sábado, 5 de março de 2011

Diário de Viagem- CINGAPURA: LABIRINTO CULTURAL E ILHA ARTIFICIAL

Gilson Schwartz
Chineses, hindus, japoneses, ingleses e... brasileiros! Cingapura é um labirinto cultural, uma espécie de miniatura da globalização (ia quase dizendo “civilização”, mas aí já seria um tremendo exagero). Programa oficial do governo: transformar a cidade- Estado em “ilha inteligente”. Melhor seria chamar aquele pedaço de terra, antiga propriedade da Malásia, de ilha artificial. Toda a água é importada!
Trata-se de uma ilha de 639 km2 com população de 3,4 milhões, Índice de Desenvolvimento Humano de 0,888 (o índice do Brasil é 0,739) e PIB de US$ 93 bilhões. A taxa de crescimento econômico foi, em média, de 8,7% ao ano entre 1990 e 1996. A crise asiática afetou a ilha, mas já no ano passado a recuperação começava com força.
O investimento representava em 1998 nada menos que 35% do PIB (o Brasil, há 30 anos, não sai da casa dos 20% do PIB), com 70% dos empregos gerados no setor de serviços. A poupança doméstica é de mais de 50% do PIB. Não é portanto casual que a cidade- Estado seja considerada uma das mais competitivas do mundo.
Elo de ligação
Cingapura é o exemplo mais acabado de plataforma exportadora baseada em sistemas de intermediação.
Na prática, faz reexportação, funcionando como elo entre as economias da Ásia e mantendo relações bastante especiais com a China, já que a elite dominante em Cingapura é constituída por chineses étnicos. O governo é uma ditadura adocicada pelo sucesso econômico. Estado forte, que dirige uma série de programas, além do relativo à tecnologia da informação. Seu objetivo é fazer da ilha um centro de indústrias e setores definidos pela alta intensidade de conhecimento.
Em seu formato mais recente, Cingapura foi fundada como nação independente e soberana em agosto de 1965, quando se separou da Malásia. Em 1967, a Grã-Bretanha decidiu retirar suas tropas da ilha. As restrições ao país ocorrem em função do sistema político: o poder está concentrado, há cerca de 30 anos, nas mãos de Lee Kuan Yew.
O sucesso econômico é tão grande que a oposição obviamente tem dificuldades até mesmo para definir uma agenda política e social alternativa.
Sistemas locais, clusters, pólos, hubs, mega cidades e cidades-Estado, projetos de integração regional, sistemas orientados por diásporas (como o chinês): sem muito estardalhaço, surgiram inúmeros modelos alternativos de desenvolvimento econômico numa época definida, paradoxalmente, como de globalização. Ou seja, de suposta convergência mundial rumo a um modelo integrado e homogêneo.
O global e o local
Cingapura é um dos mais notáveis exemplos de sucesso. De um lado, integração máxima aos circuitos globalizados. Ao mesmo tempo, reafirmação de um espaço local, com políticas diferenciadas e um enorme apetite por inovação tecnológica e criatividade institucional. A “inteligência” é vista como uma vantagem competitiva para atrair investimento estrangeiro.
Afinal, o que impede uma empresa multinacional de instalar o centro de operações de sua rede numa ilha com infra-estrutura de alta qualidade, segurança e mão-de-obra qualificada? O governo de Cingapura quer levar a idéia de hub (centro de conexão), que já funciona com relação à sua infra-estrutura portuária, para a dimensão virtual das tecnologias da informação.
É como se em Cingapura estivesse em curso uma tentativa de recriar a geografia a partir das novas tecnologias.
É uma ilha intensiva em tecnologia da informação.
É uma nova geopolítica econômica, capaz de combinar o estado das artes em globalização e uma sabedoria milenar na arte de interpretar o desconhecido.
Boletim Mundo Ano 8 n° 4

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