por Manuela Aquino
As duas enormes estátuas de Buda do Afeganistão, cuja destruição pelo regime talibã comoveu o mundo em março de 2001, podem ter um irmão intacto. Arqueólogos franceses afirmam estar perto de encontrar o terceiro Buda perdido no Vale do Bamiyan, no centro do país. Depois de cinco semanas de escavações, uma equipe coordenada pelo franco-afegão Zemaryali Tarzi, da Universidade March Bloch de Estrasburgo, confirmou a existência de um mosteiro aos pés de um grande penhasco, localizado ao lado das ruínas do menor dos dois budas. “O mosteiro e o Buda perdido são mencionados no diário de viagem do explorador Xuang Zang, no século 7”, afirma Tarzi, que estuda a região há mais de 25 anos. “O texto chinês menciona a existência de um mosteiro em que se encontrava uma imagem que ficou conhecida como “Buda inclinado”, que tinha mais de 300 metros”, diz.
A estátua ainda não foi encontrada, mas as escavações comprovam a existência do mosteiro e de uma cidade no local, como descreveu Xuang Zang. Já foram desenterrados os restos de estruturas arquitetônicas da época. Além disso, foram recuperadas sete cabeças feitas de argila dos séculos 4 e 7 a.C., que representam divindades budistas. “As escavações continuam e a procura agora é por algum vestígio da próprio Buda inclinado”, diz Zemaryali Tarzi
“O Afeganistão tem uma riqueza arqueológica única, pois une a herança cultural grega com a da Ásia Central”, afirma Chrstian Manhart, representante da Unesco, enviado à região para promover a reconstrução do patrimônio cultural afegão. “E as grandes estátuas de Buda eram prova dessa interação.” Construídas no século 2 (a menor, com 38 metros de altura) e no século 6 (a de 55 metros), tinham túnicas gregas na cabeça. Segundo ele, o país assimilou influências helenísticas, herança da invasão de Alexandre, o Grande, no século 4 a.C., e orientais, pois foi, durante séculos, passagem obrigatória dos peregrinos budistas que iam da Índia para a China.
Financiadas pelo governo francês e pela Delegação Arqueológica Francesa no Afeganistão, a pesquisa é um marco na história da região e está sendo saudada por toda a comunidade científica internacional. É que, com a guerra em 2002, as expedições estrangeiras foram expulsas ou fugiram do país, então sob controle do regime talibã.
Os achados do Vale do Bamiyan são apenas uma parte da recuperação arqueológica que o Afeganistão está vivendo. O Museu Nacional de Kabul, por exemplo, recebeu 500 mil dólares para ser reformado. Saqueado e bombardeado na década de 90, pouco sobrou entre os mais de 100 mil objetos de arte de seu acervo. Cerca de 500 peças foram recuperadas nos últimos meses. É um começo.
Aventuras na História Edição 006 Fevereiro de 2004
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