sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Amazônia: inferno verde, paraíso em chamas

Foi anunciada recentemente a situação do desmatamento da Amazônia.
Segundo o governo, em 1995 haviam sido desmatados cerca de 29 mil km2, área que diminuiu para 18 mil km2 no ano seguinte. Em 1997, as estimativas apontam para a cifra de 13 mil km2.
Os números do desmatamento podem ser analisados de duas formas.
Uma delas, que aliás foi ressaltada pelo governo, mostra a diminuição de ritmo do fenômeno. Comparando-se os dados de 1995 com os de 1997, constata-se a redução de mais de 50% no total das áreas desflorestadas.
A outra forma, relacionando esse conjunto de dados aos anteriores, mostra uma realidade diferente. Nunca tantas árvores foram abatidas ou queimadas na Amazônia brasileira como em 1995, ano que detém o recorde histórico do fenômeno . Se somarmos a área desmatada em 1995 e 1996, teremos uma superfície de pouco mais de 47 mil km2, superior à área da Suíça ou do Espírito Santo.
Desde os anos 70, o desflorestamento tem se tornado mais intenso em toda a Amazônia Legal. Em 1978, o desmatamento atingia apenas 3,8% da área florestada da região. Hoje, a cifra é superior a 10%. Os estados mais afetados foram os do Pará (34%), Mato Grosso (23%) e Maranhão (19%). Esses três estados concentram cerca de três quartos de toda a destruição florestal. Se considerarmos que os menores índices são os do Amapá e Roraima, pode-se concluir que o desmatamento tem sido mais dramático nas porções orientais e meridionais da Amazônia. Essa concentração geográfica da destruição tem como explicação o processo de ocupação pelo qual a região vem passando nas últimas décadas.
Até os anos 60, o fenômeno do desmatamento era bem pouco expressivo, não só em função da pequena população radicada na região, mas também pelo tipo de atividades econômicas desenvolvidas especialmente o extrativismo vegetal (borracha, castanha), que causavam danos epidérmicos ao meio natural.
Nessa época praticamente só havia uma forma de penetração na região, representada pela navegação fluvial, o que também contribuía para a preservação das florestas.
A estratégia governamental de integração da Amazônia mudou esse panorama.
A transferência da capital federal para Brasília e a posterior construção de rodovias de integração, como a Belém-Brasília, estimularam a expansão das atividades primárias ao longo das estradas.
Em pouco mais de uma década, a população regional saltou de 100 mil para 2 milhões de pessoas.
A partir de 1968, e ao longo dos anos 70, novas rodovias - entre as quais a Cuiabá-Porto Velho, a Cuiabá-Santarém e a Transamazônica - passaram a ser construídas. A descoberta de novas jazidas minerais e o estímulo à colonização das terras disponíveis impulsionaram ainda mais a ocupação e o desmatamento.
A estratégia de integração nacional inverteu o eixo da colonização amazônica.
Da época colonial até meados do século XX, as correntes de povoamento moviam-se no sentido leste-oeste, através dos caminhos fluviais, estabelecendo núcleos nas várzeas dos rios. Nas últimas décadas, os fluxos migratórios movem-se no sentido sul-norte, através das rodovias que interligam o Centro-Sul à Amazônia. Rasgando a floresta, a colonização contemporânea exerce impacto inédito sobre o ambiente natural.
Boletim Mundo Ano 6 n° 1

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