10 de abril de 1998, Sexta- feira Santa: após 21 meses de intensas negociações, os principais líderes católicos e protestantes da Irlanda do Norte concluem um histórico acordo de paz, de 68 páginas, criando as condições políticas para encerrar a guerra civil que, ao longo de três décadas, causou a morte de pelo menos 3.200 pessoas. 12 de julho: bombas supostamente colocadas por terroristas protestantes matam os irmãos Quinn, católicos: Richard, 10 anos, Mark, 9, e Jason, 7. Filhos de mãe católica e pai protestante, eles viviam na região protestante de Ballymoney, 65 quilômetros a noroeste de Belfast, a capital. Entre a paz e o terror, a Irlanda do Norte viveu três meses de intensa agitação, um período que, de certa forma, sintetiza a o drama do 1,6 milhão de habitantes dessa infeliz província britânica. A mola-mestra do acordo de paz foi a concessão, garantida por Londres, de uma autonomia política limitada à Irlanda do Norte (desde 1972, o governo da província era exercido diretamente por Londres), além de criar novas instituições destinadas a dar maior poder e visibilidade aos católicos. Assim, o país continua pertencendo à Grã-Bretanha (exigência dos “unionistas” da maioria protestante), mas amplia a participação dos republicanos separatistas da minoria católica. A nova estrutura política da província tem por base uma Assembléia Nacional de 108 cadeiras, instituída pelo acordo, cuja primeira eleição foi realizada em 25 de junho. A Irlanda do Norte passa, também, a contar com programas de cooperação com a República da Irlanda (de maioria católica) em agricultura, turismo e outras áreas.
O acordo, submetido a um plebiscito em 22 de maio, obteve a aprovação da esmagadora maioria dos 750 mil votantes. Mais significativo ainda, em 25 de junho venceu uma maioria parlamentar favorável ao acordo. Os moderados David Trimble, líder do Partido Unionista do Ulster (protestante, 28 cadeiras) e John Hume, do Partido Social Democrático e do Trabalho (católico, 24 cadeiras), compõem, juntos - e ainda contando com aliados menores, um “centro” imbatível. A ala mais radical contra o acordo, o Partido Democrático Unionista, liderada pelo reverendo protestante Ian Paisley, obteve 20 cadeiras.
No outro lado, o Sinn Fein de Gerry Adams, braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA, separatista), que acolheu o acordo “com reservas”, elegeu 18 representantes. O mero fato de estes dois grupos terem concorrido, aliás, já é por si só bastante significativo.
Mas como explicar, então, o assassinato dos jovens irmãos Quinn ? O atentado aconteceu em meio a uma nova série de conflitos, dessa vez provocados pelo fato de que os protestantes da seita de Orange queriam comemorar o 12 de julho - sua data nacional mais importante - fazendo marchas que teriam que percorrer bairros católicos. A data lembra a derrota do rei católico James II pelo protestante William de Orange, na Batalha de Boyne, em 1690. Muitos católicos reagiram com raiva àquilo que consideraram uma “provocação”.
Foi o que bastou para que os radicais de plantão colocassem as mãos à obra.
Os líderes da seita de Orange, como o pastor William Bingham, condenaram os atentados, e os católicos pediram calma.
A comemoração protestante foi realizada, sob vigilância de soldados, mas sem maiores incidentes. O acordo de paz passou, assim, pelo seu primeiro teste importante após a criação da Assembléia Nacional. Mas, em se tratando da Irlanda do Norte, nada está garantido.
Boletim Mundo Ano 6 n° 4
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