sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Diário de Viagem- MARROCOS, O ORIENTE TÃO PERTO DA EUROPA...

Sérgio Majeski
A viagem aérea da Espanha ao Marrocos é uma aula de geografia. É possível contemplar, ainda na Europa, as mesetas espanholas, os Pirineus, o litoral recortado do Mediterrâneo e o Estreito de Gibraltar. Já no Marrocos, o cenário do litoral  e da Cadeia do Atlas encantam.
O Marrocos é um país fascinante, tanto pelos seus aspectos físicos, quanto por sua cultura milenar. A economia assenta-se na produção de fosfato, na agricultura e no turismo. O rei Hassan II goza de prestígio interno e externo.
O regime proibiu todas as organizações fundamentalistas.
As mulheres ocupam postos mais elevados do que na maioria dos países islâmicos. Mesmo assim, provoquei espanto ao caminhar, em praça pública, abraçado a uma de minhas amigas.
Chegamos ao país no Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos. Entre as 6 e as e as 18 horas, não podem comer, beber, fumar ou fazer sexo. Às 6h, ecoam das mesquitas as primeiras orações (são cinco, diariamente). Às 18h, depois da última oração, é tempo de fazer tudo o que é proibido durante o dia.
Nossa visita começou em Casablanca, nome conhecido no mundo todo desde o mais clássico dos filmes, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. É a maior cidade do Marrocos e de todo o Magreb. É também a mais moderna e próspera: consome cerca de 30% da energia elétrica do país, abriga 60% das empresas, funciona como sede dos principais bancos e possui o maior porto. Os bairros pobres, com suas ruelas que são verdadeiros labirintos, contrastam com a modernidade das áreas centrais.
Fizemos de carro o percurso entre Casablanca e Rabat, a capital. Rabat exibe lindas praias, mesquitas de arquitetura arrojada, como a de Yacoub-El-Mansour, uma das maiores do mundo. Lá está também o mausoléu de fogo de Mohamed V, artífice da independência, em 1956, e o impressionante palácio real, residência do monarca e sede do governo desde 1912.
Em Marrakesh, uma das cidades imperiais, a caminho da Cadeia do Atlas, pudemos observar mais nitidamente os costumes e tradições dos árabes e berberes . A cidade divide-se em uma parte antiga, cercada por grande muralha, e uma parte nova com largas avenidas, edifícios e hotéis sofisticados. Como em várias outras cidades do país, os semáforos são escassos e, nos cruzamentos das áreas centrais, forma-se um confuso fluxo de automóveis, dromedários, bicicletas, charretes e pedestres.
Nada, nem as mesquitas e os palácios, é mais fantástico que o mercado. Imenso, um dia é pouco para conhecê-lo, passeando entre tecidos finos e exóticos, bichos e tripas de carneiro. Comprar alguma coisa é uma experiência curiosa. De nada adianta desistir de um produto por achar caro seu preço. O comerciante não te deixará em paz até que você negocie com ele, oferecendo um preço que, quase sempre, é o que será efetivamente pago.
Do lado de fora, encantadores de serpentes, músicos e dançarinos se esmeram para ganhar alguns trocados.
De Marrakesh, partimos para atravessar o Atlas, região habitada predominantemente por berberes, e chegar até o limite do Saara. Rodovias novas, mas muito estreitas, cortam a grande cadeia montanhosa e desvendam picos cobertos de neve e gelo. Nas encostas, escondem-se vilas de camponeses, construídas em barro, sem pintura, mimetizadas à cor da paisagem. No percurso, conhecemos algumas Casbah - antigas vilas fortificadas, que no passado funcionavam como espécies de feudos - habitadas por camponeses muito pobres. Segundo nosso guia, um filho de berberes, nas noites de inverno, os animais cabras, ovelhas, vacas  são abrigados nas casas, junto com as pessoas.
Ao sul das montanhas, chegamos, finalmente, à porta do Saara. A região, conhecida como Deserto de Dra, nos deixou sem palavras. Imersos no cenário fascinante de areia, dunas, sol e um vento abrasador, ficamos por longo tempo contemplando aquilo de que falamos tantas vezes, sem jamais ter realmente conhecido. O Marrocos é isso uma aula de campo de geografia e história, um passeio por um Oriente tão perto da Europa.
MAGREB É RETAGUARDA TURBULENTA DA UNIÃO EUROPÉIA
O Magreb compreende três Estados do noroeste africano Tunísia, Argélia e Marrocos  que abrigam, em conjunto, quase 70 milhões de habitantes.
São magrebinos os maiores contingentes de imigrantes extra-comunitários na União Européia. O combate ao ingresso desses imigrantes é a principal bandeira da Frente Nacional, agrupamento neo-fascista francês que controla cerca de 15% do eleitorado A região é atravessada pela Cadeia do Atlas, que marca a transição das terras férteis da orla do Mediterrâneo e do Atlântico para o deserto. Nove  décimos do território da Argélia faz parte do Saara. É junto ao litoral do Mediterrâneo que se encontram as principais cidades e as mais importantes atividades agrícolas. No deserto se encontram os campos de petróleo e gás natural da Argélia .
Nos três países, a população é, na sua vasta maioria, árabe-muçulmana. Contudo, a cultura magrebina resulta da depuração de múltiplas influências: fenícias, romanas, bizantinas, árabes, otomanas, européias. No século XIX, a colonização francesa introduziu os povos do Magreb na vasta área de influência da civilização ocidental. Sob o sistema de ensino centralizado da França, as crianças árabes e muçulmanas do norte africano aprendiam a história de seus “antepassados” francos...
A Tunísia, o menor e menos populoso dos Estados do Magreb, destaca-se como um dos países mais estáveis em todo o mundo árabe-muçulmano e um pólo de atração de turistas europeus. Mesmo lá, porém, crescem os movimentos fundamentalistas islâmicos.
O avanço do fundamentalismo destroçou o regime político nacionalista e terceiro-mundista instalado na Argélia desde o final da guerra de independência, em 1963.
O mais populoso e, potencialmente, mais rico país da região conhece, desde 1992, uma feroz guerra civil. Uma ditadura baseada nas forças armadas enfrenta os fundamentalistas do Grupo Islâmico Armado (GIA). A França, discreta e envergonhadamente, presta apoio diplomático e financeiro ao governo, pois teme a implantação de uma república islâmica no lado oposto do Mediterrâneo.
O Marrocos desfruta de uma posição geográfica privilegiada por ser o único país da região banhado simultaneamente pelo Mediterrâneo e pelo Atlântico. Desde a independência, em 1956, a monarquia marroquina desenvolve uma política externa bifronte. De um lado, conserva uma sólida aliança com a França e os Estados  Unidos. De outro, persegue a incorporação de territórios que reclama como parte do patrimônio histórico do país, invocando os tempos anteriores à partilha colonial da África. É nesse contexto que aparece a questão do Saara Ocidental.
O Saara Ocidental foi colônia espanhola até 1975. Logo após a retirada dos espanhóis, o território foi ocupado pelos marroquinos. Desde essa época, as tropas de ocupação têm sido fustigadas pelos guerrilheiros da Frente Polisário, que luta pela independência do território. Ao longo de três décadas, nas quais se alternaram fases de conflito aberto e latente, o empreendimento militar gerou um certo consenso no Marrocos. Sob a defesa da incorporação do Saara Ocidental e a bandeira do nacionalismo, aglutinaram-se as variadas forças políticas do país. É esse consenso que legitima a monarquia do rei Hassan II e bloqueia o desenvolvimento do fundamentalismo islâmico.
Boletim Mundo Ano 7 n° 1

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