Na América Latina e na Ásia, eles tornaram-se exceções. Na África Subsaariana, são a regra – os países cujas economias dependem das exportações primárias.
Nesses países, o setor exportador concentra-se num grupo pequeno de gêneros tropicais (cacau, café, banana, amendoim) ou minérios (cobre, cobalto, bauxita, urânio, ouro, diamantes). Alguns deles dependem basicamente das exportações de petróleo.
A origem das suas estruturas econômicas encontra-se na divisão internacional do trabalho configurada no século XIX, que se destinava a atender às necessidades de matérias-primas e gêneros tropicais dos mercados consumidores dos países industriais.
A condição de fornecedores de produtos primários retira desses países o controle sobre o seu destino, na medida em que os preços dos seus produtos de exportação subordinam-se à demanda nos países desenvolvidos.
As oscilações bruscas nos preços internacionais das suas exportações degeneram em saldos negativos na balança comercial, que aprofundam o endividamento externo e ampliam a pobreza.
Na geografia econômica africana, os fornecedores de gêneros tropicais concentram-se, principalmente, no Golfo da Guiné e na África Ocidental .
Mais de 40% da produção mundial de cacau localiza-se na Costa do Marfim e em Gana. O Senegal especializou-se no amendoim; Gâmbia e Benin, no óleo de palma; Togo, no algodão; Guiné-Bissau, na castanha de caju.
A África Austral distingue-se pela importância das exportações minerais. A África do Sul, única economia industrial da África Subsaariana, é o maior produtor mundial de cromo, ouro e platina. O Zimbábue destaca-se na produção de cromo e platina; Zâmbia, na de cobalto e cobre, Botsuana, na de diamantes industriais; Namíbia, na de urânio. Já na África Equatorial, a República Democrática do Congo é fornecedora de diamantes industriais e cobre. A Guiné, na África Ocidental, é o 2º produtor mundial de bauxita. O Níger, no Sahel, é o 3o maior produtor de urânio.
O petróleo sustenta diversas economias exportadoras africanas. A Nigéria, no Golfo da Guiné, é o maior produtor do continente. Ao sul desse país, na África Equatorial, diversos países especializaram-se no fornecimento de petróleo, que também é o fundamento do setor exportador de Angola, na África Austral.
As exportações representam quase a metade do PIB de Angola e do Gabão, mais de um terço da riqueza nacional na Libéria e Guiné Equatorial, um quarto em Botsuana e quase um quinto na Costa do Marfim e na Namíbia. Na Nigéria, com seus 125 milhões de habitantes, um sexto do PIB depende das exportações, o que é um indicador da pobreza da população e dos limites impostos por essa situação ao desenvolvimento do mercado interno.
Na África Subsaariana como um todo, o crescimento demográfico explosivo não foi acompanhado por expansão proporcional da produção de alimentos. A produção agrícola per capita é, atualmente, inferior à registrada em 1970. A conseqüência consiste no aumento da dependência das importações de alimentos.
Entre as economias baseadas nas exportações primárias, algumas têm que importar um terço ou mais dos alimentos que consomem: Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, República Democrática do Congo, Malaui.
Mas os preços internacionais das matérias-primas e gêneros tropicais vêm se reduzindo, década após década, de modo que a renda obtida com as exportações não acompanha as necessidades crescentes de importação de alimentos.
A pobreza está disseminada por toda a África. Mas os extremos de miséria que se manifestam, periodicamente, em devastadoras crises de fome concentram-se no Sahel (Mali, Chade, Níger e Burkina-Fasso), no Chifre da África (Etiópia, Somália e Eritréia) e na África Oriental (Burundi, Ruanda e Tanzânia). O grupo de países nos quais o PIB per capita é inferior a mil dólares abrange ainda Serra Leoa, República Democrática do Congo, Nigéria, Moçambique, Malaui, Zâmbia e Madagascar. Com poucas exceções, são países nos quais o setor expor tador é quase insignificante, representando menos de 5% do PIB.
Uma das características mais importantes desses países é o fraco grau de integração entre as suas economias e os fluxos internacionais de mercadorias. As antigas estruturas produtivas, baseadas na subsistência e nas trocas em mercados puramente locais, não foram profundamente transformadas pela modernização. Mas elas sofreram o impacto da aceleração do crescimento demográfico e revelaram-se incapazes de sustentar populações muitas vezes maiores que as existentes na primeira metade do século. Quando desastres naturais como secas prolongadas ou inundações combinam-se com a violência política interna, o frágil equilíbrio da miséria é rompido.
Terror
As imagens terríveis dessas catástrofes humanas, difundidas pela mídia, foram associadas à África como um todo. Mas, efetivamente, as catástrofes da fome atingem o grupo de países miseráveis, isolados da economia mundial, cujos aparelhos de Estado não passam de frágeis instrumentos do poder de uma diminuta elite étnica.
A economia contemporânea depende da existência de instituições políticas que controlam a aplicação das leis, fazem valer os contratos e criam, assim, a confiança necessária para os investimentos produtivos e a expansão do comércio.
Depende também da existência de infra-estruturas energéticas, redes de transportes e comunicações, além das garantias mínimas para a circulação, em segurança, de mercadorias e pessoas. Tudo isso requer Estados nacionais modernos, capazes de administrar o território através de uma burocracia razoavelmente eficiente e de forças militares e policiais organizadas e subordinadas às instituições políticas.
A fraqueza dos Estados é a outra característica que define o grupo de países miseráveis da África Subsaariana. Em muitos deles, o poder central resume-se a uma elite étnica que utiliza o aparelho de Estado como fonte de extração de renda para seus círculos clânicos. O governo não é capaz de tributar o conjunto da sociedade e, em certos casos, sequer controla de fato vastas regiões do território.
Conflitos entre clãs geram insegurança e instabilidade permanentes, impedindo a unificação do mercado interno.
A miséria africana não pode ser resolvida na esfera da economia. No passado, logo depois das independências, as experiências econômicas dos regimes autoritários do chamado “socialismo africano” fracassaram em promover a modernização e o desenvolvimento. Na década de 90, após o fim da Guerra Fria, o “liberalismo africano” suscitou novas esperanças, que já se dissiparam em ciclos de guerras clânicas e étnicas. Nem um nem o outro experimentaram erguer verdadeiros Estados nacionais, alicerçados em instituições políticas legítimas e democráticas.
Boletim Mundo Ano 8 n° 3
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