Nelson Bacic Olic
O Brasil conta com importantes excedentes hídricos, que, no entanto, distribuem-se mal pelo território do país.
Será que a escassez de água, apontada como um dos principais problemas ambientais do mundo, no século XXI, afeta ou pode afetar o Brasil? De um ponto de vista genérico, a resposta é não. Em outras escalas de análise, a resposta pode ser positiva.
Localizado em sua maior parte na Zona Intertropical, com domínio de climas quentes e úmidos, cerca de 90% do território brasileiro recebe chuvas que variam entre 1 000mm e 3000mm anuais.
A única grande área que foge a este padrão é o Sertão nordestino, que ocupa cerca de 10% do território nacional.
Devido às características climáticas e às condições geológicas dominantes, o Brasil abriga uma das mais vastas e densas redes de drenagem fluvial do mundo e conta com importantes excedentes hídricos. A produção hídrica nacional equivale a pouco mais de metade do total da América do Sul e a cerca de 12% do total mundial.
Quatro grandes bacias hidrográficas Amazônica, Tocantins-Araguaia, São Francisco e Paraná são responsáveis por 85% de nossa produção hídrica. Mas, se é verdade que o Brasil possui abundância de águas superficiais, é também verdade que esses recursos não estão distribuídos eqüitativamente pelo território.
Apenas na área das bacias Amazônica e do Tocantins-Araguaia, a produção hídrica corresponde a 73% do total do país. Nessas regiões, as densidades demográficas são muito baixas, variando entre 3 e 5 hab/km2. No outro extremo, na bacia do Paraná (6,5% da produção hídrica total), as densidades dominantes estão entre 25 e 100 hab/km2.
Justamente aí situam-se a maior metrópole e algumas das áreas mais dinâmicas da economia do Brasil.
Aí estão também os mananciais mais exigidos e poluídos do país.
Organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial adotam índices para classificar a disponibilidade hídrica e seu impacto social. Segundo a ONU, as áreas críticas do mundo são aquelas cuja disponibilidade não chega a 1 000m3 anuais por habitante. O Banco Mundial, provavelmente sob a influência dos altos níveis de consumo de água verificados nos Estados Unidos, utiliza critérios mais exigentes. Ele caracteriza situações de “estresse hídrico” quando a disponibilidade de água para consumo é inferior a 2 000 m3 anuais por habitante.
Nenhum estado brasileiro apresenta índices inferiores a 1 000 m3 anuais por habitante. Porém, segundo os critérios do Banco Mundial, a situação de estresse hídrico atinge os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal .
A aparente abundância de água no Brasil tem sustentado uma cultura de desperdícios, enquanto legitima a carência de investimentos públicos em programas de uso e proteção dos mananciais. O pano de fundo dessa situação é formado pelo caótico processo de expansão da urbanização e pela ausência de planejamento ambiental na valorização econômica de vastas áreas do país.
Na atualidade, os problemas de abastecimento ainda estão restritos a poucas áreas e decorrem da irregularidade das precipitações (caso do Sertão nordestino) ou da combinação entre o crescimento exagerado do consumo e a degradação ambiental dos mananciais (caso das metrópoles).
Boletim Mundo Ano 8 n° 2
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