quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

BRASIL É ANÃO NA GUERRA DE TITÃS DO COMÉRCIO MUNDIAL

 O Brasil é a oitava economia do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) que superou os US$ 800 bilhões no ano passado – embora vá cair, por conta da desvalorização do real. Também é um dos maiores destinos dos investimentos internacionais. Entre 1994 e 1996, os investimentos estrangeiros produtivos no Brasil somaram US$ 11,4 bilhões. Esses números não se refletem nas estatísticas sobre o comércio internacional .
O Brasil responde por apenas 0,95% das exportações mundiais, US$ 5,4 trilhões em 1998. As exportações do México (cujo PIB é a metade do brasileiro) foram 2,2 vezes maiores que as do Brasil.
As exportações de toda a América Latina estão perdendo terreno no cenário mundial: caíram de 5,39% em 1980 para 5,09% em 1997. Boa parte desse recuo deve-se aos maciços investimentos  nacionais e internacionais  que transformaram países como a China, a Tailândia, a Malásia e a Indonésia em gigantes da exportação.
O próprio México transformou-se em grande exportador devido às centenas de empresas americanas que se instalaram no país, para produzir mais barato  bens destinados ao consumidor dos Estados Unidos.
Mas, no caso brasileiro, a timidez das exportações também se explica pelo longo isolamento internacional do país. Só no início da década, no governo de Fernando Collor de Mello, é que vieram medidas facilitando as importações e a entrada de capital estrangeiro. A abertura veio de supetão. Despreparados para a concorrência com quem produz a preço mais baixo, setores inteiros da indústria brasileira, como o de autopeças, foram engolidos pelas transnacionais. O país também não demonstrou habilidade para aproveitar os mecanismos de restrição às importações admitidos pela Organização  Mundial do Comércio (OMC). Os Estados Unidos são campeões em adotar barreiras não-tarifárias, exigências sanitárias e de qualidade ultra-rigorosas, que limitam o ingresso de produtos provenientes de países subdesenvolvidos .Para o comércio exterior do Brasil, a globalização trouxe outra grande novidade: o Mercosul. Nos anos 80, os governos civis do Brasil e da Argentina, que sucederam ditaduras militares, decidiram patrocinar um acordo econômico, para pôr fim a décadas de atritos. Ao contrário de outras iniciativas de “união latino-americana”, como a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc), que nunca saíram do papel, o Mercosul funcionou. Principalmente porque as transnacionais instaladas na macrorregião – o setor automobilístico à frente – organizaram as suas estratégias em função do mercado ampliado do bloco, na expectativa de reduzir seus custos. Hoje, todo carro da Ford ou GM que circula pelos países do Mercosul tem peças produzidas no Brasil e na Argentina.
O Brasil, que em 1990 exportava poucas centenas de milhões de dólares para os países do Mercosul, destinou ao bloco US$ 9 bilhões em mercadorias em 1997, quase o mesmo que despachou para toda a União Européia.
E a Argentina tem no Mercosul seu principal parceiro econômico, para onde envia um valor quase cinco vezes maior do que para os Estados Unidos. O Chile e a Bolívia assinaram acordos de livre comércio com o Mercosul, enquanto os países andinos se preparam para seguir pelo mesmo caminho.
Sempre conviveram, no bloco, duas visões diferentes.
A estratégia do governo brasileiro consistia em ampliar o Mercosul, para então negociar em melhores condições com Washington a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A América Latina exporta, basicamente, produtos primários  só 3,2% dos produtos e serviços saem daqui pelas mãos de empresas de alta tecnologia.
E os preços dos produtos primários, agrícolas e minerais, vêm caindo no mercado internacional. Então, se as negociações de integração não forem bem feitas...
Já o governo da Argentina – economia muito mais aberta ao capital estrangeiro do que o Brasil  sempre viu o Mercosul como ferramenta para facilitar a integração ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). O presidente argentino Carlos Menem chegou a dizer que seu país quer “relações carnais” com os Estados Unidos. Para mostrar sua sinceridade, pediu o ingresso da .
Argentina na Otan. O pedido foi recusado, no começo de agosto, pelo implacável fato geográfico de que seu país não faz parte do Atlântico norte.
Esse debate foi atropelado pela crise financeira internacional do final de 1998 e pela desvalorização do real em 40%, no início deste ano. Washington, que tentou apressar a criação da Alca, está cauteloso. Teme que a redução geral de tarifas, num ambiente de valorização do dólar, injete nas veias da economia americana um fluxo incontrolável de produtos baratos da América Latina.
O Mercosul também tremeu nas bases, por conta da crise.
Com o real despencando, tornou-se interessante para os empresários argentinos importar produtos brasileiros, enquanto as exportações para cá tornaram-se mais difíceis.
Na Argentina, empresários e governo responsabilizam o Brasil pela sua recessão. E o governo vizinho tenta impor sobretaxas, por exemplo, ao aço laminado brasileiro.
O ambiente de recessão, no Brasil e na Argentina, provocou queda abrupta do comércio no bloco e paralisou politicamente o Mercosul. Mas as empresas instaladas no Brasil, com preços e custos em reais, também tornaram-se mais baratas e mais atraentes ao investidor estrangeiro.
É por isso que, nos últimos meses, o governo brasileiro passou a incentivar a fusão de grandes empresas nacionais, como forma de resistir ao assédio dos titãs da economia mundial. Uniram-se Brahma e Antarctica, que juntas controlam 80% do mercado brasileiro de cervejas.
Também há pressões para fusões no setor da aviação civil, a fim de transformar Varig, TAM, Transbrasil e Vasp em, no máximo, duas empresas. E o Brasil vem se mostrando mais agressivo nas discussões dentro da OMC. A diplomacia desempenhou papel importante, por exemplo, ao limitar as sanções da OMC à indústria aeronáutica Embraer, acusada pela concorrente canadense Bombardier de se beneficiar de subsídios irregulares. São ensaios, para que o país não perca de vez o bonde (ou melhor, o foguete) que conduz ao novo milênio globalizado.
Boletim Mundo Ano 7 n° 5

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