quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O “pacífico” Atlântico Sul

No final de julho, foi realizada em Ushuaia, sul da Patagônia argentina, mais uma conferência de presidentes do Mercosul. Além dos quatro chefes de Estado, participaram os do Chile e da Bolívia, países com laços especiais com o Mercosul, e um convidado extraordinário: Nelson Mandela, presidente da África do Sul. Ali, o território do Mercosul foi declarado “zona de paz”. A declaração assume duplo compromisso  renegar o uso da força para resolver litígios e evitar a corrida armamentista regional. A presença de Mandela sugere que o conceito de zona de paz poderá vir a ser estendido ao cone sul do Atlântico e, talvez, mais amplamente, a todo o Atlântico Sul.
Localizado entre o Trópico de Câncer e a Antártida, o Atlântico Sul é atravessado, de norte a sul, por uma imensa cadeia submarina. Seus pontos mais elevados correspondem a ilhas oceânicas ao sul da linha do Equador (Santa Helena, Tristão da Cunha, Martim Vaz, Fernando de Noronha e Malvinas). Outro arco forma as ilhas do mar do Caribe (Grandes e Pequenas Antilhas).
A presença de inúmeras correntes marinhas, tanto frias (do Atlântico Sul e Benguela) como quentes (do Brasil, Sul-Equatorial e das Guianas), favoreceu a proliferação do fitoplâncton, propiciando o adensamento dos cardumes e a exploração da atividade pesqueira. Em vários pontos da plataforma continental, de ambos os lados do Atlântico Sul, foram localizadas expressivas jazidas de petróleo, como na Nigéria, no Gabão e no Brasil.
Em decorrência do tipo de colonização a que foram submetidos os países dos dois continentes e da retilinidade do litoral (especialmente o africano), a navegação de cabotagem é pouco desenvolvida.
Contudo, o Atlântico Sul é cruzado pela importante rota comercial do Cabo. Os navios que a utilizam são, principalmente, super petroleiros que, por seu calado, não podem transpor o Canal de Suez, necessitando contornar a África para escoar o petróleo extraído na área do Golfo Pérsico.
Entre a segunda metade da década de 70 e o final dos anos 80, a porção meridional do Atlântico Sul assumiu os contornos de uma zona de tensões. A geopolítica regional, naquele período, caracterizou-se por inúmeros focos de instabilidade. Em Angola, implantou-se um governo comunista, com apoio diplomático da União Soviética e proteção militar de tropas cubanas. Na Namíbia, sob controle da África do Sul, eclodia a luta pela independência. Na África do Sul, acirrava-se o combate ao apartheid.
No Cone Sul da América, imperavam ditaduras militares.
Temendo o aumento da influência soviética na região, a partir de Angola, Washington chegou a propor, sem sucesso, o estabelecimento de um pacto militar, abrangendo Brasil, Argentina, Uruguai e África do Sul. Na mesma época, Argentina e Chile quase foram à guerra pela posse de ilhas no canal de Beagle. Em 1982, explodiu a Guerra das Malvinas, entre argentinos e britânicos.
O fim da Guerra Fria e do regime marxista em Angola, a desintegração do apartheid e a implantação de regimes democráticos nos países do Cone Sul da América transformaram a paisagem geopolítica do Atlântico Sul. É nesse novo contexto que se encaixa a Declaração de Ushuaia.
Boletim Mundo Ano 6 n° 5

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