidos, tornaram-se vítimas de uma persistente dependência das antigas metrópoles européias ou das grandes potências da Guerra Fria. O domínio externo indireto dos Estados da África foi definido como neo-colonialismo por Kwame Nkrumah, chefe do governo de Gana entre 1957 e 1966: “A essência do neo-colonialismo é que um Estado que é teoricamente independente e dotado de todos os atributos da soberania tem, na realidade, sua política dirigida do exterior”.
Nkrumah notabilizou-se como defensor do pan-africanismo – ou seja, do projeto de unidade política das nações africanas. O seu argumento consistia em assinalar que a verdadeira independência exigia o desenvolvimento econômico, o qual só seria viável através da união de toda a África Subsaariana. Na concepção geopolítica do líder da pequena Gana, os modelos políticos de sucesso eram Estados de vastas dimensões territoriais, como os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Ele apontava, como exemplo a ser seguido, o projeto de integração européia, que se encontrava no seu estágio inicial.
O pan-africanismo fracassou. Estilhaçou-se contra a parede dos Estados existentes, que pouco significavam no plano mundial, mas asseguravam a hegemonia das elites étnicas regionais. Atualmente, a África está fragmentada em mais de meia centena de Estados, muitos deles atravessados por conflitos étnicos crônicos que, por vezes, eclodem em explosões de violência desenfreada.
Boletim Mundo Ano 10 n° 5
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